©Wolfgang Pannek

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Transpor a obra de Antonin Artaud para a linguagem coreográfica é o desafio da Taanteatro Companhia que, em 2015, dedica-se ao projeto cARTAUDgrafia, composto por três espetáculos. O primeiro, cARTAUDgrafia 1 uma correspondência, estreou em maio e levou ao público a correspondência, inédita no Brasil, de Artaud com o editor francês Jacques Rivière, que se recusou a publicar seus poemas, mas publicou suas cartas.

 

Agora, o grupo paulistano adentra o território mítico de Artaud encenando cARTAUDgrafia 2 Viagem ao México, que mostra os conflitos do poeta e dramaturgo francês com a cultura europeia, tendo em vista um contexto antropológico, indígena e pansemiótico, até chegar aos limites da sua internação psiquiátrica. Ritos e costumes dos índios mexicanos emergem da montagem, que evidencia as tensões que transportam os embates de Artaud para a contemporaneidade, pondo outra vez em xeque o colonialismo, o progresso industrial, os fluxos migratórios.

 

Em entrevista, o diretor Wolfgang Pannek fala dos desafios de fazer a transposição dos textos para a linguagem corporal, tendo em vista a obra de Artaud, que está entre as mais importantes do século XX. Alguns dos textos utilizados nos espetáculos nunca foram traduzidos e tampouco encenados no Brasil.

 

Antes da temporada de cARTAUDgrafia 1 Viagem ao México, a Taanteatro Companhia apresenta uma segunda temporada do espetáculo cARTAUDgrafia 1 uma correspondência, que estreou em maio e estará novamente em cartaz de 4 a 13 de setembro, no Viga Espaço Cênico, em São Paulo. Por se tratar de uma trilogia, a cada estreia a sequência do projeto é retomada integralmente, até chegar ao total de três montagens no final do ano. cARTAUDgrafia Viagem ao México ficará em cartaz de 18 a 27 de setembro de 2015, no mesmo espaço. Numa mistura de dança, texto, vídeo e música o novo espetáculo é cheio de simbolismos, projetando o corpo num "devir geológico". A ideia é que performers e público se desloquem no plano sensível e intelectual junto com Artaud. [Célia Musilli]

 

 

 

 

 

©paula alves

 

 

Célia Musilli - A Taanteatro encena agora o segundo espetáculo da trilogia cARTAUDgrafia, que estreou em maio. Sobre a primeira montagem — relacionada às cartas trocadas por Antonin Artaud com o editor Jacques Rivière — você comentou que, sob o ponto de vista coreográfico, não havia elementos simbólicos tão ricos a serem explorados quanto os que aparecem nesse segundo espetáculo, que traz ao público obras relacionadas ao México, à cultura indígena e mitológica. Fale sobre essa diferença temática.

 

Wolfgang Pannek - cARTAUDgrafia 1 — Uma Correspondência tem como referência principal a troca epistolar entre o poeta emergente Artaud e o editor da Nouvelles Revue Française, Jacques Rivière. As cartas publicadas em 1924 abordam de maneira poético-filosófica problemas da genealogia do pensamento e da legitimização formal da poesia. Marcam o ingresso de Artaud na vida literária de Paris. cARTAUDgrafia 2 — Viagem ao México mostra Artaud num outro momento- chave. Em 1936, depois de integrar o movimento surrealista, criar o Teatro Alfred Jarry e atuar em filmes como Napoleão e A Paixão de Joana D’Arc, Artaud está decidido a sair da cultura ocidental. Nos ensaios e manifestos que compõem O Teatro e seu Duplo, escritos entre 1931 e 1936, ele faz o diagnóstico da decadência do Ocidente, causada pela separação entre cultura e natureza, para propor o Teatro da Crueldade, isto é, uma forma de teatro que cura o predomínio da racionalidade branca sobre a carne. Na "terra vermelha do México", submetendo-se ao rito do peyote dos Tarahumaras, Artaud busca a experiência da cultura ameríndia original, panteísta e pansemiótica, que "põe o homem de acordo com a natureza". Em Os Tarahumaras, invoca uma natureza que se expressa por meio de hieróglifos, números e formas humanas, ressalta o simbolismo do fogo e da cruz mexicana e projeta o corpo humano em devir geológico.

 

 

CM - Como essa riqueza simbólica vem sendo trabalhada, passando da literatura ao palco?

