Em
inglês, é assim:
Oh freddled gruntbuggly thy micturations are to
me
As plurdled gabbleblotchits on a lurgid
bee.
Groop I implore thee, my foonting turlingdromes.
And hooptiously drangle me with crinkly
bindlewurdles,
Or I will rend thee in the gobberwarts with my
blurglecruncheon, see if I don't!
Em
português, na tradução de Paulo Henriques Britto e Carlos Irineu da
Costa:
Ó
fragúndio bugalhostro tua micturição é para
mim
Qual
manchimucos num lúrgido mastim.
Frêmeo
implochoro-o, ó meu perlíndromo exangue.
Adrede
não me apagianaste a crímidos dessartes?
Ter-te-ei
rabirrotos, raio que o parte!
Li
e reli os versos em ambas as línguas. Não tirei muitas conclusões sobre
o original, e terminei por acreditar ter entendido melhor a versão
portuguesa. Ou porque meu inglês não seja bom, ou porque o tradutor
tenha procedido a um simpático trabalho de adaptação, no interesse do
entendimento do leitor. O mais provável, porém, é que eu não tenha
entendido tampouco a versão portuguesa. Apenas teria sentido algum
conforto porque me soou algo familiar. Era como se essa poesia, embora
de outra galáxia, fosse ainda próxima.
Não
soube explicar, num primeiro momento, tal sensação de familiaridade,
provocada por um objeto não identificado e ininteligível. Mas logo
percebi a razão do sentimento: basta percorrer blogs e páginas do
Facebook e livros de poesia contemporânea, para constatar a disseminação
da poesia vogon entre nós. Ou é um caso de homologia: universos
paralelos encontram formas semelhantes de expressão; ou é um caso de
influência a partir de uma matriz.
Creio
que ambas as coisas se conjugam. De qualquer maneira, há vários desses
poemas vagando pelo ciberespaço, dotados de variado grau de complexidade
e de feiúra, e me parece que são mais louvados pelos pares ou tutores os
que menos sentido fazem, ou que mais coincidem com a matriz
intergaláctica.
Impressionou-me
também o fato de que, quaisquer que sejam as diferenças objetivas, de
forma e de tema, eles têm, embora soprados por matriz estrangeira ou
avatares autóctones do gênero transgaláctico, um fundo nacional, que ao
mesmo tempo adoça e reveste de pompa cerimonial o nonsense — produzindo
o que poderia, sem modéstia, intitular-se a derradeira floração da
grandiloquência balofa.
Seja
como for — autóctone ou importada —, dada a precedência que lhe atribui
o famoso Guia, é minha opinião que não faz sentido denominar as
sobrevivências dessa antiga poesia segundo algum modelo para o qual o
sentido tinha importância. Isso seria uma traição à própria matriz dessa
espécie de arte, além de um trabalho inútil. O nome correto é fácil e
preciso, além de constituir um tributo à forma pioneira e de mais pura
manifestação: vogon.
maio,
2012