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Nea de Castro

 

            A fragmentação é estratégica, prioritária na lírica hesitante da atualidade. Na cena brasileira, o código poético, que se afirma em poetas como Cláudia Roquete-Pinto, Rodrigo Garcia Lopes, Arnaldo Antunes e outros, procura recolher as dispersões, lacunas, interstícios, interconexões, que vêm caracterizando a Era das Reciclagens, mesmo num país periférico como o Brasil. No horizonte crítico, ainda relativamente impreciso, a poética da hesitação elabora perfis e ritmos para a ausência de fixidez do sentido, em meio às tensões entre globalização e localismos.

         Uma imagem da contemporaneidade é sugerida — ou apenas pressentida — por Jean-François Lyotard nesta reflexão sobre o pensamento do filósofo e sinólogo François Jullien: um "longo percurso oblíquo entre terrenos incertos". Nesse contexto, um grupo de autores vem constituindo uma poética da hesitação, que tem como estratégia prioritária trazer para o primeiro plano a fragmentação do dizer e dos sentidos. Fragmentos do corpo, do desejo, decompõem a cena primitiva, bíblica, da sexualidade e, simultaneamente, atualizam-se em No Éden, de Cláudia Roquete-Pinto. Pela estratégia da fragmentação, deslizam para a cena a memória da infância, outras identidades, e o peso das coisas.

         Ao recorrerem à fragmentação, os poetas o fazem para assimilar e modificar legados do passado, além de procurarem responder a desafios de seu tempo. Dialogam com a herança da fragmentação modernista que, por sua vez, reelaborava os primórdios das experiências fragmentárias na obra e na teoria romântica. Hugo Friedrich, que inclui a fragmentação entre as características negativas usadas não para depreciar mas para definir a lírica moderna, capta nessa poesia uma finalidade obscura, a de indicar "uma transcendência em dissonâncias e em fragmentos, cuja harmonia e totalidade ninguém mais pode perceber". Se mesmo o desejo romântico pela unidade permaneceu sempre fragmentário, como mostra o jovem George Lukács em seu ensaio sobre Novalis, nos poetas modernista o sentimento de dispersão se eleva a horizonte existencial, qual em "Vontade de dormir", de Mário de Sá-Carneiro.

         Os autores modernos, conforme demonstra Raymond Williams através de Eliot, James Joyce e outros, tornaram-se responsáveis pela criação de uma imagística típica da consciência urbana, com repercussões decisivas sobre a própria escrita das narrativas e poemas. Para Williams, Joyce é a realização mais acabada dos novos modos de percepção e identidade, alterados no espaço das cidades modernas. A originalidade de Joyce, seu modo de ver "fragmentado, promíscuo, isolado", concretiza-se em uma "nova estrutura da linguagem".

         A exposição sobre as relações entre modernismo e fragmentação precisa conter ainda um outro elemento, de natureza formal, que desnuda o esforço dos líricos modernos em estabelecer elos entre o presente, o novo, a tradição, simultâneo com as iniciativas de vanguarda. Ivan Junqueira registra essa prática multifacetada no estudo sobre a poética do fragmento, em Eliot, exemplar dentro do modernismo. Através dela, o poeta revitaliza materiais tomados de empréstimo a outros autores, entre eles Jules Laforgue, Dante, em termos de um "processo de eliotização".

         Os poetas atuais, que começaram a publicar entre os anos 80 e 90, retomam essas perspectivas modernistas da fragmentação, transformadas pelas poéticas do intermezzo: antilira cabralina, concretismo, poema-praxis, poema-processo, tropicalismo e poesia marginal. Jogos lúdicos, enleios com a linguagem, e a esfinge da nova era em gestão renovam os sentidos de suas práticas fragmentárias. A lírica hesitante já tem os sinais dos anos 80, quando se intensificam no Brasil as repercussões do processo histórico da globalização.

         Interessa-me especialmente, em termos da teorização sobre fragmentação e poesia atual, lembrar que para Cancini a primeira é um traço estrutural dos processos globalizadores. O que se costuma chamar de globalização, ele afirma, "apresenta-se como um conjunto de processos de homogeneização e, ao mesmo tempo, de fragmentação articulada do mundo que reordenam as diferenças e as desigualdades sem suprimi-las". Na procura de nomear os tempos atuais, a poesia da hesitação realiza sondagens, destinadas a falar do paradoxo de um mundo que se expande como uma grande cena da unidade permeada, infiltrada de processos fragmentários nos campos socioeconômicos e culturais.

         Situados entre as tensões redimensionadas do local/global, universal/nacional/tradição/atualidade, os poetas e narradores lidam com a composição de um novo texto. No trabalho criativo na Era das Reciclagens, eles vivenciam de modo intensificado o que Eni Orlandi detecta na relação texto-discurso: "não há discurso que produza um texto único, uma formulação só. Não há univocidade entre memória, discurso, texto. A incompletude se liga à dispersão". Carlos Reis registra que estão sendo questionados os princípios de produção dos textos literários: o de estabilidade, o da coerência, o da linearidade, e o da discreção, este último relacionado às fronteiras do texto.

         Conforme reis, as características da escrita literária na era digital são: mais que textual, hipertextual; dinâmica, intertextual, interativa, lúdica, e fragmentária. Ele esclarece que o fragmentário vai se estabelecendo porque "a propensão intertextual tende a revogar a coerência e a unidade dos textos". A baliza dos anos 80 — e aqui estou acompanhando a proposta de Pedro Lyra — indica que a lírica hesitante já tem uma geração de poetas formada, com produção em livro sobretudo a partir dos anos 90, e uma geração em seus começos, com lançamentos desde 2000.

         Os poetas hesitantes convivem na cena poética da atualidade com autores relacionados sobretudo ao código modernista, entre eles Lara de Lemos, Armindo Trevisan, Affonso Romano de Sant'Anna. Entre os hesitantes, a poética da fragmentação se alia a dois movimentos contemporâneos: o das hibridizações, intercâmbios; e o dos percalços para nomear sensações e sentimentos de eus cindidos, como se a poética da expressão se infiltrasse no arcabouço construtivista do poema.

 

 

Normélia Maria Parise

 

            O conceito de fragmento, na sua função de modo de exposição crítica é, segundo Schlegel, o "gênero" que melhor responde ao projeto teórico-poético e crítico concebido pelos primeiros românticos. Suas características formais e epistemológicas incorporam o inacabamento e  não-totalidade ou totalidade sempre aberta, ao processo de construção do conhecimento acerca do objeto e do sujeito. Fragmento 24:51: Muitas obras dos antigos se tornaram fragmentos. Muitas obras dos modernos já o são ao surgir. A escrita do fragmento obedece uma lógica do pensamento não acabado, não sistemático em construção, mas que se constrói como pensamento do sistema. O fragmento, tal como concebido por Schlegel, conjuga, no plano da exposição teórica e no plano da forma, a ideia da totalidade como fragmento e do fragmento como totalidade, caracterizando-se pela falta de unidade e de completude. O fragmento-obra (dichtung) é, neste sentido, única em sua singularidade, porém parte em sua totalidade fragmentária. O fragmento como "semente" ou como projeto pode ser aproximado da ideia de ruína em Benjamim, na medida em que faz falar uma totalidade ausente. O fragmento designa o sujeito como um todo e parte de um todo. De acordo com o seguinte Fragmento: Também na poesia cada todo bem pode ser metade, e cada metade pode, no entanto, ser propriamente todo (Frag. 14:22), a totalidade residindo na relação das partes com o todo. Cabe ao duplo trabalho crítico-reflexivo ativar suas potencialidades e estabelecer a conexão das partes com o todo, através de um "exercício de química intelectual". O interesse pelo diálogo (gespräch), caracterizado por Schlegel como uma "coroa de fragmentos", resulta do fato de constituir um dispositivo de busca da verdade no qual a individualidade é mediada pela alteridade; a identidade pela não-identidade; a unidade pela totalidade. No diálogo um pensamento engendra um outro pensamento, assim como o fragmento-semente engendra um outro fragmento-semente numa relação recíproca de auto-engendramento reflexivo.

 

 

Márcio Almeida

 

         E a crítica, hein...?!

 

 

Luciano Justino

 

         Raramente aparece na crítica pós-moderna algo que efetivamente se afirme sobre o contexto em que vivemos, tudo gira em torno de uma a-posição ao modernismo e à vanguarda: "negue o modernismo e saberás quem é". O discurso crítico se tornou exclusivamente negativo, pois pouco se preocupa em observar as características próprias do período, pensando-o unicamente em termos de negação ou de diferença em relação ao moderno. Resultado: tanto o modernismo, e o século XX em geral, virou um monólito ("metanarrativa", "utopia", "centralismo", "autoritarismo", "vanguardismo" etc), quanto o próprio movimento que se queria descrever passou a ser abordado pelo que não é em relação às propostas da modernidade.

         Para se entender a realidade contemporânea bastava uma simples mudança de lado: o pós-moderno é aquilo que se opõe aos valores modernos. É recorrente em livros que tratam da pós-modernidade a presença de tabelas explicativas que põem de um lado o moderno e do outro, o pós-moderno.

