UMA PARTE DO EU

 

Eu,

aprendiz de rocha,

vaga-lume

e machado

 

Dependente

de marco,

café e cigarro

 

Curiosa

por trilhas, trilhos

e sozinhos

 

Detentora de um sonho

que se perdeu no caminho.

 

 

 

 

 

 

BÁLSAMO

 

Se me perguntarem

do cheiro da saudade,

vou dizer que hoje

no final da tarde,

 

um cheiro forte

de dama inglesa

no fim da vida,

me trouxe norte.

 

O resto, só sei supor.

 

Falo com propriedade

do cheiro da saudade

que faz pulsar amor.

 

 

 

 

 

 

DESDOBRAR

 

No papel

não habitam mais

poemas

 

Vive um vazio

extenso e

dolorido

 

Um querer evasivo

me tange e tortura

gritando:

 

Cadê o adiante?

 

Eu rezo o silêncio

sonhando origamis

 

 

 

 

 

 

VAIDADE

 

Me distraio

em sombra

 

enquanto os carros

passam ao contrário

 

um pra lá

um pra cá

 

pra lá

pra cá

 

 

os meus quadris

balançam bonito

 

 

me traçam em giz

e me julgo infinito

 

 

 

 

 

 

SOU

 

Pobre

Se pensa que sou perfeita

              sou----feita

            sou----feito

de-feito.

 

 

 

 

 

 

QUIMERA

 

Se eles me veem na rua

com olhar desesperado

proclamado em lágrima,

apressam-se em concluir:

 

— É choro de criança mimada!

 

E ali,

aconchegada na calçada,

meu pranto é santificado

perpetuando a crença

num mundo de caramelos

e almofadas

 

 
 
 
 
[imagem ©rachel k]
 
 
 
 
 
 
 
Barbara Leite. Baiana por opção, mineira por identificação e paulistana convicta. Formada em Administração de Empresas, encontrou na produção cultural uma forma de unir administração ao amor à arte. Autora do livro Caramelos e almofadas (São Paulo: Editora Patuá, 2011). Organizadora do Politeama — Sarau Diverso. Foi publicada em antologias, entre elas, Os cem melhores poemas do TOC 140 (org. Fliporto e Mundo Mundano) e Os 4 cantos do mundo (org. Mundo Mundano). Escreve o blogue Poesia Eu. Diz ela que é a décima esposa de Vinicius de Moraes. Há de se acreditar. Cultiva amigos, manjericão e a paz. Há de se semear.