robert smithson | spiral jetty | 1970 | rozel point | great salt lake | utah | usa

 
 
 
 
 

  

Ainda na ciranda das vanguardas da década de 1960, eis que surge a land art (também conhecida por earth art e/ou earthworks), que abandona as galerias, ateliês, museus, tudo aquilo enjaulado entre quatro ou demais paredes e vai para o exterior. Os artistas apoderam-se do espaço aberto para transformá-lo. Interessante que se deslocou/movimentou também para fora da cidade, ao contrário da pop art, assumindo um importante papel no mundo das artes sobre as reflexões da ecologia e a preservação do meio ambiente. Um determinado comprometimento artístico do homem com todo o processo civilizatório. 

Em 1970, Robert Smithson construiu numa região industrial abandonada no Grande Lago Salgado, Utah, EUA, a gigantesca Spirral Jetty (Quebra-mar em espiral). O pier como o local da arte. Inventando uma nova paisagem. Desaparecida em 1972. Com uma largura de cinco metros, comprimento de quinhentos, o redemoinho/estrada artificial feito(a) de pedras de basalto, barro e sal cristalizado, que se projeta nas águas avermelhadas devido à presença das algas e resíduos químicos, revela um signo e figura matemática importantes. Essa linguagem geométrica, com suas imensas esculturas surgidas do solo, revela também diálogos com o minimalismo.

Smithson transformou uma área industrial sem nenhuma utilidade — era um local de prospecção petrolífera. Esse fato é importante na própria concepção/conceituação da obra. Pois a princípio, a espiral remete a uma curva de caracol, a uma galáxia espiral, a uma espiral inflacionária nas ciências econômicas, a uma espiral de cascavel pronta para o bote ou, ainda, a um processo degenerativo, pois a espiral pode ser considerada também uma degeneração de um círculo na bidimensional, ou até mesmo aos movimentos em espiral das brocas para extrair petróleo do local, etc. Era uma área destruída, desativada, que ele recuperou, transformando-a numa obra de arte. Fez uma espécie de regeneração, "revitalizando" o local. Dando um outro senso, intervindo na natureza, sabendo de antemão sobre a efemeridade da obra.

O registro fotográfico e filmes foram os recursos empregados para torná-la visível para outras gerações. Observem que neste momento estamos lidando com um tipo de arte híbrida, pois o que temos hoje são as impressões visuais de uma obra feita e desaparecida pelo aumento do nível da água. Ou seja, a Quebra-mar em Espiral de Smithson foi projetada para que numa etapa final ocorresse um outro tipo de intervenção artística, o seu registro em imagens.

Trata-se de um enfoque conceitual que, muitas vezes, só pode ser conhecido por meio da documentação, especialmente a fotografia e filme, outro deslocamento físico/químico, mesmo que esforços estejam sendo feitos para preservar determinadas artes em seus locais permanentemente.

O gesto de Smithson, ao incorporar o espaço aberto às suas obras, abre também uma brecha para que os espectadores possam ter um contato direto, olhar, passear, andar, caminhar e entrar dentro delas. Eis outro contexto admirável e original, pois a ação cria uma reação impregnada pela presença. Presença do outro. Tudo agora é relativo e absoluto ao mesmo tempo. Vários olhares de dentro. Vários olhares de fora. Várias presenças. Movimento e interatividade. Novas experiências visuais e sensoriais.

A obra de arte abre-se como uma imensa casa natural embalando a cena pessoal, comunitária, etc. e mobiliza as pessoas para um senso maior, a questão da natureza, da ecologia, em detrimento do consumismo e da crescente sociedade industrial. Pode-se pensar, não tem como escapar dessa condição, também nesse outro deslocamento do sentido, nas manifestações da land art como denúncias de maltrato da natureza, revelando certo tipo de engajamento às propostas que algumas ONGs apresentam na contemporaneidade. Uma outra discussão bem interessante. Pertinente. Quem sabe mais um take off para questionar a real e verdadeira necessidade de uma nova forma de Humanismo.

 

 

 

 

dezembro, 2009

 

 

 

 

 

José Aloise Bahia (Belo Horizonte/MG). Jornalista, escritor, pesquisador, ensaísta e colecionador de artes plásticas. Estudou Economia (UFMG). Graduado em Comunicação Social e pós-graduado em Jornalismo Contemporâneo (UNI-BH).  Autor de Pavios curtos (Belo Horizonte: Anomelivros,  2004). Participa da antologia O achamento de Portugal (Lisboa: Fundação Camões/Belo Horizonte: Anomelivros, 2005), dos livros Pequenos milagres e outras histórias (Belo Horizonte: Editoras Autêntica e PUC-Minas, 2007), Folhas verdes (Belo Horizonte: Edições A Tela e o Texto, FALE/UFMG, 2008) e Poemas que latem ao coração! (São Paulo: Editora Nova Alexandria, 2009).
 
Mais José Aloise Bahia em Germina