OS ABISMOS SÃO PARA OS PROFUNDOS

 

 

"May you always do for others

And let others do for you.

(...) May you stay forever young".

Bob Dylan

 

 

Eu era o cara velho em roupas novas que observava tudo no canto da sala. O quadro, O Escolar de Van Gogh, emitia sua energia louca, parecia haver um campo magnético ou qualquer coisa assim em volta dele. Havia Modiglianis muito bons, havia Gauguin e havia Delacroix, mas Van Gogh é outro papo. Todo o museu, melhor, todo o mundo, parecia girar em torno daquele quadro. Seria o Aleph? O princípio e o fim? E a tristeza nos olhos e no olhar vazio do menino? Eu podia ver a dor do artista desesperado naqueles traços. Eu podia ver o seu amor e seu carinho pela humanidade. Eu podia ver a ternura e a tormenta em cada canto vermelho ou alaranjado. Eu tinha impressão de que, se tocasse aquele quadro, abriria uma porta pra outro mundo, pra outra dimensão, onde eu poderia abraçar Vincent e conversar sobre as coisas da vida. Eu também tinha sofrido demais. Eu também tinha perdido tudo e fracassado. Muitos amigos meus haviam desaparecido. Muitas mulheres tinham encontrado homens mais interessantes e meus filhos agora estavam longe. Há muito tempo, eu chegara a acreditar que poderia realizar algo de bonito e grandioso, agora eu era só o cara velho em roupas novas e a menina que observava o quadro era tão jovem e tão bonita. O museu estava praticamente vazio nesse dia por causa da chuva. Havia cinco dias que não parava de chover na cidade e o feriado prolongado tinha feito muita gente fugir pro interior ou pro litoral. Eu gostava de dias assim. Eu gostava de passear pela cidade vazia olhando as coisas. Quando estava vazia, a cidade era meu espelho. Quando havia pessoas nela, a cidade me lembrava cocaína e eu tinha vontade de fugir e de morrer. A simples ideia do suicídio havia me ajudado a passar muitas noites difíceis, pois eu sabia que um dia me mataria mesmo e então não haveria mais nada, além da brancura de uma folha vazia.

A menina se distanciou um pouco mais do quadro, como para senti-lo de outra forma. Ainda não havia me notado no canto da sala. Na verdade, ela se parecia um pouco com a minha segunda esposa, aquela que... melhor nem falar dela. Na arte de odiar as mulheres são inigualáveis, além disso, eu... então o elevador parou e dele desceu um rapaz magro, despenteado e barbudo. Parecia muito doido. Atravessou as outras salas da exposição quase que correndo e se ajoelhou ao lado da moça, olhando pro quadro. Ela riu um pouco e então olhou pra trás e me viu no canto da sala. Acho que o rapaz também havia se dado conta da magia e da força. Não acredito em santos e nem em messias, mas acredito em Van Gogh. Acho que o garoto pensava como eu. Ele ficou lá ajoelhado por uns cinco minutos, enquanto a moça me olhava e fazia gestos indicando que o rapaz devia estar maluco.

— Eu preciso me salvar! — ele disse ao se levantar, abraçando a moça. Tem cada malandro nesse mundo.

— Não existe salvação. — Eu falei.

— Velho você não entende, você já fez o que tinha de fazer e eu não, eu preciso conseguir.

— Essas coisas só pioram com o tempo. Porque você sente que a morte está chegando e nada muda. Então você renova as esperanças e tenta outra vez e nada muda novamente. Quando você se dá conta, as rugas já tomaram conta do seu rosto e você continua agindo feito um menino. É ridículo. Uma piada das mais sem graça.

Então a menina abriu a boca:

— É tudo tão triste. — Disse.

Droga, eu também era um menino, mas o meu corpo era velho. Isso é mesmo ridículo. Em algum lugar dentro de mim morava um homem que queria amar, mas o corpo, o corpo estava fechado para o amor. Os lábios dela eram bailarinas e o meu espírito tinha de agir como velho, porque meu corpo era velho e a gente só pode ser por meio do corpo. Além do corpo ninguém sabe o que será.