         Ora, é preciso quebrar justamente o binarismo; a troca de lado mantém a estrutura intacta e, embora se queira vestir de novo o contemporâneo, o maniqueísmo acaba por não dizer nada. Enfim, na ânsia de afirmar a singularidade do pós-modernismo, singularidade de a-posição, mais de oposição, a impressão é de uma visão estanque do contemporâneo. Embora ressalte a pluralidade, o relativismo, a diferença, o discurso crítico pós-moderno não percebe que o próprio modernismo já é plural e "relativo". O relativismo permite à hegemonia pós-moderna estar em qualquer lado, uma boa fórmula para não estar em lugar nenhum. O relativismo virou uma ausência de projeto e um personalismo que a ciência moderna, esta também em crise segundo este discurso, havia deposto desde as primeiras décadas do século XX. No discurso crítico do pós-modernismo, a nova política da cultura capitalista é a despolitização, daí a necessidade, quase sempre enfática, de afirmar o fim das vanguardas: o autoritarismo do relativo e do plural.

         Fredric Jameson, um dos mais instigantes e perspicazes pensadores do nosso tempo, foi um dos primeiros a tentar abordar a partir de novas bases a realidade contemporânea. Porém, não esteve imune ao binarismo acima referido. No seu pioneiro O pós-modernismo e a sociedade de consumo (1993), o filósofo norte-americano inicia a construção de alguns dos mais arraigados pressupostos analíticos da crítica cultural dos nossos dias. Nele, Jameson, opõe o modernismo, e por extensão, as vanguardas, ao pós-modernismo, aquele implicando a paródia, este o pastiche. O texto de Jameson, com o qual nem o próprio Jameson concorda mais, é seguido por uma avalanche de discursos mais modestos, mas nem por isso menos enfáticos. Zymunt Bauman, em A arte pós-moderna ou a impossibilidade da vanguarda, afirma que "o mundo pós-moderno é qualquer coisa menos imóvel — tudo, nesse mundo, está em movimento. Mas os movimentos parecem aleatórios, dispersos e destituídos de direção bem delineada. É difícil, talvez impossível, julgar sua natureza avançada ou retrógada, uma vez que o interajustamento entre as dimensões espacial e temporal do passado quase se desintegrou, enquanto os próprios espaço e tempo exibem repetidamente a ausência de uma estrutura diferenciada ordeira e intrinsecamente".

         Como no conceito de pastiche de Jameson, a vanguarda não é mais possível porque não há ordem a quebrar ou direção a seguir. Trata-se de um discurso que, se for verdadeiro, só pode gerar como única atitude a expansão do mal da vaca louca para os humanos. Não estará o discurso contemporâneo se movendo a partir de uma aparência cegante, que por si só já é um fator determinante do período e de sua nova dominante histórico-cultural? Não serão tais visões, do reino encantado do pós-modernismo, um indício da estrutura profunda que permite falar de uma época do virtual sem levar em conta que se alguns aspectos da cultura se digitalizaram, a percepção humana, suas atitudes cotidianas no trabalho, suas relações familiares, de classe, étnicas etc, continuam tão analógicas quanto antes?

         A crítica cultural do pós-modernismo parece confundir os usos pelos possíveis. As potencialidades instigantes das atuais tecnologias não apagam, sequer desconstroem, velhos hábitos e velhos usos, que continuam tão ou mais "duros e econômicos" quanto antes. Uma tal visão postula um reino encantado: Lucy continua no céu, agora com celulares.

         Exemplo paradigmático da crítica cultural do pós-modernismo, e colocado na segunda vertente apontada acima, a leitura atenuada das vanguardas, é Aspectos psicossociais e antropológicos da vanguarda, de Affonso Romano de Sant'Anna. O discurso da morte da vanguarda no Brasil implica, em muitos aspectos, uma tentativa de esvaziar a importância do Concretismo. Os pós-modernismos abordam as vanguardas numa perspectiva dominantemente estética e quando ampliam a discussão é apenas para afirmar a relação circunstancial entre vanguarda e autoritarismo. O efeito de ótica pós-moderno não se interessa em perceber aquilo que na vanguarda vaza o esteticismo. As vanguardas transformam a arte num discurso público, tendo sempre em mente uma conscientização midiática de ação, o que é antiestético por excelência por quebrar a contemplação e a interioridade, os dois fundamentos da era da arte.

         Quem proclama a morte das vanguardas a toma pelos seus acessórios. Os seus fundamentos: a crítica à cultura burguesa e ao capitalismo, às ditaduras políticas e morais, aos colonialismos, à uniformização do gosto, são hoje ainda mais pertinentes do que há cem anos. As vanguardas são frutos de um compromisso ético com as formas do ontem e do hoje em ruínas, sem "nostalgia nostálgica", sem esquecer as forças imperativas do presente e das "reminiscências pro futuro": vestígios de passado que relampejam para as gerações vindouras. A defesa da vanguarda hoje precisa resgatar sua natureza utópica, transformá-la em heterotopia e ter clara consciência do que lhe é secundário: o objeto artístico. Toda vanguarda é projetiva, logo seletiva; existe enquanto tal, torna-se imperativa, em momentos de perigo, e de esperança. As últimas décadas do século XX e os primeiros anos do século XXI não só visivelmente trazem uma "nova ordem" (nova?), como exigem o alerta iminente do perigo.

         Para não desembocar em vanguardismo, a vanguarda há de se aliar a uma ética contemporânea que possibilite enquanto tal rever os excessos e os impasses das vanguardas históricas. Constelar, aos seus vetores de projeto futuro, o resgate às memórias, às subjetividades coletivas locais, o direito às diferenças. Ela deve ser um pouco daquilo que Julia Kristeva disse da semiótica, ser, cada vez, uma reavaliação de seu objeto e/ou de seus modelos, uma crítica destes modelos e de si mesma, enquanto sistema de verdades constantes. Por fim, seria útil, e urgente, fazer com o discurso crítico pós-moderno, especialmente no que tange às vanguardas, aquilo que Pierre Bourdieu fez com a literatura francesa do século XIX em As regras da arte: observar os hábitos de observação. Eis uma atitude por só de vanguarda.

 

 

Ronald Augusto

 

            O crítico está — ou deveria se sentir — implicado nas imposturas e nos dilemas que denuncia e anuncia.

 

 

Normelia Maria Parise

 

         À verdadeira crítica corresponde a capacidade de ela mesma produzir o produto que critica (Novalis). O mapeamento e a trama dos conceitos de crítica, reflexão e fragmento nos escritos "fragmentários" dos românticos de Iéna, nos permitem repensar o lugar da crítica não somente no âmbito da arte mas também da sociedade. Os questionamentos dos Românticos de Iéna, mais precisamente de Friedrich Schlegel, são até hoje um desafio no sentido de se pensar a concepção da autonomia da obra de arte através da articulação da crítica e materialidade das obras. Não se restringindo ao âmbito estético, o projeto do romantismo de Iéna constituiu uma crítica de natureza social, política e moral na contramão da Aufklãrung. Ao articular os escritos de Friedrich Schlegel com os de outros críticos da modernidade, como Adorno, Hannah Arendt, Castoriadis, tem-se a intenção de trazer para a discussão a questão da produção crítica-cultural no contexto do obscurantismo da consciência e da estetização do político e do ético em nossas sociedades contemporâneas.

         Resgatar certas questões colocadas por estes autores que nos antecederam e que nos anteciparam implica refletirmos sobre nossa própria prática enquanto profissionais da cultura. Qual é o conceito de crítica no romantismo alemão? Qual é a sua relação com o fragmento enquanto forma de exposição (darstellung) desta crítica? Que importância tem para a nossa atualidade? O fim da capacidade de pensar, enquanto reflexão crítica, estaria, segundo Arendt, na base de sua experiência da banalidade do mal. Não se restringindo ao campo da experiência do possível, da empiria, o pensar enquanto atividade que envolve sujeito e objeto, sensibilidade e entendimento, liberta-se do jugo da ciência dogmática e do subjetivismo filosófico, constituindo um processo de constante perspectivização do que tomamos como verdade em nossa sociedade.

         A reflexão, ao engajar o trabalho da imaginação radical do sujeito, é ativa e produtora. Nela, sujeito pensante e a atividade reflexiva tornam-se objeto do próprio pensar; interagem de modo que o questionamento do objeto implica um questionamento do próprio sujeito. Ao questionar os pressupostos, fundamentos e representações da ordem social e cultural, o sujeito questiona a si próprio, ao seu próprio pensar. Friedrich Schlegel, ao definir o crítico como um leitor que rumina (Um crítico é um leitor que rumina. Por isso, deveria ter mais de um estômago — Frag. 27:23) estabelece uma relação estreita entre o procedimento crítico e o procedimento reflexivo. Para Schlegel, a crítica constitui uma reflexão poética, no sentido especular e especulativo, na qual o julgamento sobre a obra coincide com a produção formal da própria obra e com a construção da subjetividade que aí se autoreflete. Para Schlegel, a crítica enquanto atividade reflexiva desencadeada pelo confronto entre sujeito e objeto e reativada por questões teóricas suscitadas desse encontro, não se fecha num sistema, nem se vincula a uma estética sistemática, uma vez que constitui um exercício poético e teórico autônomo. Ao incorporar a crítica à criação poética, o sujeito e objeto na construção do conhecimento sobre a obra de arte, os primeiros românticos lançam as bases da autonomização do discurso poético. A mise en abyme do sujeito e do objeto no processo de reflexão sobre uma conformação artística norteia um conceito de crítica como incessante questionamento dos pressupostos e fundamentos que, no âmbito da história e da sociedade, regem às formações culturais.

         No Fragmento 117 [tem-se que] toda poesia só pode ser criticada por poesia. O exercício crítico, retroalimentado pela produção teórico-poética, não tem a pretensão de fazer tratados sobre a literatura, mas sim faire de la littérature.

