A. Zarfeg

À tardinha

 

 

Se me perguntarem se a prosa é superior à poesia,

direi apenas D

 

Se me perguntarem qual estação sucede à chegada, soltarei

um solitário R

 

Se me perguntarem quem inventou o verbo "filhadaputear",

vou de U

 

Se me perguntarem quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha,

emitirei um M

 

Se me perguntarem onde fica a casa do chapéu, ouvirão um

M, de Minas

 

Se me perguntarem ô da casa do chapéu, em vez de B,

lhes direi O

 

Se me perguntarem por que os anjos são tortos, minha

resposta será N

 

Se vierem me perguntar, logo a mim, qual o segredo da

noite, D?

 

 

A. Zarfeg

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Bianka de Andrade

vidinha qualquer

 

 

acordar

peitar o dia

cumprir tarefas irrelevantes

buscar por objetivos medíocres

aprisionar-se a aspirações egoístas

 

deparar-se com o meio do caminho

perceber a latência do presente

projetar-se ao que é porvir

desistir do dia

adormecer

 

 

Bianka de Andrade é natural de Desterro de Entre Rios/MG e vive em Belo Horizonte desde 2004. É graduada em Letras pela UFMG.

 

 

 

 

 

Cesar Cardoso

a quadrilha de mata-cavalos

 

 

bentinho amava capitu que amava escobar

que amava iaiá garcia que amava brás cubas que amava carolina

que não amava ninguém.

bentinho foi pra o engenho novo, capitu para a suíça,

escobar morreu afogado, iaiá garcia acabou na tv,

brás cubas foi o primeiro defunto-autor

e carolina casou-se com joaquim maria machado de assis

que sempre quis entrar para a história.

 

 

Cesar Cardoso

 
Na Web
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Patavina's
 

 

 

 

 

 

 

Cláudia Helena Villela de Andrade

Corrente

 

 

         Para Carlos Drummond de Andrade

 

Pela calçada vai um homem,

um homem seguindo um sonho,

um sonho perseguindo alguém,

que, aflito, coloca a mão no bolso.

Os óculos quase caem do olhar.

Quase caem no chão da calçada

que o homem pisa devagar,

completamente apegado ao sonho,

enxugando as lágrimas do passado,

que ficam atrás de cada passo.

 

Que homem será aquele,

que pisa no seu sonho tão suave,

que guarda a mão no bolso

e encolhe os ombros?

Que homem será aquele,

que deixa os óculos respingados,

que sorri tão triste,

de tão contente?

 

Voz suave,

Rimas ardentes.

Em cada passo,

como escravo,

arrasta atrás de si

uma corrente

de poesia.

 

Deve ser Drummond, o poeta.

Seu espectro e

sua candura eterna

nas calçadas de Copacabana ou Ipanema.

Nas ruas de Itabira.

Nas ladeiras de Belo Horizonte.

Em todos os lugares do vasto mundo.

 

 

Cláudia Helena Villela de Andrade

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Conto

 

 

 

 

 

 

Elaine Pauvolid

Coralina de Drummond

 

 

Achei a musa a quem erguerei

Restos de esperança.

O alvo de meus caminhos

É o estado de graça

Pelo poeta percebido

E que o traz a mim presente oferecido

Entre pastas e embrulhos,

A filha, a vida e o serviço público.

São apenas os dois agora neste mundo

O resto é silêncio.

 

 

[Do livro O silêncio como contorno da mão. Rio de Janeiro: Orpheu/Multifoco, 2011, p. 64]

 

 

Elaine Pauvolid

Na Germina

> Poemas

> Na Berlinda [Conto]

 

 

 

 

 

 

 

Felipe Stefani

A Carlos Drummond de Andrade

 

 

Todo abismo está no ato,

sonhou o cantor do sono.

 

O mundo suporta teus ombros,

e eles não cabem nas mãos de um menino.

 

O breve é vasto,

diz o bailarino.

 

E não tenho dedos para tecer

dentro do corpo

os estigmas do vento,

a mudez das luas.

 

Vivemos da fome, da fuga,

do exílio.

 

O resto é a bruma

que resta do impossível.

 

 

Felipe Stefani
Na Germina
> Poemas

> É o ilustrador de Sabiás & Exílios

 

 

 

 

 

 

José Aloise Bahia

homem despido

 

 

Nos  porões das famílias, bisavôs, avôs, tios, pais e filhos encontram-se

em versos que não se  cansam de ouvir. No rola mundo, a fragilidade da

honra  é  digna  de um  jardim  botânico, onde  moram ipês, lembranças,

palmeiras,  choros,  alecrins,  risadas e  a  rosa do povo, nua. Abrigos e

remédios para curar qualquer doença contagiosa.

 

 

José Aloise Bahia

Na Germina

> Poemas

> Poesia Visual

> Ars Nova

 

 

 

 

 

 

Lau Siqueira

José, tu vai me levar pra onde?

 

 

se roçar a perna

de drummond

periga ficar

de lau

duro

 

no máximo

um caminho no

meio da pedra

 

metade

da diversidade

nesse caso

fatal

 

não é sexual

 

outra metade

mineiramente

é pau

 

 

Lau Siqueira

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> Poemas

> Palavras Cruzadas I

> Palavras Cruzadas II

 

 

 

 

 

Ricardo Aleixo

           Rápido Drumundano

 

 

primeiro

tudo no tudo

e que nada escape

à imaginação

 

 

depois de

tudo no tudo

noves fora (talvez)

o coração

 

[Do livro Festim. Ed. Orikis, 1992]

 

 

Ricardo Aleixo

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> Poemas

 

 

 

 

 

Rosane Villela

Sentimento do mundo

 

 

a Carlos Drummond de Andrade

 

 

Os camaradas não disseram

que havia uma guerra.

 

Não, não disseram.

 

O medo pariu muros,

mundo carcereiro

listado nos nãos da entrada.

 

Agachem os mortos.

Falam demais.

Pulam os muros.

 

E o que mais?

 

 

Rosane Villela

Na Germina

> Poemas

 

 

 

 

 

Sylvia Cyntrão

Conversa nobre

[ao modo de Drummond]

 

 

Um belo homem, minha santa...

Um homem em sã consciência...

que me salga, que me sente,

me suporta e ratifica 

mesmo gauche e matinal.

 

Eros vate concebido

nuance de viscinal cindido

sinuoso, singular, dual.

 

A paixão desse homem, minha amiga...

É o que eu chamo de essencial.

 

 

Sylvia Cyntrão

Na Germina

> Poemas

> Sabiás & Exílios

   

 

 

 

outubro, 2012