— Não, não tem nada de triste.  Nós ainda podemos conseguir. — Disse o menino e abraçou a moça ainda mais forte.

Ela olhou pra mim outra vez meio encabulada e eu me lembrei que também já tinha sentido as coisas daquele jeito e me lembrei dos meus amigos artistas que agora estavam mortos e eu me lembrei das minhas mulheres artistas que agora estavam mortas. Todas as pessoas pra quem eu esculpi, todas as pessoas pra quem eu pintei,  estavam mortas agora. O monstro cria gerações e mais gerações pra se alimentar delas. Moloch! E toda geração acha que vai ser diferente, mas no fim fica tudo igual. Somos todos crianças sempre. Alguém aí se lembra de Judy Garland? Alguém aí se lembra de Etta James? Eu chorei ouvindo Etta James. Mantenha suas mãos ocupadas, velho! Mantenha ágeis os seus pés!

— Eu preciso beber alguma coisa. Não quero ficar com essa coisa ruim por dentro. Não para de chover e essa dor está me matando. A moça falou ajeitando os cabelos atrás da orelha.

— Eu bem que gostaria de te pagar alguma coisa, mas não tenho dinheiro. Nunca tenho dinheiro. — Disse o moleque.

— E o senhor? — Ela perguntou olhando na minha direção.

— Vamos.

Atravessamos outra vez a sala. Eu disse adeus ao Escolar e a moça apertou o botão pra chamar o elevador. Tinha um arco-íris pintado em cada unha.

 

***

 

Entramos no primeiro bar aberto. A menina pediu um copo cheio de vodka. Tinha uma sede daquelas. O rapaz pediu uma cerveja e três copos. Eu emborquei meu copo e pedi um refrigerante. Não bebia mais, havia sofrido por mais de trinta anos nas garras do mais cruel dos alcoolismos. Eles começaram a conversar. Jovens e velhos desesperançados na mesma mesa imunda. Eu fiquei quieto, ouvindo. A sobriedade, como tudo o mais, tem suas vantagens e suas desvantagens. Era mesmo linda a menina. E parecia tão triste quando sorria! A tristeza deixa as pessoas magnéticas. Mesmo o humor, o melhor dos humores, esconde uma grande dose de dor e de insatisfação.

Eles beberam mais. Continuei firme no meu refrigerante. Lá fora o céu desabava. Imensas gotas azul-claras escorriam pelos vidros e pela lataria dos automóveis.

— Um dia ainda escrevo um grande livro! Posso senti-lo germinando na minha cabeça. Quando ele sair vai ser como o Werther. — Disse o menino.

— Torço por você garoto.

— Não aguento mais beber... não tenho mais casa... não quero ir pra casa! – Disse a menina.

— Também não posso te levar pra minha casa. Moro de favor na república de uns amigos. — Emendou o rapaz enquanto pegava um dos meus cigarros sobre a mesa.

Então a menina fez uma coisa. Levantou-se. Cambaleou até mim e escorregou a ponta dos dedos pelo meu rosto.

— Você é um velho tão feio. Tem rugas tão profundas. — Disse e aí me beijou na testa, como se fosse ela a minha mãe e passou os dedos entre meus cabelos ralos.

— Se quiserem podemos ir pra minha casa. Falei.

— Eu adoraria.

Chamamos um táxi e nos escondemos ali dentro prontos pra atravessar a cidade. Não demoramos a chegar. Era mesmo bom ter vazia a cidade. Paguei a corrida e subi na frente pra cobrir os meus trabalhos. Eu não precisava mais que os outros os elogiassem. Eu era um velho. Voltei ao portão e os coloquei pra dentro. Eles beberam algumas cervejas que havíamos trazido e eu bolei um bom baseado como nos velhos tempos. E foi bem nessa hora que ficamos felizes e somamos nossas idades e dividimos por três para sermos iguais, mas, porra, eles eram mais jovens que meu filho mais novo. Sei que caí no chuveiro pra um bom banho e, quando voltei, eles estavam dormindo abraçados no meio da minha sala. Descolei uma coberta e joguei por cima. E aí peguei um lápis, uma folha de papel e os desenhei. Eram lindos. Quando terminei o desenho, peguei a câmera que eu levava sempre à mão e tirei uma fotografia. A menina abriu lentamente os olhos e, no meio de um bocejo, disse:

— Deita aqui com a gente.