 

 

Eliana Pougy

 

         A matéria literária, e todo o "em volta" em que ela está submersa, é o assunto da Crítica Genética. Essa nova crítica afirma que o procedimento arqueológico, ou o mergulho em toda uma geografia da escrita pode ser associado a estudos de estilística, de semiótica e de história da literatura, entre outros.

         O acesso aos rascunhos, correspondências, pequenas notas sobre o próprio trabalho redigidas pelo autor em seus originais e que em nossos podem estar nas diversas versões do texto original gravadas em seu PC ou laptop, permitem ao crítico desenvolver hipóteses a respeito da construção ou da constituição de um procedimento literário e que pode, ou não, resultar num produto.

         Por essa via, a Crítica Genética se interessa muito mais pelo processo de produção artística do que pelo produto. Por isso dialoga com a Estética da recepção, uma linha que tem mais interesse em estudar o modo como as obras são recebidas pelos leitores do que em estudar a obra como algo pronto e inegociável, e estuda o processo de criação do texto literário, a partir de procedimentos estruturalistas.

         O fundador da Crítica Genética foi Louis Hay, que afirma que "o texto não existe" pois ele não pode ser o objeto final dos estudos literários. Afinal, ele é a última etapa de uma história que ele mesmo enuncia. Por essa via, não seria possível estudar o processo de criação de obras cujos manuscritos foram extraviados ou perdidos. O introdutor da Crítica Genética no Brasil foi Philippe Willemart. Para ele, a "rasura" dos manuscritos de autor são como ouro: no traço sobre a palavra escrita, encontra-se o diálogo concreto entre duas ideias, dois desejos, dois conceitos, dois sentimentos. A Crítica Genética funda-se nos diálogos. Portanto, dialoga com o conceito de intertextualidade, ou de citacionismo.

 

 

Cândido Rolim e Ronald Augusto

 

         Julgar que tudo já foi dito ou feito não é achar que a realidade se deixa esgotar por meia dúzia de sofismas ou uma única sorte? Para muitos soa razoável a pretensão de somente realizar algo sob o argumento de que ninguém jamais o fez. É possível um texto original? Não raro, a absoluta novidade se apresenta aos nossos olhos como ilegível, imprecisa, vaga, talvez por isso mesmo mais sedutora e fascinante.

         A idéia de originalidade, a crença de que é possível "inventar a partir do zero", ou da tela em branco, na verdade sempre esteve relacionada, ainda que de modo subjacente, ao conceito de mimese, ou seja, a linhagem de um big bang criativo-informacional — ou o continuum das obras poéticas se estabelece por um tensionamento permutacional entre "cópia e original".

         Não há como afirmar/aferir em definitivo a originalidade de um texto, pelo simples fato de que todo repertório, isto é, este complexo de imagens e ideias acumulado ao longo de uma série de experiências históricas, são como óculos assentados sobre o nariz. Vemos as coisas através deles, e a ideia de tirá-los, para perscrutar o que quer que seja além de sua aparente ilegibilidade, nunca nos ocorre. Os óculos com que poderíamos apreciar o poema original ainda não foram inventados. E talvez não o sejam.

         Original seria o insuficiente estágio onde se encontram as larvas da linguagem, seus redutos in/formantes e de/formantes. Deve ser aí, nesse ponto hesitante, nunca completamente deflagrado, rastro de um mundo recém criado, em algum vértice pulsante de nossa consciência exausta de nomear e ver, que surgiria a visão particularizada (redentora?) da obra, do sujeito e do mundo que os circunscreve, sem nada dever ao já visto ou feito. Por um breve instante a arte se extravia de todos os referenciais de que um dia se nutriu e logo assume de novo a forma de uma tradição prestes a se romper, ou em vias de plasmar-se, guiando-se por transvalores (Nietzsche) e padrões ainda não abonados. Num desses lapsos surgem os oportunistas e a cruzada em demanda de gênios, o fastio estético, os acadêmicos bocejos. Infelizmente, nossa tendência ao "bom senso" medianeiro corre lado-a-lado com aquela preguiça que constitui uma espécie de "saída de emergência" da qual lançamos mão sempre que somos atocaiados pelo inesperado, pelo novo.

 

 

Nilson Oliveira

 

            Segundo Jean Starobinski, o crítico não pode permanecer dentro dos limites do saber verificável; ele deve fazer sua própria obra, correndo os riscos da obra. Quais as razões da crítica? Por que vem à superfície? O que quer? O que traz? Questões difíceis e, na cena literária atual, cada vez menos em foco, pois as experiências geradas pelas falas concebidas nos cadernos, suplementos, revistas, nos dão conta de que a questão da crítica passa alhures, no horizonte de outras margens. Mas qual o seu lugar? Leyla Perrone-Moisés nos traz uma observação pontual sobre essa questão: "A crítica não visa simplesmente auxiliar e orientar o leitor, mas visa principalmente estabelecer critérios para nortear uma ação: sua própria escrita, presente e imediatamente futura. Nesse sentido, é uma crítica que confirma e cria valores. Enquanto a crítica literária institucional tornou-se cada vez menos analítica e cada vez menos judicativa, a crítica dos escritores lida diretamente com os valores e exerce, sem pudores, a faculdade de julgar".

          E o que é julgar? Na escala dos valores literários, julgar consiste em pôr à prova, submeter a obra ao tempo, às questões que o tempo, a partir do seu movimento, faz revelar, numa relação livro-leitor; num diálogo infinito em que a força, a falha ou os pontos fracos da obra fazem-se revelar. A crítica é uma segunda leitura, pois vem de uma situação que acontece depois, em um misto de memória, falha e pensamento, como lampejos em que a obra lida volta a cintilar, porém aberta como uma ferida, dilacerada por um pensamento.

         O essencial é seguir adiante, fazendo da lacuna uma questão e dessa questão várias fissuras, aberturas, linhas de fuga por onde as coisas possam ventilar, escoar, circular. Agenciando espaços possíveis, gerando pensamentos outros em torno de interesses que estejam sempre abertos. Pois a literatura foi sempre da bandas do movimento, é inteiramente móbile, forçando os limites, navegando nas bordas do possível, seja em termos de escrita, de pensamento ou de vida, mas a vida-obra escrita. Constituindo uma superfície móvel, um espaço onde, de livro a livro, os conceitos estão sempre se renovando numa velocidade vertiginosa. São como os tuaregues, caminhantes  caminho, sem pai, mãe, deus, identidade; fora de toda a sombra, verdade ou destino. Entregues ao sol, num fluxo de escrita que constitui um verdadeiro saber órfão. Saber aberto às entranhas do presente. Saber que perfura novos horizontes criando novas trilhas, abrindo novas clareiras, tecendo pacientemente o inusitado de uma nova questão.  [Com a crítica] o pensamento segue, tem movimento, como bem diz Nietzsche: "Só tem valor os pensamentos que nos ocorrem ao andar". Nele as coisas se renovam, aqui ou alhures. Para captar essas questões é preciso mecanismos mais ágeis, leves, manuseáveis, possíveis em qualquer latitude, atento, aberto às distâncias onde o devir se manifeste. Para isso, no curso dessas movimentações, esse espaço se inaugura. Com efeito, cabe a nós, leitores, e atentos, deslocarmos nosso radar para alcançar os visíveis, autores e obras, que se manifestam em um diverso de direções. Esta jornada constitui-se como um espaço de proliferação de idéias onde textos vários se encontram, analisando, pesando obras e autores negados, pouco conhecidos ou ignorados pelas revistas, resenhas, cadernos de cultura, pelas figuras que representam a crítica autorizada. E esse espaço é agenciado por pessoas interessadas em movimentar obras, recentes e antigas, que precisam vir à luz, cruzar a cena pública, atravessar a lente dos leitores, pois só a leitura reconhece a obra, como nos diz Blanchot: "A leitura faz do livro o que o mar e o vento fazem da obra modelada pelos homens: uma pedra mais lisa, o fragmento caído do céu, sem passado, sem  futuro, sobre o qual não se indaga enquanto é visto. A leitura confere ao livro a existência abrupta que a estátua parece reter do cinzel: esse isolamento que a furta aos olhos que a vêem, essa distância altaneira, essa sabedoria órfã; que dispensa tanto o escultor quanto o olhar que gostaria de voltar a esculpi-la".

 

 

Aurora Bernardini

 

            Hoje, quando a passagem entre o dado e o criado é tão mistificada pela própria concepção de arte e eles tendem, muitas vezes, a se confundir, caso se desconheça no que consiste esse "excedente" que a arte tem em relação ao fato, pede-se ao crítico que esclareça, ao menos, o fenômeno. Tudo é fluido, tudo é dinâmico, mas, diz Perniola — há limites que não podem ser transpostos e que garantem a manutenção do horizonte estético. Quais seriam esses limites? Por estranho que pareça, não é tanto a degradação que ameaça o horizonte estético (conflitos dão vida!) quanto a "inércia do consumismo autodestrutivo" (massificação, pensamento único) e a retração da energia emocional que levam à diminuição e desaparecimento desse "excedente" tão indispensável que faz com que o ato artístico (interesse desinteressado) seja praticado com zelo, com empenho, com amor (Miguel Ângelo).

         O que caracteriza o horizonte estético, diz Perniola, é a liberdade (esprit de finesse), em oposição à necessidade do mundo natural, regido pelo esprit de géometrie, e o fato de o horizonte estético, apesar de seu caráter simbólico, ter a pretensão de valer e de se afirmar dinamicamente no mundo, entre as exigências espirituais e práticas da vida humana "diversamente da moral e da religião onde é freqüente atribuir-se mais importância à pureza da intenção subjetiva do que aos resultados efetivos, ou então se faz apelo ao além e à transcendência".

