Mark Rothko, Untitled, 1959

Oil on paper, mounted on masonite, 95,8 x 62,8 cm

Private collection

 

 

 

 
 
 

 

 

 

"A impossibilidade de participar de todas as combinações em desenvolvimento a qualquer instante numa grande cidade tem sido uma das dores de minha vida. Sofro como se sentisse em mim, como se houvesse em mim uma capacidade desmesurada de agir. Entretanto, na parte da ação que a vida me reserva, muitas vezes me abstenho e outras me confundo. [...] A idéia de que diariamente, a cada hora, a cada minuto e em cada lugar se realizam milhares de ações que me teriam profundamente interessado, de que certamente deveria tomar conhecimento e que entretanto jamais me serão comunicadas — basta para tirar o sabor a todas as perspectivas de ação que encontro à minha frente. O pouco que eu pudesse obter não compensaria jamais esse infinito perdido. Nem me consola o pensamento de que, entrando na confrontação simultânea de tantos acontecimentos, eu não pudesse sequer registrá-los, quanto mais dirigi-los à minha maneira ou mesmo tomar de cada um o aspecto singular, o tom e o desenho próprio, uma porção, mínima que fosse, de sua peculiar substância". (Carlos Drummond de Andrade, 1944) 

 

 

Mark Rothko Nº 207 (Red over Dark Blue on Dark Gray), 1961

Oil on canvas, 235,6 x 206,1 cm. University of California, Berkeley Art Museum, USA

Gift of the artist

 

 

"A história da arte só pode basear-se na mais elevada e completa concepção da arte. O progresso cronológico e psicológico da humanidade na arte somente pode ser exibido mediante o contato com os mais perfeitos objetos que o homem tem sido capaz de produzir. A arte foi de início uma atividade limitada, ocupada com a seca e magra imitação tanto do significante como do insignificante. Desenvolveu-se, então, uma sensibilidade mais delicada e atraente pela natureza, e, finalmente, conhecimento, regularidade, força e seriedade foram acrescentados de tal modo que, favorecida pelas circunstâncias, a arte elevou-se às alturas, até que afinal se tornou possível para o gênio afortunado, munido de tudo isso, produzir o encantador e o perfeito. Infelizmente, porém, as obras de arte que proclamam tal facilidade, que dão aos homens um sentimento tão reconfortante, que os inspiram com liberdade e serenidade, sugerem ao artista que deseja emulá-las que elas foram criadas com igual facilidade. A mais alta realização da arte e do gênio é uma aparência de facilidade e leveza, e o imitador sente-se tentado a facilitar as coisas para si mesmo e trabalhar apenas nessa aparência superficial. Assim a arte gradualmente declina de sua condição elevada, tanto no todo como nos detalhes". (Goethe, 1798)

 

 

Mark Rothko, Untitled, 1968

Oil on paper on canvas, 61 x 45,7 cm

Aaron I. Fleischman

 

 

"Agora me digam: pode um homem que odeia a si próprio amar alguém? Pode ele estar em harmonia com alguém se está internamente cindido, ou dar prazer a alguém se é apenas um peso detestável para si mesmo? Ninguém, suponho, dirá que pode, a não ser que seja mais louco ainda que a Loucura. Pois bem, remova-me [a Loucura], e ninguém mais conseguirá suportar seu semelhante; cada um passará a feder em suas próprias narinas e a considerar tudo a seu próprio respeito fétido e repulsivo. [...] O que existe de mais tolo que a auto-satisfação e a auto-admiração? Mas como agir com graça, brilho e encanto se não se está satisfeito consigo mesmo? Retire esse sal da vida, e imediatamente o orador se tornará maçante, o músico produzirá tédio com sua melodia, o desempenho do ator será vaiado, o poeta e as musas serão objeto de riso, o pintor e suas obras perderão valor, e o médico passará fome com seus remédios". (Erasmo de Rotterdam, 1511)

 

 

Mark Rothko, Untitled, 1968

Oil on paper on canvas, 61 x 45,7 cm

Aaron I. Fleischman

 

 