 

WP - Para a dramaturgia de Viagem ao México, adaptei textos de O Teatro e seu Duplo, Mensagens Revolucionárias e Os Tarahumaras. Mesclamos dança, texto, vídeo e música na tentativa de encenar as energias e ideias essenciais dessas obras. Na criação coreográfica, dirigida pela Maura Baiocchi, focamos em três práticas do taanteatro (teatro coreográfico de tensões): o mandala de energia corporal, a caminhada e o rito de passagem. Por meio dessas práticas, exploramos as linhas coreográficas gerais da encenação, seus estados psicofísicos e sua atmosfera tensiva. A abordagem ritualística foi fundamental para a criação da cena Tutuguri — rito do sol negro, que leva Artaud, por meio da aniquilação simbólica do Eu, à experiência das "forças da terra" e do vazio. Essa experiência é para Artaud uma precondição para o renascimento do ser humano sufocado pela profusão dos códigos culturais. Nessa produção, a Taanteatro Companhia conta com elenco de onze performers e com a colaboração de dois pintores argentinos, Onofre Roque Fraticelli e Candelária Silvestro, que respondem à imagética artaudiana nos planos cenográfico e de figurino. A música original eletroacústica é de Gustavo Lemos e traz a materialidade de ruídos naturais, referências da sonoridade tarahumara e de hinos e músicas que marcam as ideologias da época.

 

 

CM - Quais as diferenças ou aproximações entre o primeiro e o segundo espetáculo da trilogia?

 

WP - Uma Correspondência demarca os limites do espaço da racionalidade branca, da cisão entre pensamento e corpo; Viagem ao México explora o embate entre duas concepções de vida: o materialismo europeu e a espiritualidade dos descendentes de Montezuma. Em 1924, Artaud ainda deseja ascender ao olimpo da cultura europeia e, em 1936, declara a "revolução total" contra os valores e as formas dessa cultura. A revolução artaudiana é, diferentemente da revolução marxista, uma revolução interior, que deve preceder qualquer outra forma de transformação política ou econômica. Essa ruptura com a cultura do Ocidente dá, ao mesmo tempo, continuidade à radicalização de seu trajeto existencial. Artaud caracteriza sua ida ao México como fuga da estagnação europeia e busca de uma "nova ideia do homem". Com essa viagem de inspiração cosmológica, Artaud lança-se num rito de desintegração que culmina em sua internação e permanência no limbo dos hospitais psiquiátricos ao longo de nove anos. Na encenação, buscamos dar conta dessa transformação por meio de uma linguagem corporal e audiovisual mais crua e elementar. A ideia é que performers e público se desloquem no plano sensível e intelectual junto com Artaud.

 

 

CM - Esse envolvimento de atores e público, com o rompimento dos limites do palco, faz parte também das ideias de Artaud, não?

 

WP - Em termos formais, o Teatro da Crueldade foi concebido por Artaud como uma retomada da ideia de um teatro total, que rompe com as fronteiras espaciais tradicionais entre palco e público. Artaud via o teatro como uma arte autônoma, isto é, dotada de uma linguagem específica e definida "pelas possibilidades de expressão no espaço", não sob o domínio da literatura dramática e da lógica, mesmo que oculta, do verbo. Artaud queria expressar ideias e fazer pensar por meio de ações espaços-sensoriais dirigidas aos sentidos. É importante notar que Artaud não rejeitava de forma genérica o uso da palavra no teatro. Mas ele questionou a prioridade da palavra em relação à multiplicidade das formas de expressão que compõem a linguagem do teatro. O projeto cARTAUDgrafia não tem a pretensão de exemplificar o Teatro da Crueldade. A trilogia faz uso extenso dos textos de Artaud. Preserva a separação entre palco e plateia. A intensidade do encontro entre performers e público não está condicionado a interações diretas entre ambos. Numa perspectiva pós-histórica das formas da arte, qualquer forma e qualquer tipo de ruptura formal correm o perigo da reinstitucionalização. Do ponto de vista da intensidade, a vitalidade do encontro entre obra e público não depende somente da novidade, mas da capacidade de manter o vínculo energético entre as formas empregadas e as forças expressivas que a alimentam.

 

 

CM - A viagem ao México empreendida por Artaud desencadeia um embate cultural, com críticas ao pensamento ocidental e ao colonialismo, tendo em vista a comparação com aspectos antropológicos e da cultura indígena. Que aspectos você destacaria como importantes nesse conflito que proporcionou também um boom criativo a Artaud?