 

 

Maria Esther Maciel

 

         De um lado, o olhar sistemático, que busca sondar — a partir de um referencial teórico muitas vezes inacessível aos não-iniciados — os dizeres de não-dizeres do texto literário, seus mecanismos de criação, suas cargas de complexidade, seus vínculos com o tempo e as referências culturais do autor. De outro, uma abordagem concisa do texto, a apreciação tangencial de temas e de recursos utilizados pelo autor, a avaliação crítica medida pelas exigências de uma pauta inflexível, numa linguagem direta, desprovida de citações e termos técnicos. Entre esses dois approaches, um campo minado, um espaço de tensões e dissídios.

         É dessa dicotomia excludente e, por vezes litigiosa, que tem se amparado grande parte das discussões atuais em torno das dessemelhanças e tensões entre a crítica literária acadêmica e a jornalística, como se o exercício crítico estivesse irremediavelmente, e mais do que nunca, circunscrito à polarização entre o prolixo e o conciso, o profundo e o superficial.

         No entanto, basta um olhar cuidadoso sobre o problema para que se possa atentar para a falácia dessa dicotomia e para os equívocos de uma visão esquemática das coisas. O campo da crítica literária é vasto e complexo, demandando um enfoque mais matizado e dialógico de cada um de seus espaços de atuação. Isso porque nem a crítica acadêmica se resume a um tratamento fechado, meramente técnico e teórico de obras e autores, nem a crítica jornalística se circunscreve apenas à esfera da contingência e da imediaticidade.

         No que tange às diferenças entre a crítica acadêmica e a jornalística, pode-se dizer que uma das principais recai na função que cada modalidade assume no trato da obra literária. No âmbito da universalidade, a abordagem de um livro/autor atende a critérios mais analíticos que judicativos, sendo que, na maioria das vezes tais critérios se sustentam de preceitos teóricos oriundos de diferentes campos disciplinares, que vão da sociologia à psicanálise, da filosofia à semiótica, da lingüística à teoria da história, dependendo dos interesses e da formação de cada crítico. Privilegia-se, em geral, um repertório de livros e autores canônicos, e mesmo quando são escolhidos textos literários contemporâneos ou à margem do cânone, muitas dessas escolhas tendem (ou não) a confirmar/justificar linhas teóricas em circulação. A isso se acrescenta a busca do rigor analítico e de uma boa dose de erudição, legitimada por citações e referências bibliográficas.

         No jornalismo literário, por seu turno, já existe uma preocupação mais evidente com a apreciação e a qualificação (ou, em certos casos, de desqualificação) do texto literário, com vistas não apenas à divulgação de um livro, de um autor ou de uma editora, como também à formação/modelação de um público leitor. As escolhas recaem geralmente em lançamentos recentes e escritores em evidência, podendo ainda ser determinadas por efemérides e necrológios, sempre a partir de um enfoque mais horizontal e pouco dado a elucubrações teóricas.

         Nesse sentido, poderíamos afirmar que ambas as críticas condizem, cada uma sustentando suas particulares, com os sentidos dicionarizados da própria palavra crítica, cujas matrizes etimológicas apontam para o verbo grego krino ou krinein, que significa tanto "separar, distinguir, interpretar, discernir", quanto "julgar, apreciar e avaliar". Enquanto a crítica acadêmica estaria mais afinada com o primeiro conjunto de infinitivos, a jornalística já se identificaria mais com o segundo, embora isso não ocorra de forma categórica e definitiva, visto que tais traços muitas vezes se embaralham e se confundem. Além disso, toda crítica não deixa de ser, explícita ou implicitamente, um julgamento de valor. No caso da acadêmica, a própria escolha de um autor, ou uma obra como objetos de análise já implica  um gesto valorativo. Lire c'est élire, afirmou Paul Valéry.

         Outro ponto a ser considerado diz respeito ao lugar institucional que cada uma ocupa e que vai determinar o papel de uma e de outras atividades críticas. Sabemos que essa compartimentação de espaços e funções surgiu no século XX, com a implantação dos cursos de Letras nas universidades brasileiras. Sabe-se que até os anos 40 não havia uma demarcação de territórios no âmbito da crítica literária, já que esta possuía como topos privilegiado os jornais e revistas de grande circulação, nos quais atuavam intelectuais de prestígio como Mário de Andrade, Tristão de Ataíde, Álvaro Lins, Augusto Meyer, Otto Maria Carpeaux, Sérgio Milliet e Antonio Cândido, dentre outros. Com a concentração de estudiosos da literatura nos meios acadêmicos, uma nova configuração de espaços para o ofício da crítica se estabelece, sendo que, no âmbito das universidades, ela passa a receber influxos cada vez mais intensos das teorias que passam a legislar o saber literário, chegando mesmo a se legitimar e se institucionalizar enquanto uma ciência. O que acontece sobretudo após o advento do Estruturalismo nos anos 60. Esta institucionalização favoreceu, inegavelmente, a delimitação de um modelo discursivo pautado nos princípios da objetividade, distanciamento e rigor conceitual, avesso às manifestações da subjetividade e à faculdade de julgar. Surgiram jargões científicos, os conceitos cifrados, o vocabulário especializado, procedimentos estes que acabaram por se converter, pela força da repetição, em vícios que até hoje são equivocadamente tomados, pelos detratores do saber acadêmico, como as linhas de força ainda vigentes na crítica universitária.

         Mas sabemos que, com o pós-estruturalismo e com o que Roland Barthes chamou de "retorno do sujeito à cena da escrita", a fixidez passou a dar espaço à flexibilidade, a especialização abriu-se à transdisciplinariedade, o pensamento deixou-se contaminar pelos poderes da imaginação. Sobretudo nos anos 90, a crítica acadêmica passou a incorporar outras possibilidades de discurso, fazendo do ensaio (e não mais do tratado) sua via por excelência de expressão.

         Creio que a entrada de poetas e ficcionistas no corpo docente dos cursos de Letras também contribuiu para isso, assim como também contribuiu a difusão, nas disciplinas de literatura, de textos críticos escritos por escritores como Borges, Calvino, Octavio Paz, T.S. Eliot, Paul Valéry, dentre outros, que trouxeram de volta a alguns setores da crítica acadêmica o frescor ensaístico do jornalismo literário que predominou no Brasil até por volta dos anos 40. Para não mencionar de novo a crescente atuação de acadêmicos nos jornais e revistas culturais do país e a procura, cada vez mais evidente, por parte de jornalistas, dos cursos de pós-graduação em estudos literários.

         Mesmo com relação à linguagem, percebe-se que muitos críticos de formação acadêmica já têm buscado se desviar dos jargões teóricos e do excesso de citações, sem com isso abdicarem do rigor e da consistência. Da mesma forma, não são poucos os jornalistas literários que hoje procuram se esquivar do mero release, para assumir um trabalho crítico mais apurado, e até mesmo autoral, que converte o ato de resenhar também e um exercício de reflexão e lucidez.

         Hoje, podemos dizer que a crítica literária experimenta uma grande diversificação, graças a essas conjunções, disjunções e desdobramentos variados de suas funções e modalidades textuais. Seja através de teses e dissertações acadêmicas, seja através de artigos especializados, ensaios e resenhas, ela vive – a meu ver, um momento importante.

         Creio que à crítica cabe potencializar as linhas de força do texto literário, flagrar seus pontos de tensão e irradiação, iluminar suas zonas de sombra, buscar os sentidos explícitos e imprevistos que o constituem. Elegância, erudição, rigor, criatividade e responsabilidade ética são atributos importantes a toda crítica que se preze, seja ela acadêmica ou jornalística. E não seria impertinente reivindicar, ainda, para ambas, uma dose de paixão — isso que Octavio Paz chamou de "amor imoderado, passional, pela crítica e seus precisos mecanismos de desconstrução, mas também crítica enamorada de seu objeto, crítica apaixonada por aquilo mesmo que nega".

 

 

Ademir Assunção, Ricardo Corona, Rodrigo Garcia Lopes

 

            A crítica literária brasileira nunca foi tão conservadora quanto nos últimos anos. Tomada por verdadeiro pavor de ler os signos do presente, a maioria prefere se voltar convulsivamente para o passado — e dá-lhe mais um sério, profundo e inovador estudo sobre... Machado de Assis! Não seria tão trágico se a isso correspondesse uma mínima curiosidade em relação a autores que estão produzindo textos instigantes bem debaixo dos nossos narizes. Mas se criadores tão seminais quanto Pedro Xisto, José Agrippino de Paula, Valêncio Xavier, Campos de Carvalho, Orides Fontela, Paulo Leminski, Sebastião Nunes, Roberto Piva ou Glauco Mattoso ainda não foram estudados ou lidos seriamente, o que esperar em relação às gerações mais novas que levam o fio de Ariadne à frente?

         A verdade é que a poesia acabou se tornando vítima de uma crítica que envelheceu e que parece não possuir mais parâmetros para julgar — "com olhos livres", como ensinou Oswald — a complexidade do contexto em que vivemos e sua incorporação pelas poéticas atuais.

