Série Resíduos | Paisagem Subaquática VI | Mariza Trancoso | Acrílica Sobre tela | 150x140 cm | BH | 2000 | Coleção Particular

 

 
 
 
 
 


 

O poema

 

 

Porque chove…

Tudo é água

Que empoça e embacia

Tudo é lágrima

Que sublima, condensa e lava

 

Porque choro…

Chovo mais que o céu

Transbordo-me

Parto palavras como se ossos se liquefizessem

 

Porque chove…

Versejo em gotas de ilusão

Espanto as horas mormacentas

Granito janelas na rua

 

Porque chove…

Salpico meus pesadelos

Nessas vidráguas, encontro a poeta

Brindamos vidros com água…

Uma de nós ganha liberdade

 

 

Razão

 

 

Poemar, prosar, cantar, vidraguar é brincar com as vozes, fazer uma aeróbica verbal, ler em situações insólitas o momento entre vogais. Dar cor à fonética, para que a leitura não seja branca, vazia.

 

Vidraguar é lamber o invisível para ancorar as imagens com a escrita. Dar voz ao sentimento para aprender a reler o que o olho de vidro não capturou com a boca.

 

Vidraguar é uma dança de anáguas que joga o poema a muitas mãos que rompem o silêncio… Versos que conversam vestindo vidros d'água, feito peles envoltas de palavras…

 

E Vidráguas é sal e voz na gola do mar, um poema de meu primeiro livro Dobras do Tempo… Uma palavra justaposta, um projeto na correnteza e no sussurro dos dias, porque dentro do mar tem rio… E Vidráguas do poema se fez blogue, editora e grupo em rede social.

 

 

junho, 2011
 
 
 
Carmen Silvia Presotto (Porto Alegre/RS). Professora de língua portuguesa e literatura clássica, psicanalista, escritora, poeta e editora. Publicou, dentre outros, Dobras do tempo (Porto Alegre: Alcance, 2001) e Encaixes (Porto Alegre: Razão Bureau Editorial/Vidráguas Produção Editorial, 2006). Mais em seu site: www.vidraguas.com.br.