Rua I

 

Na simetria de azul que a nevou toca

Casas riscam vitrais de desesperos

E os pedaços de alma ali passeiam

Por medo de míopes faróis

 

Um pedaço daquele medo

Um taco daquelas almas

Sou eu aleijando-me

Fugindo de mim

 

~candelabros de provérbios entre

O granito e o piche acendem o frio

Que me sobe feito uma porta aberta

Para o abismo e tal e qual um exército

Com bandeiras prontas para o ataque

Desalento, na casa do sofrer, no quarto da dor

E me lanço nos carros vivos de minha estante

 

Não moro mais em mim

 

Golpearam-me a névoa e o frio

Soletro, então, soleiras sombrias

Em línguas fogo e gafanhotos

Mas mariposas e suas asas frenéticas abafam minha voz

 

Ela estará sempre nua, a Rua

Para largar-se de mim 

Para alugar-se a lua

 

(30/12/00 — 23/09/13)

 

 

 

 

 

 

 

 

Rua II

 

O que fazer ante a Rua?

Ela não me tirou para dançar.

O que fazer ante a cena?

Golpear-me ou combatê-la?

 

Que importa a névoa fria,

Solidaria sombra?

Pierrot que ti acompanhe nesta noite. OH! Rua,

Tua máscara enfadonha e malograda cinja teu rosto como tatuagem

 

E Au Clair de la Lune

Siga até os portões da cidade

E que a luz da triste alegria dos mascarados

 

Vá a tua frente e te negues carta, caneta e palavras por mapa!

Que Arlequim sempre vença ante o amor

Pois Columbina despreza quem mora em colchões de pena. OH! Rua?

 

 

 

 

 

 

 

 

reeducação pela pedra

 

a feira de Campina Grande

é uma reeducação

que brota

intumescida pelo piche do asfalto

abafada enfurnada no amianto proibido da telhas de Brasilit

e me faz ler

o paralelogramo

das pedras

entrecoladas em mecânica perfeita pós hidratação  — (CaO)3SiO2 e (CaO)2SiO2

 (reeducação de clínquer)

paralampsia no olhar de tal lousa em que se escreve pés rápidos para o $ dos dias

verdadeiro ligante hidráulico da sociedade e que hospeda:

  1. Silicato tricálcico (CaO)3SiO2

45-75% C3 S (alíta)

  1. Silicato dicálcico (CaO)2SiO2

7-35% C2 S (belíta)

  1. Aluminato tricálcico (CaO)3Al2O3

0-13% C3 A (celíta)

  1. Ferroaluminato tetracálcico (CaO)4Al2O3Fe2O3

0-18% C4A F (brownmilerita)

 

nem Calicute em ensina tão rígido mistério diante da máquina da feira ... — ....

 

(24/02/2013 — 01/03/2014)

 

 

 

 

 

 

 

 

badalosino YAMBO

                                                         a Paul Ricceur

 

 

o

sino

a

caverna

o badalo 

o

som

o

eco

da repetição onde colinas e coqueiros crescem engordando todos moneras e protistas

                                                  contudo

                   ao pó voltarei

                   ao sino e badalo

                   som eco

                   e

                   fogo

                   e

                   cinza

                    =

                    memória }(

equação

do

perdão? quem? Jacó.

reminiscência somente ... memória-história-esquecimento ( amnésia de mim mesmo) ante a misteriosa chama de               [ loana por isso

 

aquele que foi não pode ter sido

± Ø = YAMBO

 

 

 

 

 

 

 

Je veux réserver une chambre pour deux personnes   

 

do nosso amor

toneladas de desafios

beijos de coivaras

rotos se tornam

rostos carícias

— palimpsestos do amor — 

tal qual gestos de bom dia

maquinalizados numa avenida sem fim

impelidos pelos hábitos noturnos

do nosso amor

ficando apenas a leitura dos atos mal;ditos

daquilo que de tudo antonomasicamente lhe ofertaram a alcunha de pecado

 

não quero circunlóquios

não quero poesia nem prosa

quero revolta   

pois  de  ré e de volta contem a alquimia dos amantes

o tudo e o nada

rotina plena rotina o é

e na re;volta dos corpos há plenitudes de desejos

entre as res-voltas das pernas

fiz-te

dublê de ti própria

em um marasmo de línguas e dermes angustiadas

mas o tudo e o nada

se re-sol-ve 

em toda arte

— do amor fenecemos —

confiteor Deo omnipotenti,

mea culpa, mea culpa, mea máxima culpa antes dos apelidos das antonomásias para o pecado 

que me prove e que me tenha

o ventilador de teto por testemunha 

 

pois me que esqueci

das aulas de francês

para entender 

dela desabafo espaçado

 

