fotografia original ©felipe hellmeister

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Jovino Machado - Quem é Santiago Nazarian?

 

Santiago Nazarian - Um escritor brasileiro contemporâneo.

 

 

JM - Qual a função da literatura?

 

SN - Ampliar o universo.

 

 

JM - Por que e para quem você escreve?

 

SN - Para conquistar leitores lindos. Para tocar a beleza.

 

 

JM - O que determinou a sua opção pela literatura?

 

SN - Meu individualismo.

 

 

JM - Quem são os autores contemporâneos que você lê?

 

SN - Ana Paula Maia, Marcelino Freire, João Gilberto Noll, Daniel Galera e mais uma pá.

 

 

JM - Você segue algum ritual na hora de escrever? Precisa de silêncio? Ouve música?

 

SN - Café. Música varia. Nem sempre.

 

 

JM - Quais autores foram decisivos durante a sua formação de leitor?

 

SN - Oscar Wilde. Thomas Mann. Caio Fernando Abreu. Franz Kafka. João Gilberto Noll. Dennis Cooper.

 

 

JM - Você é mais apolíneo ou dionisíaco quando escreve?

 

SN - Dionisíaco.

 

 

JM - Como é o seu método de trabalho como tradutor?

 

SN - Traduzo corrido, sem consultar nada em dicionário. No final da semana, reviso todo o texto, buscando as dúvidas em dicionários. E ao terminar a tradução, reviso mais uma vez todo o texto, fazendo pesquisas adicionais e buscando ajuda para as dúvidas remanescentes.

 

 

JM - Você ganhou o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Literatura. Qual o significado dos prêmios em sua carreira?

 

SN - Me deu uma projeção inicial, talvez um olhar mais cuidadoso por parte do meio e da crítica.

 

JM -  Como foi a emoção de ler o seu nome pela primeira vez na capa de um livro na vitrine da livraria?

 

SN - Foi como mudar o mundo.

 

 

JM - No final do livro Feriado de mim mesmo você agradece os leitores que te escrevem te fazendo acreditar que você não está tão só. O que os leitores escrevem? Tem mais elogios ou mais críticas? Tem cantadas? Ninguém quer ficar sozinho? Qual é a pior solidão na vida de um escritor?

 

SN - Apenas elogios. Um leitor não vai perder tempo buscando o e-mail de um autor que não gostou para escrever para ele. As críticas de leitores, para atacar, só ocorrem quando eles sabem que há uma plateia maior, quando querem ridicularizar o escritor perante o público, protegidos pelo anonimato (como nos comentários de um blogue). Há cantadas também, felizmente. Ficar sozinho é bom, às vezes até uma necessidade. O duro é perceber que a vida solitária é inviável, e que o outro sempre se faz necessário.

 

 

JM - Scott Fitzgerald declarou várias vezes que investia nos contos o mesmo capricho e a mesma carga emocional que despejava nos romances. Foram os contos que permitiram a Scott não apenas viver alternadamente em alto estilo ou na mais dura pinndaíba. Como funciona isso no seu cotidiano? Você já foi barman, redator publicitário e já deu aulas de inglês. De onde vem a grana do aluguel?

 

SN - Isso agora está distante. Fiz essas coisas todas antes dos 25 anos, quando ainda estava me formando profissionalmente. A grana hoje vem dos livros, crônicas, matérias para jornais e revistas, palestras e, principalmente, traduções. De uns dois anos para cá, tenho conseguido me manter com certo conforto desses trabalhos, todos relacionados à literatura.

 

 

JM - Os seus roteiros já foram filmados? Fale sobre essa experiência.

 

SN - Não. Os processos no cinema brasileiro são lentos.

 

 

JM - O que você gosta de fazer na vida quando não está trabalhando?

 

SN - Caminhar. Ler. Assistir filmes. Jogar videogame. Malhar. E agora estou praticando kite-surf.

 

 

JM - O que você está escrevendo no momento?

 

SN - Meu primeiro livro de contos. Pornofantasma. Sai no começo de 2011, pela Record.

 

 

JM - Por que você acha que os leitores procuram o seu blogue?

 

SN - Porque acham meu universo interessante.

 

 

JM -  Qual a importância da internet hoje para o escritor?

 

SN - É uma ferramenta poderosa de divulgação. Também um veículo bastante democrático para expor ideias, sem passar por censuras, edições ou adequações de uma linha editorial.

 

 

JM - Você disse que não quer terminar a vida como João Antônio e Caio Fernando Abreu. Como deseja terminar a vida?

 

SN - No meu aniversário este ano, fiz uma trilha por um pântano e me perdi. Passei horas tentando sair dali, de pés descalços no mato e na lama. Fiquei com medo de ser picado por uma cobra, mas depois percebi que não haveria melhor maneira de morrer: no meu aniversário de 33 anos, perdido num pântano, picado por uma cobra. Já perdi essa chance.

 

 

JM -  O que é mais importante na vida para Santiago Nazarian?

 

SN - Fazer as histórias acontecerem.

 

 

setembro, 2010
 
 
 
 
 
 

 

Santiago Nazarian é autor de cinco romances, entre eles Mastigando humanos e Feriado de mim mesmo. Pela Record, publicou O prédio, o tédio e o menino cego. Seus livros e contos também foram publicados em diversos países da América Latina e Europa, entre eles Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Itália, Portugal e Hungria. Além de ficcionista, Nazarian também é tradutor, e colabora com diversos jornais e revistas. Paulistano, atualmente vive entre Florianópolis e São Paulo.
 
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Jovino Machado (Formiga-MG, 1963). Poeta. Graduado em Letras (UFMG). Publicou, entre outros, Trint'anos proust'anos (Mazza edições, 1995), Samba (Orobó Edições, 1999), Balacobaco (Orobó Edições, 2002), Fratura Exposta (Anome Livros, 2005), Meu bar, meu lar (Editora Couber Artístico, 2009) e Cor de cadáver (Anome Livros, 2009).

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