Capa do catálogo da Exposição "Brasil e a transformação da paisagem" | Fotografia | José Caldas

Galeria Piccola da Caixa Econômica Federal | Brasília | fevereiro e março de 2011

Vila da Felicidade | Manaus | 150cmx100 cm | 2003

[ destaque para o mapa do Brasil no campo improvisado de futebol ]


 

 
 
 

 

 

Na última foto do catálogo da exposição fotográfica Brasil e a transformação da paisagem de José Caldas — realizada na Galeria Piccola da Caixa Cultural, Caixa Econômica Federal, Brasília, entre os dias 2 de fevereiro e 9 de março de 2011 —, como o leitor observará mais adiante, relembramos o céu dividindo a composição, tendo ao fundo a Serra da Canastra (MG) e no primeiro plano a exuberância das cores, banhadas pela luz alaranjada, destacando a trave de um campo de futebol. Tudo aparentemente estático, mas o movimento da imagem é mais amplo. Plural, ao assimilar contaminações e influências advindas de outras áreas, em especial, a pintura. Nas 47 fotos da exposição, também percebemos a reflexão madura e esclarecida do sergipano-carioca, trazendo uma nova visão sobre a identidade, diversidade urbana e rural, e a beleza de um Brasil que ainda teima existir.

Infelizmente, um outro tipo de movimento, pontuação necessária retratada de maneira sutil pelo artista, advém de todo um processo predatório, chamando a atenção para uma constante consciência ecológica e ambiental. Além do olhar das lentes, o que assombra a paisagem são os homens e suas vocações descontroladas para o progresso. José Caldas, pleno e criativo, poético e consciente, parece repetir a pleno pulmões a vocação dos versos de Manoel de Barros: "Quero inventar comportamentos para as coisas". Ao mesmo tempo provocando, proclamando e denunciando um ensaio fotográfico fértil no qual "As árvores são mais competentes em auroras/ do que os homens", consolando a natureza com mais dois versos de Manoel de Barros.   

Observem que as imagens não se contentam com o formalismo minguado e anacrônico. A escrita da luz é reavivada por uma estética inteligente e existencialista. Por mais de 20 anos, sem mostrar sinais de esgotamento nas mudanças de paisagens, as composições de José Caldas são fototestemunhas de transformações climáticas, que merecem as ponderações necessárias de qualquer brasileiro. Os biomas, sejam do Cerrado, do Tocantins, da Serra da Canastra, do Parque Nacional do Itatiaia, da Amazônia, dentre outros, rastreiam a presença humana. Como também, por outro viés, observamos as luzes artificiais de uma metrópole que não fica apagada jamais: São Paulo.

A linguagem ensejada explora as diferentes gradações das cores, exalando uma dramaticidade na visualidade singular, fazendo vir à tona sentidos improváveis. Brasil e a transformação da paisagem tem um caráter documental, muito além do espetáculo e a manipulação da realidade. A dimensão e cumplicidade com o real formatam uma poética de confronto sutil não somente pela criatividade de José Caldas, mas pela clareza do olhar, que capta o instante verdadeiro da narrativa não marcada e selada pela saturação cromática e efeitos digitais. Sem perder de vista o caráter humanista e o respeito pela natureza, não se submetendo à formação cultural de quem fotografa. Vejam atentamente abaixo, parte da exposição. As imagens dizem tudo.

 

 

 

Campo de Altitude | Parque Nacional do Itatiaia | Fotografia | José Caldas | 250x100 cm |

Estado do Rio de Janeiro | 2002

 

 

 

Cidade de São Paulo II | José Caldas | Fotografia | 150x100 cm | São Paulo | 1996

 

 

 

Estrada na Serra da Mantiqueira | José Caldas | Fotografia | 125x50 cm | Campo Redondo | Itamonte | MG | 2002

 

 

 

Animais na Pista | BR-135 | José Caldas | Fotografia | 119x45 cm | Reserva Florestal do Taim |

Rio Grande | RS | 2002

 

 

 

Sumaré e o Bairro das Laranjeiras | José Caldas | Fotografia | 125x50 cm | Rio de Janeiro | 2009

 

 

 

Serra da Canastra | Vista da Serra da Babilônia | José Caldas | Fotografia | 240x100 cm | Divinópolis | MG | 1998

 

 

 

 

junho, 2011