 

WP - Artaud considera o problema filosófico milenar da separação entre corpo e alma como cerne da crise do Ocidente. Segundo Artaud, a cultura ocidental perdeu o contato com as forças naturais e cósmicas que subjazem à proliferação das formas. O dualismo levou o homem europeu, de um lado, à crença num mundo transcendente incapaz de explicar o mundo empírico e, de outro, a um materialismo que não compreende a natureza da consciência. O pensamento ocidental, diz Artaud, repousa numa "imagem da vida sem movimento". Simplificando, o Ocidente pensa na perspectiva do ser de Parmênides, não do devir de Heráclito. Esse paradigma de uma realidade essencialmente imutável, exerce a priori efeitos de poder sobre o comportamento cultural e intercultural do Ocidente, historicamente definido pela conquista e colonização, pelo desprezo e destruição de outras culturas. A crítica artaudiana volta-se contra o espírito da burguesia, mas também contra o marxismo que, de acordo com Artaud, limita-se à "revolução social". Artaud propõe uma "revolução total". Ele não acredita que a desapropriação solucione os problemas sociais; para ele é preciso eliminar o "espírito de propriedade em todos os planos". E isso exige uma revolução simultânea: das condições de produção e, sobretudo, da cultura e da consciência, ou seja, das maneiras de viver e de pensar. Artaud critica a orientação modernista do México de 1936, voltada para ideologias da Europa. Mas acredita que a antiga cultura solar mexicana possui "segredos", que podem ajudar na reconciliação dos seres humanos com o universo. Uma diferença fundamental em Artaud é que o poeta experimenta macroproblemas, sociais e cósmicos, como inseparáveis da microesfera da própria carne, não como passatempo acadêmico. Consequentemente, não se aproxima da cultura indígena com o distanciamento analítico do estudioso. Abandona o papel de mero observador para vivenciar o desconhecido. Busca a revolução interior através da redescoberta das forças da natureza no próprio corpo. A intensidade da produção de Artaud vem de sua elevada tensão existencial.

 

 

CM - Na sua opinião, a crise profunda de Artaud com a cultura ocidental é muito preponderante sob o ponto de vista de desencadear também uma crise existencial que culminou com o agravamento de sua doença psíquica?

 

WP - Artaud tem consciência aguda da constituição sociocultural do corpo. Sabe que nas codificações do corpo expressam-se as maneiras de ser e de pensar validadas por uma determinada cultura. Mas o que acontece quando esses valores e essas maneiras negam a natureza? Adaptação ou revolta. Adaptação a um modo de vida interiormente dividido. Revolta contra a cultura que constitui o próprio corpo. Separação da natureza e conflito com a cultura. A integridade e a integração social do indivíduo são comprometidas, em ambos os casos. Muitos de seus contemporâneos, surrealistas ou não, viraram administradores ou marchands de seus inventos revolucionários juvenis. Artaud nunca desviou do caminho da revolta. Tomar juízo na medida em que envelhecemos, essa é a expectativa social. Acontece que Artaud combateu o juízo — de Deus, da moral, da razão, do Estado — até o fim de seus dias. Por isso, Breton pode dizer com razão que "a juventude sempre reconhecerá essa chama extinta como sua própria". A revolta de Artaud e sua busca de conciliação entre cultura e vida o levaram à projeção aparentemente impossível de um "corpo verdadeiro" e autônomo, inteiramente livre de determinações socioculturais e até mesmo biológicas: o corpo sem órgãos.  Corpo supra-histórico que vai ao encontro do super-homem nietzscheano e de um pensamento da imanência. Trata-se de loucura ou de uma das grandes inspirações filosóficas do século XX?

 

 

CM - Em que medida criatividade e loucura relacionam-se nas obras de Artaud? Dá para separar ou reunir criação e delírio?

 

WP - Delirare significa estar fora do lugar, creare expressa a ideia de gerar algo novo. O que  considero dentro ou fora do lugar, velho ou novo, sempre depende dos sistemas de referência à minha disposição. Tanto a avaliação quanto a criação do novo demandam uma disposição de deslocamento, a capacidade de sair de um sistema de referência. Do ponto de vista do sistema vigente, o problema que se coloca é se e como integrar o novo. O novo pode ser percebido como ameaça para antigas formas ou como oportunidade para sua transformação. Tachar certas formas de vida de loucura ou delírio é um modo negativo de integração, integração via condenação, marginalização. Artaud queria "sair de um mundo falso" onde "cem antepassados pensaram e viveram para nós, já antes de nós". Ele queria sair do paradigma e da gramática que definem o pensamento e a linguagem do Ocidente.  Poderíamos chamar seu pensamento de intencionalmente delirante. Mas Artaud rejeitava que os psiquiatras desqualificassem seu pensamento, não localizável e extemporâneo, como delírio. Em outras palavras, precisamos dar atenção ao contexto estratégico do emprego de um vocabulário, antes de simplesmente afirmar "em Artaud criação e delírio são indissociáveis".