Devo confessar que fiquei indeciso por alguns segundos, mas ao final, também entrei embaixo da coberta. Ela me abraçou e beijou meu rosto. Na televisão passava um velho vídeo dos Stones que minha quarta mulher havia deixado quando partiu. Um novo tipo de afeto crescia dentro de mim. Uma coisa misturada, não definida, uma coisa que eu sabia que ninguém mais havia sentido no mundo, algo feito o surgimento do amor romântico nos tempos mais cruéis do cristianismo, quando as chamas eram bem mais que uma metáfora. O que era aquilo eu não sabia, mas como todas as outras coisas intensas da vida, também me levaria para o abismo. Pouco me importava, pouco me importa. Os abismos são para os profundos. Lá fora continuava a chover.

 

 

 

 

 

RISO APUNHALADO

 

 

Submarino amarelo. É na profundeza escura das águas que se encontram as paixões mais espanholas... Espanha dos meus desejos tão distantes... Submarino amarelo, e a maioria deles não são mais que canoas flutuando na superfície dos afetos. Eu não... eu não me importo de me perder nas profundezas, não sou mesmo como você, que cria o amor como um bicho entre grades. Eu bem sei que eles te rejeitaram. Eu bem sei que você esconde um crisântemo violentado na lapela. Eu bem sei dos preconceitos injetados no teu falo e no teu ânus. Menino de ferro. Liberdade encarcerada dos seus vinte e poucos anos. De onde você se esconde pode ver as estrelas? Deus dos deslocados, tende piedade daqueles que atravessam a vida inteira sem amor. Deus dos deslocados, tende piedade daqueles que atravessam a vida sem poder dar amor. Escondem-se em escafandros e armaduras, mas no cerne do metal implantaram um coração vermelho que pulsa e pulsa. E o que se faz com isso, hein? Escarros do peito podre de meu pai fabricando a aurora e todos aqueles tios e primos gritando da margem da manhã que se iniciava:

— Joga ele no meio do rio que é pra aprender a ser homem.

Isso enquanto eu tentava, e pra minha sorte conseguia, sair do meio da correnteza. É doloroso recordar o esperma verde do fundo envolvendo feito membrana a pele dos meus pés. Mas sou forte e a superação é o trigo com que fabrico o pão cotidiano.

— Eu vou ser homem, mas jamais vou ser um homem como vocês. — Eu disse.

Tudo isso me volta agora. Submarino amarelo dentro de mim. Talvez você não esteja preparado para passar o que as pessoas como nós têm de passar. Talvez você não esteja preparado para o escarro e o estrume. O crime é uma forma de se revoltar contra o que nos oprime por dentro. Se esse mundo não me quer, eu também não o quero. É isso ou estou errado? Sei que é duro ter de ficar o tempo todo provando que também se é humano. Às vezes cansa. Às vezes dá no saco. Sei que é duro, meu pequeno, entretanto, esqueça um pouco o mundo e sua dor, enquanto mergulha todas essas angústias que você leva por dentro no meu corpo gordo. É fato que jamais seremos felizes. É fato que nos tornaremos alcoólatras... Drogados... Criminosos. É fato que o amor não vai nos salvar nesta terra. Deixa, porém, isso tudo de lado nesses poucos minutos em que criamos a nossa fantasia de amor e brindamos o que sentimos sem champagne, mas inebriados de pinga de cadeia. Submarino amarelo. Forever.

 

 

 

 

 

O SAL DAS LÁGRIMAS

 

 

Para o meu amigo Serginho,

porque nunca me esqueci de todos aqueles dias.

