OSVALDO

— Meu pai era um grande covarde, aquele maldito corno! — bradou Osvaldo sem se preocupar com os poucos clientes do estabelecimento da Rua Aurora que mal começara a funcionar.

O garçom mais uma vez passou um pano no balcão impecável, na preocupação infindável de eliminar os anéis de água que se formavam embaixo dos copos. Osvaldo olhou com particular curiosidade aquele ritual.

— Não adianta limpar e limpar. O balcão sempre vai ficar molhado, a água sempre voltará. Como meu pai deveria ter voltado. Aquele maldito corno. — E encarando o garçom, que tentava se esquivar ao mesmo tempo em que se sentia atraído pela angústia verde-gude nos olhos do cliente — Você sabe, Joca, quem foi meu pai? Foi um grande homem, isso sim, apesar de um covarde. Saiu de casa, na época morávamos em Mariana, veio para São Paulo. Veio driblar a sorte. Mandava dinheiro para mamãe todo dia 30, uma fortuna para quem nunca havia feito mais de 15 mil cruzeiros em um mês. Deveria ter voltado depois de um ano, o maldito! Saiu de casa, nunca mais voltou. Mamãe quis morrer de saudades nos primeiros meses, depois se engraçou com um estrangeiro cheio de agrados. E o outro lá não teve coragem de voltar. Um corno.

E bateu o copo vazio sobre o balcão. Joca pegou a garrafa quase cheia e entornou o oito anos que Osvaldo trouxera de casa e deixara no bar para seu usufruto. Porque aquela casa de moças não dispunha das mínimas iguarias, nem mesmo suas anfitriãs poderiam ser consideradas de qualidade, putas velhas que Osvaldo gostava de tomar como ouvintes das piadas toscas que contava e, vez ou outra, para uma necessidade em hora extrema. No mais, estavam sempre perambulando entre as sinucas, bebericando a cerveja dos embriagados a troco de uma ou outra bolinação, fazendo merrecas em menos de quinze minutos nos quartos improvisados que elas próprias mantinham ao aluguel de vinte reais por noite.

— Olha, olha lá, Joca: a Liviana já foi mulher bonita, de babar machão. Ela me mostrou fotos antigas certa vez. Hoje é essa coisa mole para todos os lados, arrebentada de tanto dar. Minha mãe, meu querido, a mesma coisa. Quando meu pai veio pra São Paulo era uma belezura só! Eu mesmo tinha ciúmes dos meus amigos a olhar sempre os peitos dela quando íamos jogar bola no campinho e ela ficava lá, tomando sol de shorts e top enquanto cuidava da turma. Os moleques babavam, aqueles putos tarados, porque você sabe, né Joca, moleque nessa idade fica de pau duro com perna de cadeira! — Osvaldo esboçou um leve sorriso — Já contei como foi minha primeira vez? Não foi com puta não, foi com prima mesmo. Uma lindeza... Claro que era prima distante, eu que não sou doido de namorar qualquer filha do meu tio Francisco, que era bem capaz dele me capar fora! Mas a Juju era uma gracinha, filha da prima do meu pai, de vez em quando saíamos juntos para andar nas bicicletas. E foi numa dessas vezes, quando achamos um monte de mato afastado (porque no interior tem um matinho em cada virada) que ela tirou a roupa pra mim. Fiz a pequena em menos de três minutos. Acho que deve ter sido uma merda pra ela, porque fugiu de mim pra sempre desde então. Depois arrumou um namorado, ciclista e economista. Casou grávida, separou e se perdeu na vida.

Osvaldo ficou olhando o copo a transpirar no balcão, a perna balançando frenética no apoio do banco alto. Joca começou a limpar novamente, ao que se aproximou do copo do cliente, que gritou:

— Porra, Joca! Deixa derramar! O que derrama não tem mais jeito, não adianta ficar limpando pra tentar esconder! Derramou, derramou, poxa! — e Joca cessou no mesmo instante o movimento circular repetitivo, como se fosse um maquinário em linha de produção que pifasse. Fitou Osvaldo:

— Deixa eu fazer meu trabalho que eu deixo você lamentar toda a sua vida de merda. E toma esses amendoins aqui porque senão você vai morrer nesse chão daqui a pouco, e a Liviana vai ter que alugar o quarto pela noite toda pra você vomitar longe dos clientes, e ela vai acabar com o lucro dela para cuidar de bêbado. Ô bicha burra... Onde já se viu puta se apaixonar por pé-rapado?

