O tempo e o vento | Bruno Vieira | Fotografia em metacrilato | 60x80 cm | Ed. 215 | 2009
 
 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

Volto ao deserto

A fotografia não revela o olho do fotógrafo

No laboratório da vida

A morte impossível se revela.

No vídeo caseiro

Todos os jardins estão secos

E cheiram a garrafas vazias de coca-cola

Caminho por outros caminhos.

Os atalhos são desenhos feitos pela terra.

Os muros estão descascados

E meu olho percorre imagens

Nesse descolorido pelo tempo.

O espaço rói os alicerces:

Distingue-se pela nudez das paredes.

As casas se miltiplicam

Em cortinas cerradas e coloridas

E os homens com suas mulheres

Trepam, às vezes, escondidos,

Às vezes na claridade solar

E se esquecem da declaração de amor e ódio

Para sempre cumprida.

 

 

 

 

Razão

 

 

Esse texto foi escrito e reescrito muitas vezes. Mas o tema é constante no livro. Foi observando algumas fotos de João Castilho e vendo um vídeo de Cao Guimarães que ele — o poema — me surgiu. Briguei muito com os adjetivos e acabei por praticamente tirá-los todos. O verbo miltiplicar e não multiplicar é o que mais me resolve linguisticamente nesse caso. Nele revejo cenas das fotos e dos fotogramas desses artistas e me vem à sensação de deserto do tempo e do espaço dentro dos seres.

 

dezembro, 2010
 
 
 
 

Vera Casa Nova (Belo Horizonte/MG). Professora da faculdade de Letras da UFMG, pesquisadora do CNPq, doutora em Semiótica pela UFRJ, pós-doutora em Antropologia Visual pela EHESS/Paris, França. Tem diversos trabalhos, poemas, ensaios,  estudos e pesquisas publicados em livros, jornais, revistas, suplementos literários e internet do Brasil e exterior. Autora, entre outros, de  Lições do Almanaque (Belo Horizonte: Editora UFMG) e Desertos (Rio de Janeiro: 7Letras).

 

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