fecho éclair

 

desabotoa-toa

— ô lua ô loa —

a roupa, a sandália.

 

punheta-me-ame. arme

na minha cama. siririque

apêndice entrepernas.

 

traz sua boca. me

lambelambe sujalangue.

muda: o beijo oco.

 

atenua-nua-nua.

nuance relance

perfume realce.

 

cócega cega. vai!

dá mais um pouco

de brilho branco —

corta-septo — e deixa

fanha a fala falha.

 

e é.

e vem.

 

não come mel;

mastiga abelha.

sortilégio sacrílego

no corpo chafurdado.

 

depois pensa:

 

"era pra ter comido,

mas deu foi chabu".

 

 

 

 

 

 

sorvete

 

suado corpo

em

outro corpo

 

desço

 

no raso

em reza

 

queixo a baixo

molhado perpasso

 

querendo perfaço

perfeição galante

 

nada garanho

ou garanto

 

prece pra que

nada apresse

 

faço o que me

parece mais fácil

 

 

 

 

 

 

oásis

 

exsudo nó de gota

pingo em zinco

 

quente

 

qualquer

coisa fora

ressoa

 

quando

corpo inerte

ressente

 

quer

despir-me ainda

frio

 

quer

vestir de cheiro

tédio

 

maza na moringa

 

pra beber

quero eu

de cá

e só

 

 

 

 

 

 

lance de ombro

 

bacará teimado, aposto

nossas metades todas.

 

ficela atuada, cubro nossas

caras, fichas sem coroas.

 

juntos, qualquer nota, prova

dos nove, sete manilha.

 

e recente, dentro, môo

a conversa provisória

 

de sempre, misturando

meios, miragens: mixórdia.

 

a hora é megera. requinte

de copas é dar o suíte.

 

largar o hábito. não la-

mentar hálito perdido.

 

 

 

 

 

 

translúcido

 

osso com osso em cama de só

arranco o rascunho dos olhos.

 

lambo o grafite e balanço

um corpo de risco fixo.

 

danço na ponta da língua.

 

desejo raptar a curva pose da anca-

dura com dedos melos, embalados;

 

despojo. mas da janela vem

a cutilada de uma canção brega;

 

fica de esguelha um desenho

no vapor cansado do espelho.

 

depois o anúncio: o peso limpo da tela.

 

e penso, pescoço penso arriba:

arremedar fuligem, asfaltar nuvem.

 

 

 

 

(imagem ©daniel horacio agostini)

 

 

 

 

André de Freitas Sobrinho a.k.a. Capilé nasceu na margem mansa do Sul Fluminense em 1978. Residiu em Juiz de Fora/MG na última década, graduando-se em Filosofia na Universidade Federal de Juiz de Fora. Criador e organizador do ECO — Performances Poéticas. Parceiro de ações do Texto-Território [ www.textoterritorio.pro.br ]. Publicou, em parceria com Carolina Barreto, o livro de poesia Dois [não pares] (ed. FUNALFA/Anome). Atualmente, reside no Rio de Janeiro, onde cursa mestrado em Literatura Brasileira pela PUC-Rio.