         Esse desinteresse em perceber o contemporâneo é um dos fatores responsáveis pela falsa impressão de que nada acontece na literatura brasileira. Mas não é o único. Há pelo menos outros dois, cada vez mais nítidos: 1) a ação de alguns grupos que manipulam a história cultural de modo que tudo acabe neles — deixando a impressão de que nada (ou quase) aconteceu depois deles e 2) a lei do silêncio que imperou e impera nos cadernos culturais da grande imprensa — quase sempre dominados por pequenos grupos familiares ou de "colegas de faculdade" — um tipo de atitude, aliás, que não acontece apenas no Brasil, e que acaba sendo uma censura camuflada, como define o sociólogo francês Pierre Bourdieu: Existe uma espécie de censura pelo silêncio. Os jornalistas se transformaram na tela, ou no filtro, entre toda ação intelectual e o público. Esta prática de "cortina de fumaça", curiosamente, parece ter sido internalizada por grande parte dos próprios poetas. Com medo de fechar ainda mais os caminhos já fechadíssimos, muitos evitam tecer críticas abertas ou tomar posições, sempre à espera de uma chance de ser "a bola da vez".

         É claro que não são os críticos que agitam o panorama literário e cultural de uma época. São, principalmente, os próprios criadores e a força de seus trabalhos. No entanto, a crítica universitária e o jornalismo cultural podem retardar o surgimento de veios subterrâneos que há muito correm mais ou menos silenciosamente, até que não se consiga mais manter as águas represadas e a própria força desses "veios subterrâneos" rompa o dique e suba à tona.

         O desdém em relação à produção poética e literária — especialmente de autores mais críticos e anticonformistas — não teria parentesco com o esvaziamento típico destes tempos de manipulação massificante, ditadura econômica, além do suposto "fim das ideologias" e até mesmo da história? Essa insistência de que nada está acontecendo não seria semelhante ao discurso do poder para ocultar diferenças e divergências? Para se manter uma suposta hegemonia de formas poéticas, quantos talentos não são fatalmente abduzidos, desmaterializados, "desaparecidos"?

         A incapacidade de leitura do texto/contexto contemporâneo aparece também na familiar estratégia de recorrer à facilidade de rótulos, reduzindo um grupo a "beat", outro a "pós-concreto", outro a "neobarroco", evitando assim qualquer aprofundamento do debate. Alguns críticos e poetas-críticos parecem até mesmo odiar o fato de que a poesia continue existindo, não só como arte da linguagem — ou linguagem em efeito de artifício —, mas como passaporte para experiências vitais e viscerais do ser humano.

         O poeta, crítico e tradutor Antonio Risério identifica o fenômeno quando escreve: Saudades de Mário Faustino. Não temos hoje uma crítica textual que se disponha a examinar questões culturais. Em vez da densidade histórica, da abrangência contextual ou da espessura ensaística, o que nos servem, na bandeja da imprensa, são flores falsas, brotos da safadeza sibilina, trazidas das coxias em que se disputa o "poder literário" e em que personagens pouco ou nada relevantes se esforçam para exercer minimandarinatos culturalmente irrelevantes.

Um reflexo de como o impulso canonizante prossegue sob a lógica de "museu de cera" é que critérios pessoais frequentemente são lançados como verdades inquestionáveis.

O que escreve o poeta e crítico Charles Bernstein se encaixa perfeitamente ao estado atual da discussão da poesia entre nós: É particularmente divertido que os que protestam mais alto sobre a fraudulência ou aridez ou mesmice da poesia contemporânea que insiste em ser contemporânea, dissidente, diferente, e os que professam, em contraste, a primazia da voz individual, ventilada por uma inspiração pagã, produzem obras em grande parte indistinguíveis de dezenas de seus pares e, além do mais, tendem a reconhecer o valor só da poesia que se encaixa dentro do horizonte estreito de seus temas e estilos particulares. Como se a poesia fosse um artifício que possuísse um medo certo ou errado de ser feito: neste caso, eu prefiro o modo torto — qualquer coisa é melhor do que a epifania bem-fechada de uma medida previsível —, pois pelo menos as rachaduras, falhas e contraditoriedades mostram sinais de vida.

Contra as correntes catastróficas e excludentes, tudo indica o contrário: nos últimos anos surgiram revistas, antologias, e sites revelando poetas sintonizados com nosso tempo e pesquisas poéticas que apontam para um futuro no mínimo instigante. A chegada da internet, por outro lado, como propiciou acesso à informação da poesia produzida no planeta, bem como intercâmbio maior entre poetas e poetas, leitores e poetas. Se ficou mais difícil mapear a poesia brasileira hoje, talvez seja porque as velhas polarizações não fazem muito sentido numa paisagem cada vez mais multifacetada, estilhaçada e saturada de informações que vão além do horizonte limitado de nossa crítica. Por outro lado, muitos poetas parecem ainda não ter tomado consciência do complexo panorama em que vivemos: gigantesca manipulação de informações via publicidade e meios de comunicação de massa, guerras étnicas e conflitos armados transmitidos ao vivo via satélite, "novo" fascismo econômico disfarçado de globalização, biopirataria e grandes desastres ecológicos, AIDS, limite cada vez mais confuso entre ficção e realidade, consumo desenfreado em consonância com empobrecimento espiritual, clonagem de seres vivos, viagens interplanetárias etc. Pode- entender que tais assuntos não despertem curiosidade em muitos poetas brasileiros hoje. Mas será possível que o  mundo em que vivemos não afeta em nada a linguagem da poesia? Como não considerar o contexto em que se movimentam os poetas contemporâneos?

 

 

©hélio oiticica

 

 

Atenta a esse zeitgeist, a crítica Marjorie Perloff afirma em Radical Artífice — writing poetry in the age of media que é quase impossível em nossos dias encarar o texto literário como algo que possa ser simplesmente destacado de seu contexto, como se um poema pudesse existir sem ser tocado pela cultura que o produziu. "Hoje não há paisagem alguma que não seja contaminada por sons de bip e computadores, nenhum pico de montanha solitária ou vale deserto fora do alcance do telefone celular e do minigravador. Cada vez mais, então, a arena do poeta é o mundo eletrônico".

Para Perloff, a noção de poesia como algo "natural" e como expressão de um "eu lírico" está sendo cada vez mais implodida em obras que estão interagindo, refletindo ou respondendo criticamente ao novo ambiente em que vivemos, tanto nos temas como na própria linguagem. Neste contexto, a poesia e a prosa passam a funcionar como uma espécie de sistema lingüístico alternativo. Num universo cada vez mais saturado pela informação, pelo materialismo e pelos modismos, certas abordagens poéticas revelam-se totalmente ingênuas e ineficazes. Por outro lado, surgem poetas interessados em explorar o poder que a poesia, como forma de conhecimento visionário, ainda tem de afetar o mundo exterior, ao invés de ser meramente afetada por ele.

Diante da paisagem caótica de nossos dias, a ideia de uma única "linha evolutiva" parece incapaz de abarcar a multiplicidade de procedimentos poéticos e literários existentes na atualidade.

Os poetas incluídos neste Medusário, em nossa opinião, longe de estar confinados a torres de cristal, manipulando poemas com luvas brancas, são alguns dos que aceitam encarar os desafios lançados por este contexto sobre a arte da linguagem.

 

 

Silas Corrêa Leite

 

         A Nova Crítica Literária brasileira, às vezes nem é nova (pelos ranços e vitupérios arcaicos), nem é crítica (pelo exercício bocó da dialética imediatista do esculacho janota e boçal), às vezes sequer é literária, quer pelos devaneios de pseudo-jecas pops ou por algumas mesmices de trivialidades engodadas por certos cacarecos de organdi, ou, ainda, pode ser apenas e só isso: brasileirinha. E ainda, sorry, casca grossa e bem seca. Uns têm nome, outros inventam poses, há os que, rançosos, desqualificam uma estreia sazonal, e ainda há os que, por inveja (boa ou má), injetam venenos por causa de frustrações adquiridas, já quem não têm um merecido sucesso e permanecem neomalditos, independentes daqueles clubes de esquinas, de clubes de egos, de testes de sofás e até periféricas oficinas que mais rotulam e vendem peixe de fim de feira do que enobrecem o filão tão propenso a todos de ouro e vice-versos.

         A Nova Crítica Literária Brasileira, coitada, tem patetas de ocasião, cariocas postiços, gaúchos saradinhos, paulistas alocados e mais algumas mineirices de intelectualidade masturbatórias e pajelanças leminskianas. E ainda existem outros. Caetanear, por que não? A crítica literária brasileira apanha de relho alhures e fica paradoxal: gosta de dar vexame, chuleia citações, agasalha pandarecos e, no final alardeia uma saideira para todos, até porque ninguém é de ferro, e, depois da tempestade vem a leptospirose.

         A Nova Crítica Literária Brasileira cheira a sabão de cinzas. Mas os cueiros estão cheios. Pensa que pensa. Acha o que não é. Ora, nossa crítica babaquara é bananeira que já deu goiaba, mas, ainda assim, no tear do imaginário impúbere, troça, troca, erra e faz-se singer em roca errada. Sarava, Caio Prado.

         A Nossa Crítica Literária Brasileira — perdão, leitores, cheira sovaco de saurorex (espécie em extinção), é polêmica pela própria natureza, navalha afiada no enfoque pseudoerudito, bodoque de citações, mas depois dá bom-dia a cavalo, sobe no pau de sebo e, baba baby, atravessa canteiros & cardumes. Pior, literalmente pisa na bola, magoa. Tudo isso, não com estilo, mas "estalo". Só que, sendo polenta fria/ardida, vende, ventila, aparece, faz limonada sem limões, de tão azeda, quase curtida em antro próprio.

         A Nova Crítica Literária Brasileira quer ser o que não é. E quando é, aqui e ali, vá lá, vale quanto-pesa. A Nova Crítica Literária Brasileira adora espaço novo, adora autor novo, adora alguém vencedor. Fermenta entre avencas. Dá o drible da vaca no texto em si, e cai na gandaia de acionar uma metralhadora cheia de lágrimas (ou purpurinas mal resolvidas), atirando em tudo quanto é alvo, piorando quanto acerta mitos, totens, raízes, pilares.