— E eu lá vou querer coisa com mulher rodada? Meu pai mesmo, tenho certeza que se um dia criou coragem de voltar pra casa, deve ter visto o estrago que o branquelo fez na minha mãe, que mais parecia boneca de brincar dele, e foi embora de desgosto. E outra, eu não quero esse amendoim cagado, não. Porque você deixa esse troço aí em cima da pia a noite toda, vai saber se não tem merda de barata aí no meio. Prefiro morrer de fígado que de disenteria.

— Quem é branquelo?

— O estrangeiro de mamãe! Não está prestando atenção na história? Era um homem branco, tão branco que a gente podia ver as veias costurando o braço dele. Eu e minha irmã tínhamos medo, de início, porque ele era muito alto, como meu pai jamais seria. Depois passávamos horas desenhando o caminho de seu sangue com os dedos. Tinha sapatos grandes como os de palhaço, e usava sempre calças pretas, dessas de terno, bem passadas pela minha mãe, presas por tiras de suspensórios. Suava como um porco, acho que lá por seus lados na Europa não se fazia tanto calor. Era sueco ou alemão, agora não me lembro, na época isso não importava. Dizia que sentia muitas saudades de seu país, e mamãe o repreendia dizendo que ele não poderia voltar. Eu e minha irmã sabíamos que viera para cá fugido, certamente outro filho da puta entre tantos homens da guerra, para se entocar nos cafundós de Mariana. Mas não perguntávamos porque gostávamos dele, apesar do medo.

— Devia ser um desses soldados que matavam judeus na guerra, sabe? Aqueles do tal do Hitler! Dizem que muitos deles tiveram que fugir para não serem presos ou torturados, parece que faziam horrores com eles, por causa do que fizeram na guerra.

— Talvez fosse, Joca. De qualquer forma, não quis saber nunca, porque comecei a gostar do panaca. Ele fazia mamãe feliz, apesar dela nem ter considerado o tempo do meu pai voltar para já se enroscar em outro homem. Mas longe de papai ela era um trapo, por vezes se esquecia de fazer o jantar ou de nos levar à escola. O branquelo acabou conquistando a todos nós: minha mãe sempre satisfeita, eu e Aninha com um pai em casa. — Osvaldo marejou os olhos e bebeu o fundo de uísque que ainda restava no copo — Me vê mais uma, Joca, e um maço de Hollywood. Maço, não caixinha, porque não vou ficar sustentando indústria de cigarro além do meu vício. Ah, e mais amendoim. Bem, não sei se foi certo ou não, mas depois do estrangeiro nunca mais faltou carne em casa, coisa rara na época de meu pai, quando só comíamos farinha e macarrão. Também ganhávamos presente em todo Natal e tínhamos um colo que nos aquecia nas noites mais frias.

— Mas seu pai nunca apareceu, Osvaldo? Você tem certeza? Olhe, eu sei que é sua mãe, com todo respeito, mas mulher apaixonada e ainda com presença acaba rejeitando homem que sai pelo mundo...

— Não sei, Joca, quem é mais cretino nessa história. Se minha mãe ou meu pai. Eu sei que o branquelo acabou por cuidar de Aninha e eu como se fôssemos filhos dele. Nossos pais não se preocuparam se a gente ia sofrer ou não com toda essa bagunça, mas no final o cara assumiu a responsa e não nos deixou faltar nada. Eu sempre achei que meu pai tinha abandonado a gente, só depois que pude perceber que dor de corno é foda. Besta ele se voltasse, mas covarde por não ter voltado e lutado pela mulher e filhos dele. Ah, sei lá, Joca, pergunta mais idiota essa... Eu tinha doze anos quando meu pai saiu de casa, e durante um ano rezava toda noite para que ele voltasse logo. Depois aprendi a aceitar o outro de mamãe e a condição que o destino nos apresentava, mas não deixei de rezar por meu pai. Como rezava em voz alta, ajoelhado ao pé da cama, pedia que o cretino voltasse, mas no fundo o que eu queria mesmo é que o estrangeiro ficasse em casa.

