O poema
temo que essa
atrofia
da
natureza
humana me definhe
temo que a
desnatureza
das
árvores
atrofie os pássaros
temo ser
degenerada
por minha espécie,
mea culpa
"rosas
rotas
alteradas"
que janelas emoldurarão então que paisagens?
que eu, estorvo,
tolhida sem elas?
a
que porta vamos ranger
os dentes, em que fome?
se só se sabe a palavra
— oração sem boca —
filhos e frutos
de
antimitos sem nome
podres e putos
Razão
O poema nasceu da angústia
diante dessa quase sentença a que a humanidade vem condenando gerações;
desse caminhar perdendo caminho, apagando os próprios rastros; desse
medo instintivo, quando penso em ser mãe, marcado pelo sentimento animal
de proteção contra os da minha própria espécie; do conflito entre qual a
pior herança: a natureza "morta" ou a morte das mentalidades — órfãos da
falta de ideais dos próprios pais: "filhos e frutos / de antimitos sem
nome". Os versos, em fragmentos, que fazem menção à "A Rosa de
Hiroshima", do Vinicius de Moraes, entram como "música incidental", para
acentuar essa degeneração que já começou, implícita numa nova ordem de
apatia generalizada, ou ainda metáfora ao que seria o ser-se
sobrevivente num mundo futuro fora de qualquer
ficção.
março,
2011
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