Bruno Latorre

Poema de Sete Abas

 

 

Quando nasci, um anjo desses

bem mirradinho

disse: — Vai, Bruno, ser weirdo na vida!

Fecharam-se as portas

Abriram-se as abas

no Google Chrome

 

O metrô passa cheio

de todas as gentes

Mas o que se passa em mim

passa pelo meu fone

 

O garoto tímido atrás da tela

é valente, forte e corajoso

nas suas palavras

e tem raros e muitos amigos

no facebook

 

3G da TIM, por que me abandonaste

se sabias que meu download

ainda não havia acabado?

 

Não é feio que não possa se casar

E apesar de tudo acha a vida linda

Mas ao amor faltou aulas

de geografia

Pois nisso aprendeu que há

a pornografia

 

Eu não devia lhes dizer

mas se mulher é desdobrável

gay é acrobata

 

 

Bruno Latorre

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Jovino Machado

prenez garde à l'amour

 

o meu anjo

torto e louco

manca da asa

bom de bola

ponta esquerda

mora na esquina

 

o meu anjo

toca banjo

numa orquestra de frevo

bom de briga

joga no bicho

faz serenata na lua

 

o meu anjo

beija o bar na boca

sem cadeira tem colo

intuição e sorte

bom de cama

ama egos e éguas

 

o meu anjo

é arcaico

fala aramaico

bom de papo

é moderno

não quer ser eterno

 

o meu anjo

é menina

esconde meus brincos

e me recita no ouvido

prenez garde à l'amour

tome cuidado com o amor

 

e eu não tomei

 

 

Jovino Machado

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Lílian Maial

Droit & Croissant

 

 

Quando nasci, não veio anjo nenhum,

só um tapa desses bem dados na bunda,

que era para eu já ir-me acostumando.

E houve quem dissesse: Chora, criança, que é sinal de saúde.

 

Minha mãe me achou muito feia,

meu pai me queria homem.

Só minha avó, escondidinha nos pensamentos,

me reservava um destino droit,

que de gauche já bastavam o mundo e os anjos.

 

A praga de vó deu certo,

e a lagarta voou borboleta,

aprendeu a parir asas de não sei onde,

a se fantasiar de arco-íris e ver estrelas.

 

Tudo culpa de um vírus que peguei inda menina.

Todo mundo tinha catapora,

eu tinha poesia.

 

E tinha a bronca do tal anjo,

que chegou atrasado naquele Carnaval,

correndo que estava atrás das pernas todas,

de homens e mulheres,

que anjo não tem sexo.

 

Até hoje o caído me tenta,

me suborna com os croissants de Maria Antonieta,

mas eu estou mais para a rapadura de Maria Bonita.

 

Meu Deus, por que não me contaste,

se sabias que eu era Deus,

se sabias que eu era Mulher.

 

Meu vasto mundo é o universo,

não me chamo Raimunda,

não me chamo Rosa,

e minha rima é pobre,

meu vasto mundo é verso e prosa.

 

Eu não devia dizer a Drummond,

mas esse vírus não tem cura,

passa através da leitura,

se multiplica com um doze anos,

e bota a gente com jeito de solidão,

e dá um barato dos diabos!

 

 

Lílian Maial

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Mariza Lourenço

brincadeira tem hora

 

 

eu não devia espalhar

mas esse pão-de-queijo

mas essa coca-cola

botam a gente gorda como o diabo.

 

 

*

 

 

vista vasta vista

se meu nome fosse raimunda,

melhor deixar pra lá.

 

 

*

 

 

e, então, dois anjos tortos me disseram:

vem ser anja você também.

comovidíssima, precisei recusar por motivos técnicos.

 

 

*

 

 

e neste domingo frio e de sol ardido me aparece um anjo com as asas estropiadas. bêbado. falando de lua, drummond, raimundo, conhaque.

um sem fim de besteiras (as melhores).

tô comovido, ele diz.

 

encantei.

 

 

Mariza Lourenço

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Paulo D'Auria

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Silvana Guimarães

poema sem-vergonha

 

 

quando nasci um anjo gaiato

desses que andam perdidos na vida

cochichou segredos ao meu ouvido e disse: vai!

 

todo sábado tem sol

todo domingo tem missa

toda segunda tem preguiça

todo dia tenho saudade

 

meus olhos são verdes porque era o destino deles:

com o tempo ficaram cruéis e traiçoeiros.

pra que tantos olhos respondem minhas pernas cansadas

porém minha alma

não pergunta nada

 

matilde míope atrás das lentes

carimba grampeia e despacha

fala mais do que pobre na chuva

sonha em ganhar na loteria

30 anos atrás das lentes e do balcão da repartição

 

deus me fez forte pra poder tropeçar

mas não me contou por que a melancia

tem tanto caroço

 

mundo mundo mais pequeno

se eu me chamasse marieta

seria uma bela rima e só

mundo mundo mais pequeno,

meu coração um grão de milho

 

eu fui. e vou te dizer:

poeta é quem

atira pedra na lua

e depois vai buscar

 

[1990]

 

 

Silvana Guimarães

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outubro, 2012