 

 

O Astrólogo gostava de beber. O Astrólogo gostava muito de beber. Eu também gostava, mas o Astrólogo gostava muito mais que eu. Eu andava triste e passava a maior parte do tempo no meu canto, observando tudo. Desde pequeno eu gostava de ficar no meu canto. Desde pequeno as pessoas diziam que eu era um esquisito. O Astrólogo também ficava no canto dele, atrás da banca de jornal da praça. Tinha um amor mal-sucedido, o Astrólogo, no entanto, esse amor tinha dado errado havia mais de trinta anos. Quando estava bêbado, o Astrólogo gostava de jogar o seu tarô sobre um pano muito branco que ele guardava não sei bem onde. Quando estava muito bêbado, ele cantava canções do Roberto Carlos e ficava com os olhos brilhantes e até as rugas da face dele desapareciam. Era um negócio meio mágico. Acho que só tinha uma coisa que o Astrólogo gostava mais do que da bebida, do ocultismo e do Roberto Carlos. Não... não era do seu amor fracassado, era de um cachorro vira-lata, marrom e branco, branco não, amarelo, porque a sujeira era muita, que ele trazia sempre ao pé de si. Agora não consigo me lembrar do nome do vira-lata. Sei que quando conseguia um torresmo, um salgado, ou um churrasquinho, o Astrólogo sempre dividia com o seu cão, contudo, a divisão nunca era feita em duas partes iguais. Uma parte sempre ficava maior que a outra. A parte grande era do cachorrinho, a menor era do Astrólogo, que demorava mais de meia hora pra comer até migalha de pão. Dizia que não precisava de alimento, vivia por meio da natureza e da força dos astros.

Quem não gostava muito do cachorro do Astrólogo era o Chinês, dono da lanchonete onde costumávamos beber. Era o bicho pôr as patas no boteco que logo vinha o Chinês praguejando em sua língua, ou na nossa, com uma caneca, dessas de fazer café, cheia de água pra jogar no bicho e no dono também, se qualquer dos dois bobeasse.

Vivíamos assim.

Até que um dia, o Astrólogo, milagrosamente, me pagou uma cerveja. Estava com dinheiro. Fiquei imaginando onde ele tinha arranjado a grana, porque ele me mostrou o maço de notas e eram muitas. As pessoas da lanchonete disseram que um artista muito famoso (eu também era artista, mas estava escrito nas cartas que eu nunca seria famoso) tinha vindo de muito longe pra fazer um mapa com ele e o tal artista tinha dado toda aquela pacoteira pra ele, pois as previsões eram positivas, mas não eram inventadas. Havia muita verdade em tudo o que ele, o Astrólogo, fazia em relação ao seu trabalho. Como diz o ditado, ele não brincava em serviço. Trabalhando, até sua fisionomia se tornava mais austera.

Voltando à lanchonete... o que sei é que bebi naquela noite até o apagamento. O Astrólogo continuou bebendo até o apagamento por mais três dias e três noites. Já disse que ele gostava de beber. Quando pude me curar da ressaca e retornar ao meu banco na lanchonete, me disseram que o Astrólogo estava internado no Hospital Municipal. A força dos astros não tinha sido o suficiente dessa vez e os médicos tiveram que fazer seu trabalho com a glicose e o soro habitual. Fiquei por ali com uma cerveja aberta, sem fazer nada, olhando as coisas e as pessoas como sempre fazia, até que reparei no vira-lata do Astrólogo atravessando a rua. Senti pena do cão. Como seria que ele estava se virando sem seu dono e o alimento que dele provinha? Chamei o bicho estalando os dedos e joguei o resto de um bolinho de ovo que tinha nas mãos para o animal. Nesse dia era a Chinesa e não o Chinês quem atendia no balcão. O Chinês estava fazendo os salgados lá pra dentro e, quando vinha trazendo uma bandeja recheada de quibes, e viu o cão dentro de seu estabelecimento, o homem ficou doido. Largou os salgados sobre o balcão e, sempre resmungando em seu idioma indecifrável, correu outra vez pra dentro da cozinha. Eu ainda estava rindo, como todo mundo dentro da lanchonete, quando o Chinês veio correndo com um tacho cheio de óleo quente e jogou inteiro no rosto do vira-lata do Astrólogo.

