Ele lançou, recentemente, o livro Poesias Mafiosas —  do Tango ao Rock. Apaixonado por dança, em especial o tango, e fã dos Beatles, sua poesia está relacionada aos anos de Paz e Amor da década de 1960. O escritor é autor de outros dois livros, Do Outro Lado da Mesa — Uma Receita para Crescer na Crise... e fora Dela e Silentes Confissões — Contos Judaicos. O último, lançado em setembro de 2006, rendeu-lhe um cargo na Academia de Cultura de Curitiba (ACCUR). O livro, em forma de contos, tem como cenário a cidade de Curitiba e a cultura judaica. Do Outro Lado da Mesa... foi escrito em parceria com Jaime Aron Teig. A obra fala sobre capacidade empreendedora e gerencial. É, também, o Segundo Secretário do Rotary Club de Curitiba e Presidente da Diretoria 2009/2011 da Loja Chaim Weizmann da B'nai B'rith Paraná, que atua em mais de 50 países, promovendo os valores universais do Judaísmo. Nessa entrevista, Leon Knopfholz, empresário e escritor, fala de literatura e explica as razões da sua versatilidade. [Fernanda Lemos]

 

 

 

 

 

Fernanda Lemos - Leon Knopfholz, de onde surgiu a inspiração para escrever um livro de poesia? Você já publicou um livro de contos e um sobre a capacidade empreendedora e gerencial. Na verdade, como e quando a poesia entrou em sua vida?

 

Leon Knopfholz - Comecei a praticar dança de salão, uma atividade até então totalmente desconhecida para mim. Dessa forma, descobri o poder de socialização da dança, uma vez que alguns amigos e eu criamos um grupo de dançarinos inexperientes e voluntários para apresentações beneficentes em favor de asilos, creches e hospitais. Essa atividade suscitou não apenas a boa vontade para com o próximo, como também várias expressões emocionais de idas e vindas, encontros e desencontros próprios da alma humana. A poesia surgiu como subproduto da convivência desse grupo de amadores através da manifestação de vários autores, inclusive eu. Infelizmente, apenas eu levei a ideia de escrever um livro para a frente, mas a minha primeira poesia escrevi ainda na adolescência, e publiquei nesse livro.

 

 

FL - Como é o cotidiano de um empresário poeta? Como o poeta interfere na vida do empresário e vice-versa?

 

LK - A poesia é uma catarse. Uma forma abstrata de se interpretar a realidade. O empresário necessita exercitar esse lado, ou seja, a possibilidade de visualizar situações e contextos potenciais que podem ou não se tornar concretos, dependendo do esforço e do trabalho. Nesse sentido, a poesia e a atividade empresarial, particularmente a empreendedora, se assemelham muito, pois demandam criação e operacionalização. Em outras palavras, extrair do bruto, por escolha, convenção ou conveniência, aquilo que potencialmente está lá. Acredito, então, que fazer poesia seja uma atividade que não apenas contribui para o êxito dos negócios, como também humaniza as severas práticas capitalistas.

 

 

FL -  Quais são suas principais influências na literatura?

 

LK - É ampla e não concentrada. Mark Twain, Jorge Luis Borges, Paulo Leminski, Leon Uris, Goethe. Não há qualquer formalidade na minha formação.

 

 

FL -  Qual o significado da escrita para você? O que ela acrescenta de bom ou de ruim?

 

LK - Escrever é preciso. Viver não é preciso. Aprendi desde o lançamento do meu primeiro livro que a palavra é algo que contém muito poder. E por alguma razão — creio que de origem histórica — o ser humano é levado a crer na palavra, seja escrita, em oratória, ou mesmo, cantada. Li, por exemplo, uma entrevista do Paul McCartney em que ele fala que os Beatles poderiam ter se tornado uma espécie de Hitlers da juventude dos anos 60, e mesmo posteriormente, mas ao invés de optar pelo mal, escolheram a Paz e o Amor. Portanto, escrever significa ter a possibilidade de influenciar pensamentos de outras pessoas e já que isso é tão forte, deve ser feito com muita ética e responsabilidade.

 

 

FL - Fale um pouco sobre o seu trabalho na Loja Chaim Weizmann da B'nai B'rith Paraná — centenária organização judaica de defesa de Direitos Humanos e Valores Universais.

