PERFIL

 

Sou o reflexo do que consumo e cuspo

 

o avesso de minha costura

o acerto de minhas linhas

o (in)verso de meus desejos

 

Sou o amor

na latitude dos trópicos

 

 

 

 

 

 

PRESA

 

Faminta

Abri

Boca

Pernas

Peito

 

 

 

 

 

 

A PORTA

 

São três degraus e nove quedas

 

São quinze erros

que escorregam

 

E a porta

ficou aberta

com farpas de chaves

que se perdem

 

Nas distrações percebi

a delicadeza do corpo

 

Balanço manso, morno

dois pesos

 

Pêndulo equilibrando

massas de alma

Beijo

Canto

 

 

 

 

 

 

DIRETRIZ

 

Geometrias de coeficientes

instruem ações nas minhas mãos

um seno de gestos ternos

 

E por linhas curvas

e transversais

(hipotenusas

de tua cintura)

torno-me Pitágoras

 

 

 

 

 

 

YOGANIDRA

 

Esse vapor aquoso de água terna

embaça o viço de minha pele tênue

e sinto a névoa estorvar meus sentidos

 

Como um mar em movimento

minha língua flutua à palo seco

 

Voz compassiva

efeito hipnótico de sílabas

na anestesia localizada

de minhas pernas firmes

 

 

 

 

 

 

CAFÉ

 

Não sou

como os miojos

instantânea

 

Sou como o café

 

torrada

moída 

levada à água

 

aceito açúcar

creme

insinuações

 

Às vezes

saio forte

 

Às vezes

saio fraca

 

Mas sempre

na mesma

temperatura

 

QUENTE

 

de queimar a língua

 

 

 

 

 

 

PÓS-DELÍRIO

 

Afogada na noite

que sangra nuvens de calcário

flutuo nas cinzas do teu olhar

queimando em tragos de língua

Eu te amo em voos

luzes de luas bailarinas

em pontas de dedos

com calos de sede

 

 

 

 

 

CUNHA PORÁ

 

Índia branca-flor

Olhos fechados para Aram

 

Airequecê que parece

observar

 

Teu irapuã

escorre

afinando meu dorso

no teu corpo

 

Yamí parece

cair sobre nós

 

 

 

 

 

 

FAMÍLIA REUNIDA

 

Domingo frio

com cheiro de lã

aquecendo-me os pés

 

Acordo já pelo almoço

um banho rápido

pijama velho

 

sento à mesa

 

A cinza mistura-se

com a fumaça de meu chocolate quente

 

 

 

 

 

 

PULSANTE

 

Contraio-me em diástole

eletrocardiograma involuntário

 

Sou um coração

bobo

em tuas mãos

 

 

 

 

 

 

O ESCORPIÃO E O CARANGUEJO

 

Lança o veneno doce

no meu corpo de presa

ó predador

 

Entrego-me

às mãos românticas

 

Somos um único elemento

 

 

 

 

 

 

SUAS HAVAIANAS

 

Suas havaianas

Pareciam esnobes

Grandes para meus pés

Pequena para os seus

 

 

 

 [imagens ©michelle o'kane]

 

 
 

 

Yana Moura (Picos/PI). Escritora, estuda na Universidade Estadual do Piauí, no curso de Bacharelando em Direito. Mais aqui.