 

Ne                                    me                                 quitte                          pas
Il                                                      faut                                             oublier
Tout                                                  peut                                          s'oublier
Qui                                                    s'enfuit                                           déjà
Oublier                                                  le                                             temps
Des                                                                                             malentendus
Et                                     le               temps                                          perdu
A savoir comment   
--------    --------   //// -------   --------

Ne                                    me                                  quitte                         pas
Je                                                                                                 t'inventerai
Des                                                      mots                                      insensés
Que                                                     tu                                    comprendras
Je                                                         te                                          parlerai
A savoir comment   
--------    --------   //// -------   --------

Leurs                                                  coeurs                                  s'embraser
Je                                                         te                                       racontrai
L'histoire  -------- --------      A coups de pourquoi ----- Pour couvrir ton corps ---------------

A savoir comment    ------------    -----------   //// ---------  saber como …

 

gostaria de entender? pena que esqueci como era doc’enferrujado  e

                                                                                    [duro meu francÊs

senti que no frigir das pernas e dos corpos a canção vai-se triste

                                

 ne me quitte de pas / mon amour

 

 

 

 

 

 

 

 

fuga(cidade

 

minha vida?

Não sei

talvez,

quem sabe?

 

Seja  talvez

feito caneta

perdida 

antes de acabar

 

é

dizer

33 — num ritornelo pneumotoraxiano ante o espelho —

antes mesmo

que o médico

me venha intuir ... qualquer coisa argetiniana  

 

talvez seja — A VIDA — um bolo em festa de criança que se acaba antes de um piscar ...

 

 

 

 

 

 

 

 

águas p/ noite

 

ar

olhos

bebidos

ar olhos catedrais acres de carabinas em punho

detonam maçãs em carnes vivas

flor enegrecida

pelo

embranquecido sabor

de uma memória amarelada

embranquecido sabor

brota de pálpebras de ocre perfume  

que tonifica açainamente 

entre olhos e ar

# caem as chaves

#caem as roupas

#caem os corpos

 

do lado de cá corre o rio solene da foz à gruta corre corre o rio

que morde bocas pernas ossos dentes

seios rostos rotos suores / corre aquele rio que morde vereda e sertões

alimentando-se das trevas do fruto aveludado entumecido de rios

        profunda catedral onde conflui: dor e reverencia; com toda sua verve corta-se estanca-se em lençóis

como água p/ noite

                    tal/qual

      velocidade escorregadiça

no “uz” da luz, na pressa do aforçuramento do fecho fanal e luminoso no derretido vácuo...                               

                                                                 sintomefeliz

 

 

 

 

 

 

 

 

entre ebriedade e poeticidade

 

momentos

que as letras

embreagam

 

os

olhos

trocam

 

falha fala

semelhante ao bêbado

troco os pés da calçada

e

ponho a cara na rua

e as palavras...

Kabuuuum!!

no chão                   

 

 

 

 

[imagens ©mahmoud]

      

 
 
 
 
 
 
 

Johniere Alves Ribeiro (Campina Grande/PB) é formado em Letras pela UCFG. Mestre em Literatura e Interculturalidade pela UEPB. Professor na área de Língua Portuguesa em graduações e pós-graduações, Professor de Literatura e Produção Textual em escolas de Campina Grande. Ganhador do 1º concurso de Poesia e Conto do SESC - Centro (primeiro lugar na categoria poesia) em Campina Grande no ano de 2000 e do  3º lugar no Concurso de poesia  promovido pela POEBRAS – Secção Campina Grande, no ano de 2003.