A Record lançou mais um. Uma velha conhecida da editora. Com vários livros publicados pela casa. Autora de A casa das sete mulheres, romance que vendeu cem mil exemplares e que foi para as telas da TV. Os aparados é o novo romance da gaúcha Leticia Wierzchowski.

A história toda se passa no Rio Grande do Sul e todos os personagens são gaúchos. Cabem aqui perguntas que me faço com constância: Por que o ficcionista brasileiro está quase sempre ligado às suas raízes? Não seria bom uma ficção sem esses elos, sem o suposto regionalismo bairrista?

A temperatura do planeta chega a níveis elevados, chove sem parar e Porto Alegre é uma cidade caótica. E nesse clima de fim do mundo a história se desenvolve: um avô, assustado pelo fantasma da mulher e da filha, se refugia com a neta gestante numa casa, meticulosamente preparada para ser um abrigo anticatástrofe, no alto da montanha.

O romance parece um roteiro cinematográfico de suspense americano. As deixas de suspense são previsíveis, como quando estão subindo a montanha rumo à casa e encontram na estrada um velho e uma criança e saem com o carro em disparada, ou quando a casa é invadida por ladrões, e acontece uma sucessão de clichês dos filmes do gênero.

A linguagem de emails, da Internet, parece que tende a assumir status de gênero literário. Acabo de ler dois romances recentes que fazem uso desse artifício: o malogrado (apesar da orelha do Moacyr Scliar) romance de estreia da jornalista Luciana Pinsky, Sujeito oculto e demais graças do amor, que na verdade abusa dos emails e Porque ela pode (também de estreia) da americana Bridie Clark.

Em Os aparados, vemos capítulos que são apenas mensagens de emails. Gosto disso. Deixo a ideia de teses acadêmicas sobre o assunto.

Ao longo da narração Marcus Reismann é seguido por um menininho que aparece e desaparece. O encontro dos dois é sempre descrito de forma muito poética, assim até o final do livro.

Leticia Wierzchowski escreveu uma história que em algumas ocasiões beira o esoterismo e em outras é embotada de poesia. Nada mais. 

 
 
   

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O livro: Leticia Wierzchowski. Os aparados. Rio de Janeiro: Record, 2009, 236 págs.

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junho, 2011