 

LK - Existe toda uma equipe de trabalho nessa atividade. De qualquer forma, estamos especialmente empenhados em difundir a história do Holocausto perpetrado a diversas minorias religiosas, étnicas e culturais durante a Segunda Guerra Mundial, não apenas para que o fato em si não seja esquecido e que jamais se repita novamente, mas, principalmente, porque o estudo dessa questão pode gerar benefícios à sociedade atual, em particular, aos jovens. Ao compreenderem que seres humanos após passarem por um verdadeiro inferno foram capazes de reconstruir suas vidas com amor e fraternidade — como é o caso do meu amigo Moyses Jakobson, que reside em Curitiba —, podem superar problemas da contemporaneidade, como dizer não às drogas ou mesmo livrar-se de traumas familiares tão comuns à nossa sociedade. Sem falar na gênese de referências que esclarecem o malefício de qualquer tipo de discriminação

 

 

FL - Você também pratica canto e dança. Entre todas essas artes, qual você destacaria como sendo sua favorita?

 

LK - Ainda não pratico canto, mas como meu envolvimento com o tango e a dança, de maneira geral, me inspirou a escrever poesias que, quando percebi, estavam suficientemente melódicas para virarem música, poderia dizer que uma atividade musical pode vir a ser no futuro tão favorita quanto é hoje a dança, além do que, minha dedicada audição dos Beatles nos últimos anos pode me permitir uma metamorfose de ouvinte em cantor, acredito.

 

 

FL - Por que o título Poesias Mafiosas, do Tango ao Rock? Qual o papel do tango e do rock na sua vida?

 

LK - Sou um dedicado aluno de tango. Como me considero alguém sem talento para a dança, praticar tango constitui um grande desafio, pois exige um alto grau de esforço consciente paradoxalmente associado a um contexto emocional liberto. O tango é um pensamento que se baila. Já o rock, considero uma das mais geniais invenções do mundo ocidental, justamente por sua simplicidade de expressão. É algo que atinge a alma humana contemporânea em cheio.

 

 

FL - Algum poema do livro é especial pra você? Qual?

 

LK – "Existência", que escrevi ainda adolescente. "Poesia de Ontem", "Poesia da Balança" e "Poesia do Espelho" são os meus favoritos.

 

 

FL - No final do livro há poemas em inglês. O que o motivou a explorar esse idioma?

 

LK - Procurei reproduzir as letras dos Beatles, em particular de Paul McCartney, em sua simplicidade e eficácia. Se você analisar bem, "Let it Be", "Helter Skelter", "Yesterday" ou já em carreira solo, "My Love", "Maybe I'm Amazed" são letras e melodias genialmente simples.

 

 

FL - Qual a sua relação com os Beatles? O que você mais admira no grupo?

 

LK - Gosto das músicas. Das melodias. Das mensagens contidas. Do business Beatles. Gosto da história oculta dos Beatles. Pouca gente sabe, mas em 1966, John já acreditava que não havia mais mundos a conquistar, enquanto Paul surgia com inovações do calibre de "Sgt. Peppers". Gosto de como Paul teve de ressurgir das cinzas após o término dos Beatles, enfrentar e contornar já há 40 anos, o mito de John e da própria banda.

 

 

FL - Quais são seus próximos planos na área artística?

 

LK - Quem sabe gravar, em dois anos, um disco, mas tenho de aprender música primeiro.

 

 

FL - Cite uma frase, um poema, um livro, e uma música que lhe marcaram.

 

LK – Frase: "O que a lagarta chama de fim de mundo, o mestre chama de borboleta", de Richard Bach; poema: "O Haver", de Vinicius de Moraes; Livros: Ilusões, de Richard Bach e Mila 18, de Leon Uris; Música: "Helter Skelter".

 
 
 
junho, 2010
 
 
 
 
Leon Knopfholz (Curitiba/PR) é empresário e autor dos livros Do outro lado da mesa — uma receita para crescer na crise... e fora dela, Silentes confissões — contos judaicos e Poesias mafiosas — do tango ao rock. É membro da Academia de Cultura de Curitiba (ACCUR), Segundo Secretário do Rotary Club de Curitiba e Presidente da B'nai B'rith Paraná.
 
 
 
 
Fernanda Lemos (São Paulo/SP, 1981). Jornalista, especializada em Jornalismo Cultural. Vive em Belo Horizonte/MG.