O animal atravessou a rua correndo e foi se esconder nos trapos do seu dono, atrás da banca de jornal, chorando de um jeito que eu nunca tinha visto nenhum ser vivo chorar até então. As pessoas dentro do bar ameaçaram espancar o Chinês. Confesso que até eu mesmo senti vontade de arrebentar com a cara do filho da puta, mas me lembrei dos Beatles e de John Lennon, vai saber porque, e resolvi dar uma chance à paz. O fato é que acabei salvando a pele do China. Porque não era bobo nem nada, assim que pôde, o oriental baixou as portas e desapareceu com sua esposa. Não sei se chegou a perceber o tamanho da merda que tinha feito.

 

***

 

Eu estava comprando cigarros, uns dois dias depois do incidente do óleo, na banca de jornal, porque agora eu não entrava mais na lanchonete do Chinês,  quando avistei o Astrólogo atravessando a praça. Senti um aperto no coração. Ele tinha acabado de sair do hospital. Estava até mais corado, só que, quando viu seu cachorro, esse homem desmoronou. Caiu no chão e chorou ainda mais dolorido que seu animal, quando este se machucara. Os pêlos da minha barba e do meu corpo inteiro se arrepiaram. Eu estava diante do supra-sumo, do caldo da dor. O homem não gritava, não falava, não reclamava, mas perdia o ar como um menino de dois anos quando chora demais. Era um sofrimento de trincar os ossos e quebrar os dentes. Ali, agarrados, os dois choravam juntos, mas se consolovam, se entendiam, esfregavam seus corações dilacerados um no outro, porque sabiam que um sabia o que o outro estava sentindo. E o vira-lata dizia ao seu dono:

— Vamos não chore, eu vou ficar bem.

E o Astrólogo dizia ao seu cão:

— Vamos, não chore, eu vou cuidar de você.

Entretanto, ambos continuavam chorando e se abraçando.

Há sal demais nas lágrimas. Até nas minhas. Devo confessar que também chorei. Chorei pelos bichos e pelos homens e pelos filhos dos bichos e pelos filhos dos homens, que se arrebentam mutuamente sobre a crosta dessa ferida aberta em busca de alimento. Chorei por Vincent Van Gogh, sofrendo com uma bala encravada no peito uns duzentos anos atrás. Chorei pelo Théo que morreu sem ver o sucesso do irmão. Chorei pela insanidade de tudo e por mim também que nunca seria uma artista de verdade. Quando começou a juntar gente pra ver e caçoar ou se compadecer, eu fui embora.

Dias depois voltei até à praça onde tudo o que estou contando aconteceu e soube que o cachorro ia sobreviver e que o Astrólogo não bebia havia mais de uma semana. Tinha de se manter sóbrio pra cuidar de seu bicho, era o que ele e as pessoas diziam. Cheguei a ver os dois sentados juntos sob a luz de um Sol matinal e fresco de abril. Pensei em ir até lá e dizer alguma coisa, mas me calei. Era o melhor a fazer. Fiquei ainda mais um tempo observando os dois irmãos, ou o pai e o filho, ou os dois amigos, ou o que vocês preferirem, conversarem, depois dei as costas e fui-me embora. Pra onde? Nem eu sabia. Eu tinha um boné de maquinista na cabeça e uma mochila nas costas. O emprego tinha ido pras cucuias. Tudo o que me restava era a certeza de que não pertencia mais àquele lugar, embora soubesse que aquele lugar moraria dentro de mim pra sempre. Imaginei que uma chuva combinaria mais com o final de uma história assim, mas o fato é que estava mesmo sol.

Ponta de areia. Ponto final.

 

 

 

 

março, 2010
 

 

 

 

Daniel Lopes é  professor da rede pública estadual e municipal de São Paulo. Tem textos publicados na revista literária eletrônica Amálgama. Edita o blogue Pianista Boxeador 21. Em 2008, lançou o livro É preciso ter um caos dentro de si para criar uma estrela que dança.
 
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