Com sua filha Elisa ao lado do quadro "Toque Noturno".

 

 

 

 

 

 

Antes de pensar em literatura, Chico Lopes se dedicava ao desenho e à pintura, achando serem estas as suas principais vocações. O jornalismo e a literatura entraram em sua vida mais tarde, tomando a frente de pincéis e telas, mas ele nunca deixou a pintura e o desenho por completo. Sua maior exposição como desenhista foi realizada em setembro de 1978, na Fundação Cultural de Curitiba, uma individual de 60 desenhos a esferográfica. Atualmente, tendo as atividades de escritor, tradutor, programador de cinema, etc., tomado quase todo o seu tempo, continua achando poucas horas para as telas e desenhos. Mas vem produzindo quando possível e expondo esporadicamente.

A arte a óleo de Chico Lopes deriva do surrealismo — ele é admirador de artistas como Max Ernst, Magritte, De Chirico, mas também se aproxima do expressionismo via Van Gogh e Munch. Desde os anos 1970, ele vem explorando cenas enigmáticas que podem ser lidas livremente pelo espectador. A sua arte é constituída por mundos imaginários onde entram fragmentos do mundo real, dentro de um clima melancólico e metafórico que remete à poesia. "O que me interessa é, dentro desta janela para o desconhecido que todo quadro é, criar um mundo próprio, com meus pássaros, meus desejos, minhas musas cinematográficas", diz ele. "Um quadro representa, para mim, um retângulo em branco que me permite uma liberdade enorme, mas sobre o qual quero imprimir uma forma de identidade que com o eu social não tem nada a ver..."

Chico Lopes não abandonou o figurativismo, que usa de maneira muito pessoal, criando cenários surreais. "O surrealismo exige que o pintor saiba desenhar, tenha vivência de arte acadêmica, segurança no figurativismo. O interessante da escola é traçar com fidelidade relativa à forma real panoramas subjetivos que de realistas não têm nada. É esse tipo de impacto que busco — o mundo real transfigurado pela metáfora, o encantamento, a fuga, a fantasia, já que o puro realismo não me interessa de modo algum. A precisão de minhas imagens está a serviço das coisas menos precisas e definíveis. Observe-se Magritte. É o Insólito feito  com cuidado figurativo notório. Não se trata de nada que dissolva a forma, mas sim a reapresente de um modo subversivo, imprevisível. Mas tenho muita atração pelo expressionismo, porque acho que a escola lida de maneira muito livre com o desenho e explora as cores de um modo dramático e arbitrário que me interessa muito...".

O escritor está atualmente com uma mostra de 25 óleos (alguns deles exibidos nesta página) no Instituto Moreira Salles – Casa da Cultura de Poços de Caldas. A curadoria é de Teodoro Dias e o título é "Entre a Referência e o Sonho". Uma curiosidade é que há quatro retratos de escritores que Chico admira, feitos por ele mesmo, dentro de sua concepção alegórica e surreal: de Borges, Graciliano Ramos, Kafka e Rimbaud. "Escolhi os quatro porque me interessava tanto por sua vida e obra quanto pelos elementos das duas possíveis de dispor num quadro." A mostra será prorrogada até janeiro de 2011. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail franciscocarlosl@yahoo.com.br. [Divulgação]

 

 

 

 

 

Chico Lopes (Novo Horizonte/SP, 1952). Escritor, tradutor, crítico de cinema, jornalista, autor de Nó de sombras (São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2000), Dobras da noite (São Paulo: Instituto Moreira Sales, 2004) e Hóspedes do vento (São Paulo: Nankin Editorial, 2010). Seus contos e resenhas foram publicados em revistas como Cult, Pesquisa e Entre Clássicos e jornais como Correio Braziliense, Minas Gerais, Rascunho, dentre outros. Pulica regularmente crítica de cinema e literatura em sites da internet como Verdes Trigos, Verbo 21, Conexão Maringá, Cronópios e Germina. Realizou doze traduções de lieteratura clássica e contemporânea para a Landmark, Ediouro e Rocco. Vive em Poços de Cladas (MG), onde é crítico e programador de filmes do Instituto Moreira Sales — Casa de Cultura, desde 1994.

 

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