         A Nova Crítica Literária Brasileira — que quer ser o Provão do Amém — não existe, é conversa fiada para gente editorial dormir, chove no molhado, arde no ego, glosa no freudiano, bebe em becos e feudos, destila veneno e depois, no trivial, pançuda e démodé, espera as vaias, os aplausos, os coiós atrelados, os arigós com grife.

         Há os isentos. Raros e curtidos. Em terra de cego, quem tem olho pensa que é dono da bengala. Fui.

 

 

Cláudia Nina

 

         O crítico de hoje é contemporâneo de si mesmo? O que se espera do crítico diante das inovações sofridas pelo texto e os suportes ao longo das últimas décadas? Se a crítica escolhe seus objetos, para onde debruça seu olhar e de onde desvia? Qual é o estatuto da crítica? Arte, ciência, literatura? Como esta mesma crítica, que oscila em se definir com precisão é capaz de separar o literário e o descartável? A quase totalidade dos projetos pré-selecionados na categoria da Crítica Literária que não se restringem a um determinado autor, mas abrem as possibilidades do tema genérico sobre a crítica contemporânea revela a desorientação — crise, impasse, rumos? — do discurso crítico.

         A literatura e a crítica publicadas on-line, assim como a produção digital, com suas ferramentas específicas, narrativas não-lineares, interativas, multimídias, levantam uma série de indagações que, assomo como as questões acima mencionadas, ainda estão em processo de elaboração por parte da crítica brasileira. Pergunta-se: os blogs se configuram um novo gênero literário? O suporte pode determinar a qualidade de um texto? A revolução eletrônica e o código literário; as características da ciberpoesia; a nova ficção científica na Era da Internet; a interatividade na produção on-line; os blogs e a produção literária que surge a partir da rede. Alem disso, uma pequena ressalva: o que os citados trabalhos que trazem os blogs como proposta de ensaio ajudam a lembrar é que os leitores já não são mais sujeitos passivos que se alojam do outro lado da página; deslocam-se diante dos processos de colaboração, interatividade e criação.

         Com base na leitura das propostas acima mencionadas, talvez se possa perguntar se não falta ler a literatura on-line, no sentido de ter conhecimento horizontal de sua existência, e a produção digital, no sentido vertical de entendê-la num alcance mais aprofundado?

 

 

Ivanda Martins Silva

 

         O que há de novo é o caráter móvel, dinâmico e interativo do ciberespaço, ambiente povoado de hipertextos que desafia os leitores à construção de um rumo de "navegação" para as práticas de leitura. Segundo Almeida (in Silva, 2003, p.34) "o leitor na web não lê da mesma forma que o leitor de livros ou revistas de papel. O leitor-navegador tem o mundo ao alcance do clique do mouse. Basta o texto tornar-se monótono para que o leitor dirija-se a outras paragens, provavelmente para nunca mais voltar".

 

 

Dos Santos

 

         Será de fato a quantidade mais importante do que a qualidade? Percebo que muitos escritores colocam nos títulos de suas obras nomes populares e pobres, a fim de chamar atenção do grande público. Concordo que esta estratégia funciona, mas me questiono a que preço isto é alcançado?

         Será que ser mais lido significa ter um bom texto, ou talvez, ter um número maior de acessos demonstra sinceramente a atualidade do que está sendo escrito? Vejo pessoas que parecem se digladiar todos os dias por leituras, em um vale tudo desenfreado e tolo, não levando em conta o que realmente é importante, e o que de fato é um poeta e suas poesias.

         Bem sabemos que com o advento da internet muitas barreiras foram superadas, e hoje um simples clique nos possibilita uma variedade enorme de informações. Aquele que lê textos na internet se lembrará do nome do escritor, verá suas outras obras, recomendará para seus amigos?

         Pressupõe-se assim que a qualidade é o que de fato torna uma obra bela. Então, que não nos portemos como meras prostitutas em busca de clientes fáceis. Que tenhamos a consciência de que o verdadeiro poeta/escritor não se faz lembrar pelos títulos que dá a seus textos, mas pela habilidade, intensidade e sentimento que expõe em suas linhas.

 

 

Luciano Justino

 

         Em termos 'metodológicos', a perda da dimensão espaciotemporal cria uma incapacidade de gerar projeto e, por extensão, a impossibilidade de emancipação do sujeito sugado pela elipse. Chamar uma tal tendência de invenção é esvaziar completamente o sentido que as vanguardas davam ao termo. Ainda, se levarmos em conta que o nosso maior vício histórico é o subjetivismo, a supremacia do umbigo sobre o olho na cultura brasileira (herança portuguesa), teremos um hábito velho, laminado em casca nova: um vanguardismo. Eis o atual mal.

         A outra vereda das vanguardas do ontem são os neojesuítas, verdadeiros soldados de cristo que se inscrevem naquilo que Fredric Jameson chamou de "moda da nostalgia". Proclamam, com uma ênfase tão enfática (perdoai o pleonasmo), o fim das vanguardas que acabam dando a sensação de que estas nunca estiveram tão vivas. Trazem dos seus pares católicos do século XVI a vontade de conquistar a todo custo o paraíso terrestre perdido, só que, e aí reside boa parte de sua força, agora aliados a um moralismo próprio de evangélicos.

         Os bispos do contra-vanguardismo constantemente se referem a esta morte que precisa ser reafirmada cotidianamente. Os bispos acabaram inventando um morto tão obstinaz (as vanguardas são como gatos?) que é preciso matá-lo todo dia e a qualquer custo. Ao se tomar o exemplo mais vilipendiado pelo neojesuítas, o Concretismo, em momento algum  faz referência à trajetória evolutiva do movimento. Um poeta com cinqüenta anos de produção não apenas de poesia, mas de tradução e crítica, como Augusto de Campos, nunca é abordado na evolução de seu projeto intelectual, nas diversas faces de sua poética. José Guilherme  Merquior, um dos primeiros neojesuítas, de qualidade bem  superior aos outros bispos, disse certa sobre a vanguarda concretista: vivendo sob o signo inverso, da prevalência da pesquisa sobre a obra, essa vanguarda padece de uma perturbadora esterilidade. Ora, a prevalência da obra sobre a pesquisa tem implicações não apenas estéticas. A obra é um referente fixo, bem à moda da velha concepção de arte como "obra-prima" imutável e inatingível. A pesquisa, ao contrário, traz consigo uma história em ininterrupto processo de construção transformativa.

         A moda da nostalgia dos jesuítas é uma forma de inserção no presente histórico, encarando-o a partir de uma perspectiva que empareda a crítica do presente e sua projeção futura. Trata-se de um moralismo que encara o presente a partir de um passado coeso, que permite pensar o futuro pelo que já foi e compartimentalizar as vanguardas como um outro todo coeso e fixamente situado lá atrás. Assim, as vanguardas do ontem, encaradas aqui a partir de sua dupla face, o vanguardismo e o contra-vanguardismo, a tirania da elipse e o bispado “romano” são duas atitudes políticas sobre o contemporâneo.

 

 

Gisela Anaute e Laila Abou Mahmoud

 

         Quem diz que a poesia morreu nunca entrou na internet. Lá, os poetas da nova geração têm descoberto inúmeras formas de exibir seu trabalho. A lógica é a mesma dos aspirantes a pop star, que tentam sobressair na web para cativas fãs e, quem sabe, chegar ao mercado de massa. Os poetas montam perfis no ourkut e no myspace, criam podcasts de leituras de poemas e vídeos no youtube, freqüentam fóruns de discussão, trocam mensagens com escritores portugueses e mexicanos e até escrevem poemas em conjunto, por e-mail. Além de, claro, publicar poemas blogs pessoais e coletivos. Os blogs são a mais eficiente vitrine para a poesia moderna. Alguns têm cerca de cem acessos diários.  É muito mais que a tiragem média de um livro do gênero, em geral na casa dos 500 exemplares.

 

 

Érico Nogueira

 

         Decrépito e sem propósito, hoje, é poema-piada, é vanguardismo besta, é poesia concreta après la lettre; e o difícil, hoje como sempre, é fazer algo que presta, algo realmente relevante ao momento em que se vive, quer se trate de um poema mais "antiquado", ou mais "modernoso". Como o Borges de Formas de uma legenda, por fim, sou dos que pensam que as questões fundamentais, as que realmente importam, se repetem quase que sem mudança ao longo do tempo; e que a poesia, a despeito de uma ou outra variação de media e de técnica — sempre superficial —, continua a ser da alçada do improvável, do maravilhoso. Portanto do aristocrático.

 

 

Dirceu Villa

 

         As críticas são obtusas porque não lêem forma & sentido juntos, & porque flagram um despeito, como sempre, invejoso. Inveja de uma arte que, sendo incrivelmente inovadora & única, era ao mesmo tempo veículo de desavergonhada beleza.

         Mas uma nova beleza. Sua primavera não é a primeira que lemos em Guilherme IX, de Aquitânia, no século XI-XII, ou na longa tradição de louvores primaveris, que eram um gênero por si só: ela é renovada pela aproximação brusca de coisas muito distantes, pela arte do fragmento, pelas implicações formais de sentido, pela invocação que pressupõe uma oposição entre natureza & mundo maquinal, mas não finissecular: a de quem conheceu os amores tecnicistas do futurismo.