— Bom, é coisa pra se entender. O homem tomou vocês como família, enquanto seu pai foi embora. Quando se é menino, a gente não entende certas coisas... Toma, acende mais um cigarro, e dá outro pra mim. — disse Joca estendendo-lhe o isqueiro Bic.

— Ei, homem, mas não deixa de me filar os cigarros. Um dia, quando parar de fumar, você vai é ter que sustentar esse vício malacafento, aí eu vou querer ver. Turco maldito, não coloca a mão no bolso pra comprar um pito que seja.

— Eu vou pitar até quando você... Sou solidário ao seu vício, só isso. É o preço que se cobra por ouvir conversa de bêbado todo dia até o fim da noite.

— Rarará! Mas você não tem jeito mesmo... Sorte que é o único amigo de verdade que eu tenho nessa cidade dos infernos... Porcaria de vida... Se eu pudesse rapava o pé daqui de uma vez, voltava para Uberaba pro colo quente da Alessandra... – e dessa vez Osvaldo não conseguiu conter a lágrima que desenhou em seu rosto seco um filete de dor.

— Por falar nisso, como vão Alessandra e as duas meninas?

— Estão bem, até onde eu sei. Alessandra chora todos os dias ao telefone, sente falta. Choramos juntos. A Rafinha não quer falar comigo, diz que nem sente saudades. E a Giulia é muito nova ainda, né Joca. Três anos de idade, não consegue entender.

— É — concordou Joca limpando o balcão — só não se demore a voltar. Essas crianças crescem rápido, a gente nem vê. Daqui a pouco você volta e elas nem se lembram do pai.

— Não me demorarei... — balbuciou Osvaldo com a voz trêmula, como se duvidasse de si próprio — Porra, Joca, esse copo tá vazio de novo?

 

 

 

 

 

 

A MENINA E O VELHO

 

 

Tinha o olhar desconcertante, aquela menina, como todas as outras meninas nos seus dezessete anos. Olhava-o no fundo das pupilas, desafiadora, desvendando os seus costumes mais vergonhosos, os segredos medonhos. O homem na mesa um tanto distante não se mexia, atônito que estava, desde que percebera a menina-lince a observar-lhe por entre as cabeças dos pais. No início tentou disfarçar, tomou uma colherada da sopa, olhou para os lados e fez menção de chamar o garçom. Bebeu um gole do vinho, que desceu seco demais na garganta, assim como a garota a fitar-lhe, que àquela altura já o deixara inquieto, remexendo-se na cadeira, mas sem conseguir desviar-lhe os olhos por muito tempo.

Foi então que sentiu. Era como se aquele olhar lançasse uma comichão de fogo a subir-lhe as pernas e queimar o ventre, insistente. Uma sensação nova, de formigamento inaceitavelmente satisfatório — oh, deus! — muito semelhante às sensações que enchiam de vida a sua juventude. Percebeu que aquele era realmente um dos abalos que permeavam os momentos de êxtase de suas emoções juvenis. Mas não, não poderia senti-lo, tinha diante de si uma menina que mal havia desabrochado para a maturidade e ele (que vergonha!) um velho já no alto dos sessenta de dois anos.

Os pensamentos borbulhavam na mente do homem à medida que a sexualidade aflorava cada vez mais na garota. Era como se de cada poro dela brotasse um colorido maravilhoso, que foi tingindo-a de amor. O olhar cada vez mais inquisidor já havia traspassado por completo toda e qualquer barreira que pudesse ter sido imposta para impedir-lhe de invadir sua intimidade mais sombria. Estava nu, jogado numa cama com os olhos vendados, entregue à espera de ser possuído pelo castigo do próprio desejo.