"De fato, entre a poesia e a verdade existe uma natural oposição: falsa moral e natureza fictícia. O poeta sempre necessita de algo falso. Quando ele pretende fincar seus fundamentos na verdade, o ornamento de sua superestrutura é feito de ficções; sua ação consiste em estimular nossas paixões e excitar nossos preconceitos. A verdade, a exatidão de todo tipo, é fatal à poesia. O poeta tem de olhar tudo através de meios coloridos e se esforça em levar cada pessoa a fazer o mesmo. Existem espíritos nobres, é verdade, com os quais a poesia e a filosofia estão igualmente em dívida, mas essas exceções não contrabalançam os danos resultantes dessa arte mágica". (Bentham, 1811)

 

 

Mark Rothko, Untitled, 1969

Acrylic on paper, mounted on canvas, 193 x 122 cm

 

 

"Não apenas Harold Rosenberg (1906-1978) e Clement Greenberg (1909-1994), mas também a maioria dos críticos contemporâneos considera Mark Rothko (1903-1970) um dos maiores expoentes do expressionismo abstrato, após Wassily Kandinsky (1866-1944). Ao lado de Willem de Kooning (1904-1997), Clyfford Still (1904-1980), Ashile Gorky (1905-1948), Barnett Newman (1905-1970), Jackson Pollock (1912-1956), Franz Kline (1910-1962), David Smith (1906-1965), entre outros, Rothko concebia as artes plásticas como o caminho da redenção e fonte para a progressiva evolução das emoções e sensações humanas. Leitor atento de Nietzche, observa o senso e a exigência estética da própria experiência sentida, direta, não racionalizada, em todo o seu esplendor prolongado, encanto, envolvimento e arrebatamento. Ao longo da sua carreira, explorou a cor e a textura — através de vibrantes estímulos visuais, táteis e espirituais — na admirável forma de retângulos multiformes. Utilizou um número limitado de espectro de cores em seus painéis e revalorizou, nas artes plásticas, esta figura geométrica. Restabelecendo a comoção e a perturbação necessárias, de acordo com Rothko, ao expressar na vertical e horizontal a subjetividade indissociável, para evocar o espiritual e a contemplação máxima contra os excessos da sociedade de consumo americana. Proclamando a liberdade como o símbolo perdido na era da alienação em seus fluxos comerciais e contextos redutores. Redimensionando um novo atributo para a 'cor absoluta' em seus contrastes e presenças com outros pigmentos diferentes. Variações cromáticas. Auras em oposição ao realismo. Janelas para as almas. Recortando e aproximando/desaproximando o fundo da forma, privilegiando a resolução da aparente pureza de tons indecisos e o vigor através do metamerismo. Uma nova abstração, soberana, exuberante e celestial frente a frente com as citações, interrogações e inconformidades do ser humano: terreno e suas linhas de experiências de vidas dramáticas, sombrias e carentes de transcendências. Para fugir do rótulo de colorista, pois é influenciado pela pintura do fauvista Henri Matisse, e abstrato — sempre rejeitou tal classificação —, Rothko chegou a afirmar aos críticos: 'Que fique bem claro. Não sou um abstracionista... Não estou interessado na relação da cor com a forma ou com qualquer outra coisa. Estou interessado apenas em expressar as emoções humanas básicas — tragédia, êxtase, ruína e assim por diante. E o fato de muita gente se ir abaixo e chorar quando você se vê confrontado com os meus quadros mostra que consigo comunicar emoções humanas básicas... As pessoas que choram perante as minhas pinturas estão a ter a mesma experiência religiosa que eu tive quando as pintei. E se você, como diz, se emociona apenas com as relações de cores não entendeu'. A cor-vida é a história pessoal, experiência e expressão do sublime. Nos dizeres de Clement Greenberg, o artista inventa uma nova forma de pintar: 'a pintura do campo de cor'. Entretanto, foi necessário muito trabalho, pintar/repintar, amadurecer, tornar mais elástica a linguagem, tema recorrente na filosofia de Ludwig Wittgenstein (1889-1951), e fazer a distinção entre o necessário e o contingente sensorial. A partir da sua elaboração estética/intimista do essencial/contingente nas artes plásticas, Rothko (numa postura semelhante a Barnett Newmann e Clyfford Still) demarca o seu território, radicalmente contrário ao método adotado por Jackson Pollock, a 'action painting'. Uma outra articulação estética essencial nos seus trabalhos: priorizar uma outra pessoa, o espectador. Como observa Rothko em 1947: 'Um quadro vive de companheirismo, expandindo-se ou reduzindo-se aos olhos do observador sensível', para dar sentido à sublimação compartilhada. Comunhão intuitiva, epifanias pulsantes, resplandecentes em tons intensos, para reluzir a primeira pessoa — o artista —, seu conhecimento e o mundo imaginativo que o contém. No seu legado, o contraste, combinações e luminosidades cromáticas influenciou e ainda influencia de modo perceptível a evolução do design na atualidade". (José Aloise Bahia, 2009)

