para sérgio medeiros

 

sintaxe serpente interminável
que pende mole
ou molhada
de uma árvore muito alta: tronco de água
ou um córrego que escorre da calha
não escolhe
cai espessa
se espalha
e nada

 

 

 

 

 

 

para virna teixeira

 

luz fraca na boca
e branco, tudo
muito branco: os objetos,
a cortina, o céu, as mãos brancas
esticavam a saliva
— nunca estive tão perto, espere —
agulha mole na pele mas — nenhuma dor
a pele morre aguda após
a primeira pergunta: nós dois
vamos para o céu quando acabar tudo isso?

 

 

 

 

 

 

para cláudio trindade

 

um copo cheio de água fria
transborda, diáfano
com palavras de vidro quebrado:

 

é fio de luz: recortada faca,
agudo golpe
na manhã branca

 

 

 
 
 
 

 

 

*

 

tudo se movimenta mudo
sabe-se pouco da velocidade do ar
que nos escapa —

 

ou escrito em uma página opaca
morta sobre a mesa: faca
enterrada no branco

 

a mesma ameaça — frágil
são os olhos ainda frios

 

 

 

 

 

 

dez

 

riquelme impõe com seu ritmo destro
o jogo morto ou túmulo — lento
e com um golpe preciso e certo
o seu silêncio decreta o outro.


contraste definitivo pelo vento
dois passos de monótono domínio
futebol sem sobra: lâmica, pouco
só permanece o olho em movimento.

 

se sua presença predomina o mínimo
ainda mantém o drama do barroco

 

 

 

 

 

 

*

 

quando me perco em uma cidade estrangeira
e olho para o mapa que é também uma cidade
inteira no bolso da calça
é como se a imagem do instante em que me perco
ficasse presa para sempre no papel

 

 

 

 

 

 

escrituras
 

I –

linhas de luz
escritos no ar

 

 

II –

palavras de arame
o peso de um poema
pendurado
no papel

 

 

III –

A última carta
esta página úmida
seu nome
em branco

 

 

 

 

 

 

*

 

máscara líquida

o mar é máquina

de retratos

 

 

 

 

 

 

*

 

aço de fino corte

o som repartido em golpes

as mãos de toru takemitsu

 
 
 
 
(imagens ©obras de cláudio trindade)
 
 
 
 
Victor da Rosa. Ensaísta e mestrando em Literatura pela UFSC, é autor de Piano e flauta — fragmentos de um romance (São Paulo, Lumme Editor, 2007). Organizou, com Ronald Polito, a antologia 99 poemas, de Joan Brossa (Annablume/DemônioNegro, 2009). Vive em Belorizonte. Colaborador do Centopéia, escreve o blogue Notícias de Três Linhas.