Não,
Isolda! Você
está ficando psicótica de pensar só em sexo. A gente, depois
que passa a ter conta conjunta, ver juntos o domingão
do Faustão (adoro as videocassetadas),
frequentar enterro de amigos dos tempos de escola, medir colesterol,
chamar Copacabana de Princesinha do Mar, fodeu!
Agarrão
inesperado? Só para impedir que se caia da escada.
Não,
Isolda! Bota um "n"
na palavra tesão. É tensão. Com o cartão de crédito, com aquela maldita
dor no joelho, com a faxineira que pode nos colocar na justiça do
trabalho, com o menino do andar de cima que gosta de rock e odeia sesta
depois do almoço. A sesta é uma coisa cultural. Em Madri, entre outras
capitais europeias, muitas lojas fecham pros donos dormirem. Aqui em
casa, ficamos cultos depois dos cinquenta. Nós fechamos a cortina depois
do almoço e dormimos pra
cacete.
Relação afetiva na UTI? Qual nada,
Isolda. A gente continua se dando superbem!
Temos casa própria, dinheiro na poupança, filhos bem-sucedidos, útero e
próstata sem problemas e nos lixamos se parecemos um casal de
peixe-boi.
A
mulher é peixe-vaca? Are baba, vaca é sagrada! Engordamos demais nos últimos
anos e aquela pochete adquirida no fim da barriga só sai com lipo, mas o
risco não vale a pena! Se a gente ainda fosse pagar o mico de dançar a
Dança dos Famosos, podíamos até pensar, mas nem famosos somos e, por bem
menos, nós dançamos.
Avenca
precisa de sexo pra viver? Responde, anda, responde rápido! Ah! Ficou
muda, né?
Tem mais é que ficar mesmo. Maior falatório pro meu lado, mas a sua
história de paixão com Tristão é lenda. Queria ver esse amor todo render
centenas de anos se o mito da beleza fosse a Bündchen
e não a Gioconda, com aquele risinho falso de quem não sabe o que é
um orgasmo!
Permita-me ficar com a felicidade
do biscoito de polvilho. Não mata a fome, mas engana benzão. Dá pra esperar até o
almoço e depois dele vem a sesta, a sopa, O Caminho das
Índias...