 

 

Ricardo Domeneck

 

         A poesia como arte é criada como trabalho verbal, vocal e visual, partindo da materialidade da linguagem, como queria Jakobson para a função poética, mas todo poeta deveria ser também crítico, o que exige que ele eleja ainda outra tríade de preocupações. Eu creio que aquilo que chamamos de verbivocovisual está incluído por completo na preocupação com o material. O material à sua mão, o trabalho, digamos, microscópico, o manejo das formas poéticas da tradição. No entanto, este trabalho técnico precisaria unir-se à consciência da função que cada uma das formas históricas assumem em cada momento específico e diverso, pois escrever sonetos hoje tem, obviamente, uma função muito distinta daquela do tempo de Petrarca, assim como as diferenças entre uma sextina de Arnaut Daniel e as de um poeta em 2009. Tudo isso liga-se à consciência histórica do poeta, compreendendo o contexto em que seu trabalho se insere.

 

 

Décio Pignatari

 

         Mudei de lado. A poesia é sempre síntese. A cabeça do poeta está voltada para fisicalidade da palavra. Qualquer poeta a sente em suas diversas dimensões, da visual à musical. O contato com a fisicalidade está até na poesia estruturada em prosa. É o caso de Finnegans Wake, de James Joyce. Meu mestre em matéria de poesia e prosa é o Oswald de Andrade. Me admiram a síntese da história, o modo de ir direto ao assunto, de ser econômico, de criar algo inesperado, de ficar entre o real e o irreal. Quando vou para a prosa hoje, é o céu. Não tenho que sofrer.

 

 

Vitor Cunha

 

         Os poetas são todos chatos. É uma questão de simpatizar com a dor deste ou não.

 

 

JCM Medeiros

 

         Uma pergunta simples, para ser respondida com franqueza: o que os leva a comentar uma poesia aqui no fórum? Para incentivar o poeta? Para desincentivar o poeta? Para analisar o tema? Para analisar o estilo? Para que ele comente também a sua poesia? Para que ele se lembre que esqueceu o dinheiro por sobre a geladeira?

 

 

Diego Ramires

 

            Versinhos bonitos, lirismo impressionante a visões terceiras é belo, rima pobre, rima rica, rima para pata que sumiu é bonito. A poesia é coisa de sangue, conheço muitos que não detêm qualquer técnica, mas me instigam a escrever versos, só Deus para crer, melhor que os ditos "poetas". O maior de todos os poderes é o que comove o coração humano.

 

 

Thaty Marcondes

 

         Improviso na escrita: eu não sei as regras técnicas da arte da poética. Desconheço os parâmetros, os ditames e as formalidades do douto escrito. Só entendo de sentir, desabafar na escrita: palavra grafada que traduz o meu sentir, grafia apalavrada que acalma minha dor, frase que escapa mostrando meus pedaços, textos sem forma expondo minhas ideias. A inspiração me impede que pense, repense uma frase. Quando deito as palavras, maculo telas e pedaços de papel sempre em rascunhos que se tornam definitivos, pois sou, eu própria, um esboço em carvão da poesia: jamais tela pintada, em definitivo uma obra-prima.

 

 

Joana Sousa Freitas

 

         Poesia é tudo isto e muito mais, para mim é liberdade de expressão, pureza da alma, sangue que nos corre nas veias com melhor ou pior talento. A escrita é paixão pelas coisas, pelas pessoas, pelo que nos exterioriza e interioriza, o que está no mais fundo de nós, é alegria, tristeza, oscilação e dúvidas, é razão e coração, e o tudo e o nada, o cheio e o vazio.

         A poesia não serve apenas para ser apreciada, serve também para nos fazer refletir, tentar compreender, como somente para se iluminar por ela.

 

 

Dirceu Villa

 

         Então, como poeta, vou fazer deste "para onde vamos?" um exercício utópico, em homenagem a Thomas Morus e a todos aqueles que perderam seu tempo sonhando maravilhas de papel. Subitamente, as editoras começam a se interessar por autores novos, bons e diferentes daquilo que é rotina escrever, isto é, subprodutos do concretismo e do drummondismo, e o metaforismo naïf, coisa que nunca desaparece de todo. Os críticos se cansam da conversa fiada da teoria e do sociologismo, recobrando a lucidez que gerava magníficos textos e discussões pelo jornal; leem os bons escritores novos que estão sendo publicados pelas editoras, estabelecem leituras instigantes para suas obras e revisam o cânone anterior repropondo alguns autores antigos fundamentais e deixados meio na sombra, ou simplesmente fora das antologias ruins que temos. Os próprios escritores e poetas mudam: ao invés de apoiar o trabalho bom ou mau de amigos, ou de gente que escreve igual a eles, se interessam por boa literatura seja de que jeito for; daí a pluralidade do meio não ser mais apenas a da contingência gerada por grupos de maus escritores iguais, mas a flexibilidade de vários bons escritores diferentes. A mídia se interessa também e propaga a ideia, novos programas de TV, assim como jornais e revistas, deixam de lado tudo o que se sabe sobre programas sobre literatura e criam um novo estilo de apresentá-la, buscando esses autores para leituras, performances, conversas, ao invés de esperar uma carreira se estabelecer em vinte ou trinta anos de esforço inútil e completa obscuridade. Os leitores não se incomodam mais com qualquer coisa que lhes é oferecida, e passam a participar da literatura como se participa da música e do cinema. O governo finalmente percebe que é impossível levar adiante um país cada vez mais ignorante. Finalmente percebemos onde é que fomos parar: não se trata de um paraíso artificial. O que havia antes é que era uma situação impensável, uma coleção de absurdos, o mundo dos livros de Kafka tornado cotidiano e tributável. Agora não estamos mais naquela farsa meio sombria, é como se estivéssemos acordado sem a transformação em insetos monstruosos como os do pesadelo. Boa sorte para nós, então.

 

  

Lucas Murtinho

 

            A internet é o avanço tecnológico que permite o momento punk da crítica literária. Comecemos pela raiva, que muitos críticos profissionais parecem sentir por seus colegas virtuais amadores, que nasceu do outro lado da fronteira: são os leitores transformados em críticos que primeiro fumegaram contra os profissionais. E não sem alguma razão. O importante para a discussão não é definir a qualidade dos livros desprezados por jornalistas e acadêmicos literários e sim saber que há um grande e até pouco tempo atrás silencioso público para essa literatura. Ao dar espaço para esse público, ao possibilitar a criação de sites de fás e fóruns de discussão, a internet contribui para compensar o esquizofrênico discurso segundo o qual o lançamento de um livro que menos de dez mil pessoas vão comprar e um número ainda menor vai ler pode ser visto como um grande evento cultural.

         O primeiro argumento profissional contra os amadores é estatístico: a maior parte da crítica literária que se encontra na internet é de baixíssima qualidade. Uma versão um pouco mais elaborada do mesmo argumento é que na internet os raros bons críticos se perdem na multidão de nulidades. Parte-se então do elitismo implícito para o explícito, questionando o direito de pessoas sem o arcabouço cultural correto à crítica. O crítico precisa, para emprestar de Harold Bloom um termo detestável, "ter ingerido" todas as obras importantes; estudar as opiniões e teorias dos seus antecessores; ser proficiente em cultural studies, marxismo cultural e pós-estruturalismo, para citar apenas algumas escolas de pensamento. A hesitação, passiva ou agressiva, em usar o termo "crítica", transformando o que deveria ser descrição objetiva em elogio, é um aspecto desse ponto de vista equivalente a dizer que antes de formar uma opinião sobre a música de uma banda [p.ex.] é fundamental saber se seus membros freqüentaram um conservatório de qualidade. A abordagem do it yourself da crítica literária amadora: 1. ter um livro, 2. escrever um texto sobre ele, 3. publicar o texto na internet.

 

 

Ruth Trindade Braga Santana

 

         Torna-se necessária a elaboração dos seguintes questionamentos: de que forma a crítica literária se insere no espaço da internet? Como se configuram as polêmicas ali travadas? E, num questionamento mais amplo, como se discute a crítica literária na internet?

         Esse espaço de confluência de ideias que é a internet vem a se constituir como mais um ambiente de discussão da literatura e da crítica literária, como afirma Rachel Lima no ensaio em que se apresenta o projeto Observatório da crítica: ...novos atores sociais vêm revitalizando os debates sobre literatura e sobre a crítica literária, transformando o espaço virtual em uma ágora pós-moderna, na qual as afinidades eletivas deixam de ser escamoteadas em nome da pretensa objetividade e imparcialidade da crítica acadêmica, instaurando-se uma indissociação entre as esferas pública e privada. Através das revistas eletrônicas, dos blogs e fóruns de discussão, novas subjetividades vêm sendo formadas, novas possibilidades interpretativas se tornam visíveis e os conflitos ideológicos encontram um lugar para serem encenados.

         A crítica literária tem ocupado outros espaços de circulação, dentre eles a internet, que funciona hoje como um instrumento de divulgação e de acesso a novas produções literárias e críticas. Um bom exemplo disso são as revistas literárias, como a Rascunho e a Cronópios, que não apenas cumprem esse papel, mas também se abrem à colaboração on line dos leitores. As revistas literárias eletrônicas, assim como os rodapés e suplementos em época anterior, consistem num local encontrado pela crítica literária para promover suas discussões, num território que ultrapassa a academia.

         As matérias de caráter metacrítico levantadas durante a pesquisa apresentaram diversos posicionamentos e questionamentos sobre o exercício crítico, que abordavam o tema sob diferentes olhares: do mercado, da ética, da liberdade de expressão e da própria dificuldade da sua realização. Dentre elas, destacam-se dois pontos: no primeiro, considera-se a persistência da polêmica como um recurso usado para se tentar obter a legitimação dos nomes daqueles que nela se envolvem no campo das Letras. No segundo, a utilização do decálogo testemunha o desejo de normatização que acompanha o labor crítico.