A menina desviou o olhar para a mesa do homem. O maître completava a taça com vinho. Ela e o homem observaram o néctar rubi escuro tingir o cristal lentamente. Os dois. Como se estivessem compartilhando a mesma mesa, a mesma ocasião. Num gesto muito elegante, uma elegância talvez excessiva do ponto de vista de uma adolescente, ele segurou a taça e fez uma menção de brinde — a você, linda flor — e ela acenou delicadamente, quase que imperceptível, com a cabeça. Será que ela não come? — perguntou-se, ao notar que desde que se sentara à mesa, não tocara um só pedaço de pão. Deve ser essa moda de passarela, e se lembrou da neta, almoçava mato e jantava mato — todas querem ser iguais a cabos de vassouras, umas piaçavas ambulantes —, mas deitou o olhar sobre a garota e pode notar, pelo pouco que se mostrava por cima da mesa, que fazia o tipo fartuda: seios abundosos e ombros largos.

A comichão novamente. Subindo rápido, como brasa. Levantou o olhar que havia se colocado a passear por entre as mesas vazias durante as divagações, e lá estava a maldita a encarar-lhe a face já enrugada. Mas que diabos essa danada quer comigo — refletiu em negação, como se desejasse que alguém lhe desse um tapinha nas costas e dissesse ah, mas o senhor está muito bem conservado, nem aparenta os seus sessenta e dois anos! Mas não, ninguém lhe diria isso, porque a velhos não há quem console em casos como esses. A sociedade não há de permitir um caso de amor entre um quase ancião e uma jovenzinha, a moral não poderia aceitar sem impor todo tipo de martírio.

Degustou o vinho como degustara tantas outras vezes — tantas outras mulheres — pensou e um sorriso de contorno juvenil brotou-lhe nos lábios. A menina certamente notara, porque se aprumou na cadeira como um sabiá novo depois da chuva, tomou o copo com um suco cor de beterraba nas mãos e delicadamente, como quem tem toda a eternidade ao seu calço, colocou o canudo entre os lábios pequenos e rosados, num ritual covardemente provocativo e quase diabólico para com um senhor sério como ele. Mas ela, em sua malícia inerente a uma maturidade crua que começa a minar pelos sentidos, sabia que aquele senhor tão honrado tinha um segredo. Um não — muitos. Pois já os havia desvendado desde o primeiro momento em que pousou seu olhar sobre os dele e perfurou seus mais profundos pensamentos. Sim, ela sabia. E por isso levantou-se de sua mesa e o convidou com um aceno quase insignificante.

A noite parecia chegar morna e vagarosa como as tantas outras dos últimos dias, e algumas estrelas já rebentavam no céu azul pálido a escassas nuvens. Nenhuma brisa, ao menos um sopro. O ar úmido e pesado estava propício para uma caminhada no calçadão, e adiantar a hora das vontades de Diana seria ao menos proveitoso para sua saúde que o tempo fazia sentir. Calçou os tênis brancos impecáveis, tão limpos como se tivessem sido retirados da caixa naquela mesma hora. A cachorra pulava irrequieta e quase lhe impedia a passagem, todos os dias o mesmo ritual: bastava o dono calçar os sapatos para o bicho atingir o êxtase total, chegava a pular mais de metro, um cão que tinha menos de quinze centímetros de altura.

Já no calçadão, o mar pareceu-lhe manso demais. Um manto verde-esmeralda, reluzente, refletor das luzes de uma cidade cheia de vida, cheia de histórias, cheia de amores. O mar, esse velho vezes manso vezes agitado, animal dócil e traiçoeiro, absorvia a beleza que observava ao seu redor e a devolvia em vida. Então o homem se deu conta de que era como esse mar: um velho que amava o belo, nutria-se dele para continuar pulsando a essência. E lembrou-se da menina do restaurante, tão bela aquela doce e luminosa garota, que o despertara de sua calmaria para a vida. Sentiu aquela comichão subir-lhe as pernas e queimar-lhe o ventre — alto lá, Diana, que preciso de um ar para o coração! De fato o coração já não era o mesmo que queimou inédito naquela mesa de restaurante há dois anos, quando a garota com seus dezessete anos o encarava com seu olhar desconcertante. O pulsar era mais lento, descompassado e... triste.

