duas imagens abrasivas

 

ainda mais no alto em toda contraparte

e mesmo que de algum inesperado

o fogo lhe adornava

 

era contrário a bom disfarce

 

ainda mais no altar de todo cotidiano

 

portanto esses no mesmo esfumaço

suporta quase firme apostasia

prossegue a baixo e se desfaz

 

 

 

 

 

 

ЭS  VAI

 

assustava-se à disponibilidade da matéria

 

lâmina onde ânimo não assenta

veleidades

 

expandir subserviência

no dia cansado

esvaía-lhe o caminho

 

era da pele

anular sua volúpia sem vista

 

inverte volteia

 

dulce           ductilíssima

 

e bastara livrar-se àquela sem vontade

para entregar-se voluta

 

vórtice encalço a toda sorte

 

 

 

 

 

 

corte

 

bem ensaiava-se

a cena

encartes entrecortados acentos

animavam-se

 

igual a outros

destroços

no fundo filme mudo

que só ao dono dos olhos é sentido às coisas

 

bastou-me teu cinema

e nada mais domingo

 

 

 

 

 

 

tessitura

 

nem serve silêncio

imagem qualquer

toda palavra em negativa

disposição

 

e próprio das mãos

umas profundas  umidades

de onde a memória insiste

tremula

 

meu desejo tão desejo

 

[imagem ©till westermayer]

 

 
 
 

 

 

 

Denise Freitas (Rio Grande/RS, 1980). Escritora e professora de História. Em 2007 publicou o livro Misturando memórias: contos e crônicas de Itajaí, em parceria com Leandro dos Santos. Escreve o blogue Sísifo Sem Perdas.