 

 

Mark Rothko, Untitled (Black on Gray), 1969/1970

Acrylic on canvas, 203,8 x 175,6 cm. New York, USA, Solomon R. Guggenheim Museum

Gift of Mark Rothko Foundation, Inc., 1986

 

 

Mark Rothko, cujo nome de batismo era Marcus Rothkovitz, nasceu no dia 25 de setembro de 1903, em Dvinsk, Rússia, hoje cidade de Daugavpils, Letônia, situada às margens do rio Daugava (Divina Ocidental). Descendente de judeus, em 1913 emigra com a família para Portland, Oregon, Estados Unidos da América. Após a morte do pai (1914), freqüenta a Universidade de Yale, EUA. Posteriormente, tem aulas de anatomia com George Brodgeman na Art Students League (ASL), Nova Iorque, EUA. Em 1925 pinta suas primeiras telas no estilo expressionista. Em 1932, casa-se com Edith Sachar. Realiza em 1933 sua primeira exposição solo no Portland Museum of Art, EUA. Trabalha em 1936 no departamento de pintura da WPA em Nova Iorque, EUA, e torna-se cidadão norte-americano (1938), passando a assinar Mark Rothko. Até 1946 realiza trabalhos abstratos e surrealistas em guache, aquarela e têmpera, e divorcia-se de Edith Sachar. Casa-se novamente (1945) com Mary Alice "Mell" Beistler e pinta seu último trabalho surrealista (1946). 1947 é um ano importante, pois retorna a pintar formas abstratas, porém multiformes, que incluem configurações retangulares e realiza a primeira exposição solo na Galeria Betty Parsons, Nova Iorque, EUA. Dá aulas e conferências sobre arte contemporânea (1949) na California School of Fine Arts, São Francisco, EUA, e começa a intitular seus quadros somente com números e anos. Viagem à Europa (1950). Torna-se professor (1951) de desenho no Brooklyn College, Nova Iorque, EUA. Expõe (1952) no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, EUA e no Art Institute de Chicago, EUA (1954). Em 1957, reduz a sua paleta para tonalidades mais escuras e recebe o convite de artista residente da Universidade Tullane, Nova Orleans, EUA. Assina contrato para pintar murais para o Seagram's Building, Nova Iorque, EUA (1954). Outra viagem para a Europa (1959). Contratado pela Universidade de Harvard, Cambridge, EUA, para decorar uma sala de jantar no Holyoke Center com murais (1961). Em 1965, nove dos murais da Seagram são instalados permanentemente na Tate Gallery, Nova Iorque, EUA. Realiza a terceira e última viagem à Europa (1966) e dá aulas na Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA (1967). Em 1968, começa a catalogar seus trabalhos e sofre um aneurisma. Separa-se em 1969 de Mell e recebe o doutoramento honoris causa pela Universidade de Yale, New Haven, EUA. Suicida-se em 25 de fevereiro de 1970. Em 1971, é consagrada a Capela Rothko em Houston, EUA. Em novembro de 1999, uma de suas telas datada de 1952 foi comercializada por 10,2 milhões de euros.

 

 

 

março, 2009