Recordou o suco quase negro e os lábios rosados tocando de leve o canudo, os seios fartos arfando dentro da camiseta verde como o mar daquela noite. Como ele. Um oceano calmo demais, débil, um pouco vazio até. O olhar da menina a instigar-lhe sobre os segredos dos caminhos da maturidade que começava a percorrer causou-lhe tormentas de assombro. Recordou o convite e o depois. E as tormentas.

Vieram-lhe como flashes: a perseguição consentida, a palpitação do proibido — ora, vejam só, aventuras de adolescentes — um banheiro com perfume de eucalipto (a água desinfetante, talvez); e como cenas exibias em câmera lenta, como se nunca fossem terminar: a menina a examinar sua juventude no espelho volta o olhar para a porta onde agora o homem a admira. Ela gira o corpo e debruça na pia num gesto quase sensual, não fosse a falta de vivência nas vias da sedução. O homem atira-se sobre a garota, lambendo-lhe os seios duros e tão jovens como dois pêssegos quase prontos. E a possui ali mesmo, no banheiro daquele mesmo restaurante onde há pouco jantavam em mesas separadas, ela acompanhada de seus pais, e ele de um Château Léoville Las Cases 2002, vinho encorpado de final longo e persistente comprado em uma de suas viagens à França, por recomendação de um amigo, para ocasião como aquela — um jantar solitário para uma comemoração refinada de seu aniversário de sessenta e dois anos.

Tudo foi muito rápido. Impressionara-lhe o fato de que ainda conseguisse uma resposta de seu corpo. Aliás, o corpo. No espelho, aquele corpo abraçado ao da garota, duas figuras completamente destoantes em tons, texturas, odores, sabores. Apesar da forma física mantida pelas caminhadas diárias e a fisioterapia, a nudez era implacável: pois então, olhe aí o que você achou que poderia esconder de si mesmo! Vestiram-se sem trocar qualquer palavra — não tinham, aliás, trocado qualquer ruído desde sempre. O homem olhou a garota e de seus olhos rolou uma lágrima preta, tingida pela maquiagem — tão forte para a idade – pensou enquanto enxugava sua face com o lenço de linho, com as iniciais bordadas, que tirou do bolso. E foi nesse momento que a ressaca cessou e o mar voltou a ser manso. Saiu fugido do banheiro, deixou duas notas de cem reais em cima da mesa, deixou a garrafa do vinho especial pela metade.

Vamos, Diana, que o mar começa a se revolver — e puxou a cachorra que cheirava um pedaço sujo de coxinha frita no chão. Caminharam por vinte minutos intermináveis, os segundos pesavam a cada passo sobre seus ombros. Foi então que sentiu uma leve garoa na face e a lembrança da lágrima negra. Amarrou a cachorra em um telefone público — fique aí quietinha — e desceu os degraus de pedra que terminavam na praia. Quando a planta dos pés entrou em contato com a areia sentiu-se como se fosse a garota tocando sua pele, tamanha a aspereza do tato. Caminhou lentamente em direção à água verde-esmeralda e fitou-lhe como há dois anos alguém o havia fitado, enquanto ficava completamente nu. Lembrou-se do dia em que, com sede de vida, roubara uma beleza ainda crua. Entregou-se ao mar, e o mar nada mais refletiu naquela noite.

 

 

 

[imagens ©seelie court / kristin shobert]

 

 
 
 
Mariela Mei. Nasceu em 1983, no interior de São Paulo. Iniciou a faculdade de jornalismo, que ainda não concluiu. Escreve desde os onze anos de idade. Aos doze, teve a crônica "Sobre o Professor" vencedora do Concurso Literário Lions Clube de Orlândia/SP. Publicou em antologias em 1999 e 2000 e, de 2003 a 2006, foi colaboradora de periódicos locais e jornais universitários. Publica no Portal Literal, na revista digital Letras et Cetera e é colaboradora do jornal O Popular de Mogi Mirim. Seu livro inédito Bolas de gude (poesia) tem previsão de lançamento para o final de 2011. Entre mamadeiras e caixas de mudança, aventura-se em seu novo projeto: o primeiro livro de contos. Bloga aqui: http://gracadesgraca.com.