poema-objeto "danza", do venezuelano franklin fernández
 
 
 
 
 
 

 

O enfoque do livro Moda: uma filosofia, do jovem filósofo norueguês Lars Svendsen, é a moda no vestuário. A moda emergiu com o modernismo, rompendo tradições e buscando "o novo". Conhecendo-se a história da moda, conhece-se melhor o mundo moderno e contemporâneo. E é isso que os leitores encontram nesse livro: Um apanhado da história da moda dos primórdios do vestuário greco– romano aos dias atuais. Mas não é só. O livro faz referências a poetas, filósofos, escritores, semiologistas, historiadores e a estilistas famosos.

No campo da poesia cita os poetas franceses Rimbaud, Baudelaire e Mallarmé. "Temos de ser completamente modernos", diz Rimbaud, com muita propriedade. De Baudelaire, que era apaixonado pela moda, diz que ele a compreendia, de maneira equivocada, como uma busca da beleza eterna. Mas a melhor informação é sobre o poeta Mallarmé, contando-nos que ele editou, entre setembro e dezembro de 1874, a revista de moda La Dernière Mode, onde escrevia sozinho todo o material editorial. Inclusive, indicando tendências de vestuário. Para ele, diferente de Baudelaire, a beleza da moda era efêmera.

Lars Svendsen conta que é difícil um fenômeno social sem a influência da moda, seja econômico, político ou artístico.

Traça um paralelo entre a Moda e a Filosofia; diz que, assim como a Moda, a Filosofia muda por motivos irracionais. Conta que Hegel diz ser tolice resistir à moda, querendo pôr fim ao preconceito da ciência em relação a ela, justamente por sua aparente irracionalidade. Hegel e Kant tinham essa visão. O filósofo Kant perambulava com sapatos de fivela de prata e camisas de seda fina. Dizia ser melhor um tolo na moda, do que fora dela.

Adiante, nosso jovem pensador norueguês, chega à conclusão de que a moda contemporânea é somente uma contínua e ininterrupta reciclagem da moda do passado.

O livro é mesmo um apanhado de informações, não só do ponto de vista filosófico, mas de cultura geral, já que as roupas estão, com certeza, em todos os campos, quer queiramos ou não. O jovem pensador também frisa o importante papel da máquina de costura e da de tricotar para a democratização das roupas.

Continua seu importante discurso da moda falando sobre o terno. Curiosamente, vestuário da classe média, que foi absorvido pela classe alta e que, segundo ele, é o responsável (provavelmente por sua extrema funcionalidade) da moda masculina ter desempenhado papel modesto na história.

Outra peça que teve uma ascensão "de baixo pra cima" foi a calça jeans, que era usada por operários, conquistando em seguida os artistas, os políticos de esquerdas, as gangues de motocicletas, os jovens, a classe média e tornando-se peças de grife.

Fala que a partir de 1920 a moda feminina passa a "imitar" a masculina, atingindo sua meta em 1965, com o smoking feminino de Yves Saint-Laurent e dificultando, assim, a diferenciação entre elas.

O semiologista Roland Barthes é o estudioso da moda mais citado por Lars Svendsen. Notadamente, é sua maior influência no que diz respeito ao assunto. No capítulo "Moda e linguagem", como não poderia deixar de ser, o livro de Barthes sobre a linguagem da moda, em questão a edição inglesa da obra, The fashion system, é comentado com maestria.

O livro de Lars é permeado de referências pops, mostrando que o autor não só conhece a história da moda como o seu tempo presente. No capítulo "Moda e arte", discute até onde a moda é arte ou ofício.

Traz também um capítulo sobre "Moda e consumo" e outro sobre "A moda como um ideal na vida". Mas muito interessante é o apêndice sobre crítica de moda. Na verdade, uma palestra que Lars Svendsen deu no seminário Pense Moda, em São Paulo, em 4 de novembro de 2009. No apêndice o pensador se queixa da ausência de crítica séria sobre moda nos veículos de comunicação, sobretudo, nas revistas de modas; e fornece indicações de como a crítica séria de moda deveria atuar. O apêndice serve também para a crítica literária e a crítica de arte em geral.

Diz Svendsen que todos que leem o livro dele são cidadãos do mundo da moda. Fazendo a menção de que é impossível se esconder dela.

 

  
 

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O livro: Lars Svendsen. Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2010, 224 págs.

 

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setembro, 2010