         O que aconteceu então foi um fenômeno bastante comum no exercício crítico: a luta por se impor como uma "autoridade intelectual". A polêmica enquanto instrumento nessa luta se constitui antes como espetáculo que como construção de um pensamento crítico que interfere no exercício da crítica, no sentido de torná-la menos personalista e mais analítica.

         Logo, a polêmica pode ser vista menos como uma discussão democrática que se faz num debate de ideias  predisposto à revisão de um pensamento e até à reconstrução de uma tradição, do que como uma tensão criada a partir do conflito entre convicções distintas e que, possivelmente, encobre a política de favores e de troca de elogios que atribui ao exercício crítico um caráter de conveniência.

         Outro fenômeno a ser destacado e que uma pesquisa subseqüente revelou ser bastante comum, é a tentativa de construir o perfil do crítico ideal, um manual que possa ser aplicado em diversas situações. Diante da realidade de uma crítica literária que se apresenta mais como publicidade e meio de distribuir elogios e ofensas e menos como análise e pensamento crítico. Nelson de Oliveira escreve o texto Decálogo do resenhista, no qual pretende estabelecer aspectos imprescindíveis para se fazer uma resenha crítica. Regras como leia o livro todo e não resenhe o livro dos amigos, encontradas no texto, podem demonstrar a relação de clientelismo que forma a crítica literária hoje, como também evidenciar a inabilidade e imperícia do profissional ou uma parcial falta de conhecimento sobre como proceder numa boa análise crítica.

         Não resenhe o livro dos amigos. O vínculo afetivo sempre compromete a análise literária e, via de regra, o resenhista tende a ser mais condescendente com o livro dos amigos. Quanto mais distante o resenhista ficar do livro dos parentes, dos amigos, dos colegas de trabalho, mais legítima será sua resenha (OLIVEIRA, acesso em 15/01/06).

         Como afirma Paulo Franchetti, "uma das principais funções da crítica hoje é explicitar e analisar com rigor e com frieza as causas e efeitos da recusa à crítica que parece ter-se instalado na cultura brasileira dos últimos anos" [Nota da editora: Em "O Mercado da Crítica". Clique aqui e leia] No texto Os 10 mandamentos ao crítico, de Paulo de Toledo, publicado pela revista Cronópios, em dezembro de 2005, em um tom bem-humorado, o poeta e ensaísta apresenta o seu decálogo. De Não matarás a obra alheia à Não furtarás as ideias de outros críticos, a lista de preceitos, uma alusão aos 10 mandamentos bíblicos, talvez seja um indício da tentativa de se definir os parâmetros que hoje possivelmente têm deixado de ser seguidos por um discurso que já não se pode mais distinguir com clareza se universitário, amadorístico, publicitário ou jornalístico.

 

 

Márcio Almeida (como podia ser qualquer poeta-internauta-crítico)

 

         Site com o nome Lokaliza tem 28 PÁGINAS de homes SÓ de POESIA na internet. Não dá nem para reproduzir aqui, o que seria rebarbativo e preguiçoso, uma vez que pesquisar a lista poderá se converter num prazer hipermidiático, em objeto de estudo da influência da internet na globalização da poesia, e na constatação irrefutável de tudo o que se falou e fala neste 1º SIMPÓSIO VIRTUAL DE POESIA. O impressionante nesta relação é a pulverização poética disseminada com a hipermídia. Há endereços para consulta de poetas que mudaram a história da poesia e da literatura, como T.S. Eliot, Maiakovski, Fernando Pessoa, Cummings, Pound (O Poema), a centenas de poetas espalhando a cântaros planetários suas emoções sentimentalóides, solidões versejadas, homenagens às mães (Poesias da Mamãe! — poesias escritas com muito sentimento por minha mãe, durante momentos de grande inspiração e amor!), amadas, crianças, heróis modernos e pós-modernos, datas cívicas, poemas com fotos, videopoemas, letras de músicas, mensagens de otimismo, trabalhos escolares, vencedores de concursos de trovas, links para sites de cartões virtuais, audiovisuais usando Java applets, clubes para se fazer amizades "poéticas", poesia non sense, poemas que expressam a amargura de viver e perder (Darkness Side), significados de homófonos, o maior de bazar de vaidades da Terra, pensamentos, religiosidades em verso, "amor como o a mais pura manifestação do ser humano", textos para reflexão, livros completos em domínio público, poesia erótica, gótica, misticismo, "sinergia positiva no campo espiritual e cultural", livros clássicos para download, orações e links de lazer, cadastro de sites de busca, livros de poesia virtual só de autores contemporâneos, "poemas depressivos e reflexivos", "cantinhos românticos na internet", poemas com imagens e música de fundo, poemas para pedir desculpas, coletâneas de poesia escrita por mulheres de várias partes do mundo, traduzidas para o português, "poema omnivorus da existência desrealizada, da Criação à Finitude, o nó górdio da civilidade selvagem passado a limpo, ou melhor, repassado ao denilírio monocor" (sic!), oficina de poesia, comércio de livros impressos via e-mail, Poemar — poemas que vêm do mar, poemas declamados em formatos mp3 e wave, realAudio, gifs animados, haicais. poemas e auto-ajuda para drogados e alcoólicos (Poesia Descalça), Poesia Experimental, poesia insana, poesia latina, Poesia Sob Medida ("serviço de criação de poesias sob encomenda"), Poesia Splash ("dicas de como escrever poemas nacionais e internacionais"), Poesia Social, Poesias & Fragmentos Poéticos — "possuidor de uma lírica poética clássica, que remonta ao século XVIII, falando sobre aspectos da vida contemporânea", Poesias Ponto.com — onde "cada texto é seguido de breve análise literária e/ou gramatical", webzines independentes, Poetas Pela Paz — "poesia, denúncias, artigos tratando de assuntos como direitos humanos, paz entre os povos, humanismo e movimentos de massa" (similar: Resistência América Latina), Pop Box — "site de poesia visual, sonora, em verso, tradução e experiências intersemióticas", Projeto Poesia Brasileira — "tem por objetivo ser um auxiliar do professor na tarefa de estimular e promover o interesse dos alunos pela leitura de poetas brasileiros", Random Place — "poesia ao acaso que você gera. Shakespeare, Byron, John Cage e outros num total de 15.000 diferentes", Só Sonetos, Sociedade de Poetas Infinitos — "grupo de poetas escrevendo ao infinito", Sociedade dos Poemas Inocentes, Sociedade dos Poetas Anônimos, Sociedade dos Poetas da Montanha, Sociedade dos Poetas Mortos, Sociedade dos Poetas Urbanos, Sociedade dos Poetas Tristes,Templo da Poesia,The SZZ, poetas do fim do milênio, Toda Viagem do Olhar é uma História, antologia poética organizada por Claudio Daniel de autores brasileiros dos anos 90, Vero Produções — projeto destinado a mobilizar alunos, pais e professores da rede pública do Ensino Médio em torno da poesia, além de outras centenas para publicação de ensaios, artigos e crítica de poesia.   

         E não acaba aí: o tsunami poético-virtual já alcançou tamanho gigantismo mundial que autorizou a origem de uma Academia Virtual Brasileira de Letras (AVLB), fundada em maio de 2001, com direito a estatuto, filiação de internautas — e pagamento inclusive de taxa anual de R$95,00. Em seu Art. 1º, a entidade divulga a que veio: "visa agenciamento, ensinamentos, cursos preparatórios, virtualismo — Escola de Autores, Escritores e Poetas Virtuais, editar livros, construção e design de home Page, sites e comercialização de espaços publicitários via internet". A AVBL tem por objetivos: "reunir artistas, autores, escritores e poetas virtuais, divulgar suas obras, servir de elo e ponto de encontro entre artistas virtuais". E define artistas virtuais como sendo "todos aqueles que elaboram seus próprios sites e utilizam do computador para divulgar e confeccionar seu trabalho através de sites e e-mails, demonstrando assim amor profundo (sic!) à arte de digitalizar, consequentemente transportando da vida "virtual" à vida real seus dons artísticos, seus sentimentos e conhecimentos, os quais manifestam através de suas "artes" no mundo virtual e real". A entidade é um bocado exigente para inclusão de um membro: "Será considerado membro AVBL o autor que tenha o número de cem obras publicadas (ou superior) no site da Academia". Mas afrouxa: "O autor poderá publicar diariamente até três textos", cuja publicação é gratuita. Mais: "Art. 5º - O(a) próprio autor(a), escritor(a) e poeta virtual indicará seu patrono ou patrona, que será incluído(a) no cadastro de sua biografia". Outra condição: "Art. 6º - Os membros deverão estar se atualizando no sentido de produzirem inovações, com relação à pesquisa na área tecnológica, transportando seus conhecimentos à arte de criar e escrever". A AVLB não admite "atos que venham ofender pessoas ou entidades em quaisquer comunidades, reais ou virtuais; violência, racismo, pornografia ou qualquer ato criminoso", corroborando, em contrapartida, a "crítica construtiva em prol do crescimento intelectual e pessoal dos membros". O trabalho da Academia Virtual compreende: publicação de textos online, confecção de e-books, editoração de livros de papel, publicação de antologias, cursos literários, encontros, reuniões e discussões sobre o desenvolvimento da literatura e arte visual.

 

 

Referências

 

 

 

outubro, 2009

 

 

 

Márcio Almeida (Oliveira/MG). Poeta, autor de vários livros, jornalista, professor universitário e crítico de raridades.
 
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