chiclete                 - dá voltas sobre si sem chegar

a consumir-se

- de era da simulação

- pausa entre

o vermelho e verde do semáforo

- você mastiga-e-mastiga

sem saber

onde vai parar de barriga vazia

se pergunta o que

vim fazer aqui

ao embarcar no metrô

por volta das 15 de quarta feira

- caos organizado

 

nem faz questão de resposta

- senta com a cabeça

na janela vendo seu

reflexo

uma viagem que se faz no corpo

                   aqueles sóis seriam longos

 

- vira uma foto quase

ao sair no degradê da escada

 

pisa num chiclete

e pensa

 

o melhor seria jogá-los

no chão mesmo

de cimento

depois de serem achatados

sem

problemas

 

         acabam virando chão

 

 

 

 

 

 

amarelo                  nos enfiamos num carro e vemos

por um quadrado o mundo passar

como quem visse tudo, pensasse

é real –

pontos materiais de referência

os jornais

as califórnias

ruas tão presentes

 

a viagem continua –

 

                                               semáforo fade-out

 

 

Café

queremos um café

pedimos um café

a combinação de gestos e sons

bem objetivos

 

quero café expresso –

 

 

 

Proibido

entrar:

nosso coração solitário

silencioso

o tempo impiedoso

dos homens

                   – podemos ver

estão contidos nestas xícaras

esvaziando-se

amarelando os dentes

e ossos todos

                                                                               olhos

mostram-nos campos imensos de futebol

incansavelmente percorridos sob

o amarelo –

cor

de seus dentes

estava lá para

arder

suar na hora do pênalti

sofrido                     

 

 

 

Panorâmica:

– excedente café

me toma de surpresa

diz

                                                         

         olha como é incerto andar pelas ruas

 

 

a cada cinco vezes recomeça e nada que signifique

algo para você apareceu

 

 

no metrô senta-se

na última fileira

vultos

por cima de seu

reflexo

desconhecido –

 

 

espera a noite vir

só assim

pode dividir com alguém palavras, me esquecer

improvável

ver-me

venho todo de você

até manhãs se tornaram

cinzas

                            photoshop

                            sua única salvação

inventa o amanhecer

nas palavras

 

– rodeado de galos

tecendo

produzindo o que realmente aqueceria

o corpo

                            sua vó tricotando lãs

 

 

 

Off:                      

                            descemos do carro

está aqui comigo andando

percebe como tenho dificuldade

sigo mesmo assim

silencioso

sem uma piada

qualquer comentário sobre as coisas

que me cercam

forasteiras

tento ser bem normal

sugere docemente um drinque

faz campeonato de quem preenche melhor o espaço da boca

com batatas

– você

comigo aqui

como está

tenho pena

acredita

de ser só isto – não

só isto

 

 

 

 

 

 

(rés)                     é paixão

funda que lhe abate

 

signos vagos

 

de meter a mão

sobre o papel

ver o cheiro

os cabelos caninos

uma gota d’água escorrendo

pelos seus peitos

leitosos

 

na mão segurando o ovo

explodindo-lhe

a potência

dos dedos delicados orientais sem esconder a merda

que trazem junto

         vocação de mangue

pobre

mesquinhez do pênis cachaça rua

cachorrice

teus lençóis azedos na manhã

o Sol inútil

estupro contido

em cada linha

da História

 

 

 

[Poemas do livro Elefantes e Afins]

 

 

 

 

[imagens ©matteo pugliese]

 

 
 

Lucas Miyazaki Brancucci (São Paulo, 1994). Poeta, mantém o blogue incidentes, onde divulga alguns de seus trabalhos literários. Em 2015, publica o livro Elefantes e Afins, pela Encrenca Literatura. Vive em Carapicuíba/SP.