 

 

CM - Como os embates de Artaud aproximam-se dos conflitos culturais da contemporaneidade?

 

WP - A atualidade das ideias de Artaud é múltipla, sua crítica é complexa. Ataca as instituições do pensamento e da sociedade. Capitalismo, Estado, moral, religião, corrida belicista, guerra econômica, nacionalismo, imperialismo, colonialismo, progresso industrial: a lista de seus alvos é abrangente. O objetivo do Teatro da Crueldade — conciliação do ser humano com a natureza e o cosmos — pode ser interpretado como pensamento ecológico e holístico pioneiro, baseado numa crítica da razão ocidental e de suas implicações mecanicistas. Nossa trilogia, em sua segunda fase, continua antenada com os fluxos migratórios contemporâneos, situando-os como consequências tardias da conquista e das colonizações. Hoje, os descendentes dos astecas fogem das próprias terras para sobreviver como mão de obra barata nos EUA e os bisnetos dos maias escravizam-se em confecções de vestuário neocoloniais do Bom Retiro.

 

 

CM - Qual o motivo desse segundo espetáculo abarcar especialmente as obras O Teatro e Seu Duplo, Mensagens Revolucionárias e Os Tarahumaras, dentre outras? 

 

WP - O Teatro e seu Duplo contém pelo menos dois textos em que o complexo México é de grande importância: a crítica cultural do prefácio, escrita sob a inspiração da viagem, e A Conquista do México (1933), previsto por Artaud como primeira encenação do Teatro da Crueldade. Mensagens Revolucionárias é um conjunto de artigos, escritos poéticos e conferências publicados ou proferidos primeiramente em espanhol, ao longo de 1936. Nesses textos, Artaud expõe, entre outros assuntos, os motivos de sua fuga da cultura europeia e suas expectativas relativas à redescoberta da "alma indígena". Em 1975, no México, esse material foi organizado pela primeira vez num livro intitulado México y Viaje al País de los Tarahumaras, ou seja, junto à recriação da experiência de Artaud na Sierra Tarahumara, formada por escritos realizados entre 1936 e 1948. Juntas as três obras formam um caleidoscópio de perspectivas sobre a possibilidade de libertação do ser humano;  uma libertação xamânica nas serras de um México mítico, criado e vivenciado por Artaud.

 

 

CM - As obras de referência desse espetáculo foram escritas entre 1934 e 1947. Seria esse o período mais importante da criação de Artaud, tendo em vista que ele faleceu em 1948?

 

WP - A produção literária de Artaud estende-se de 1914 a 1948 e é composta por poemas, artigos, cartas, manifestos, roteiros e romances. Artaud considerava seus escritos iniciais atípicos para ele mesmo. Por isso, suas obras completas abrem com Carta ao Papa e Correspondência com Jacques Rivière. Existem textos surrealistas importantes escritos entre 1925 e 1927: O Umbigo dos Limbos ou O Pesa-Nervos. Heliogábalo ou o anarquista no trono é de 1934. Mas seus livros mais conhecidos certamente são O Teatro e seu Duplo (1937), De uma Viagem ao País dos Tarahumaras (1937), Van Gogh, o Suicidado da Sociedade (1947), Cartas de Rodez (1946) e Para Acabar com o Juízo de Deus (1948). Deve-se, sobretudo, às dificuldades de tradução, que obras com Artaud, le Momo (1947) ou Suppôts et Suppliciations (1947/48) permaneceram internacionalmente menos conhecidas. Depois de 1920, a sequência de suas publicações foi interrompida somente entre 1939 e 1943, devido a sua internação durante a Segunda Guerra Mundial. Há indícios que escrevia durante esse período, mas faltam provas documentais dessa produção. Nesses anos, desenvolveu novos modos de expressão poética reunindo o sopro, a glossolalia, o desenho, o texto e a dança: uma espécie de teatro da crueldade no plano performático do próprio corpo. Em 1946, Artaud sai do manicômio com vontade de criação e comunicação acumulada. O retorno do Momo foi um acontecimento no meio artístico de Paris e rendeu, entre 1946 e 1948, algumas das obras mais virulentas da poesia do século XX.

 

 

CM - Ao que consta, nunca uma trilogia que tem como referência a obra de Artaud, com esse nível de complexidade, foi montada e encenada no Brasil.  Como você se sente diante desse desafio?

 

WP - No Brasil, tivemos encenações de peso em torno de Artaud. Rubens Corrêa realizou em 1986 o aclamado Artaud!. Em 1996, produzi em São Paulo a mostra Artaud 100 Anos e comissionei ao Teatro Oficina Para acabar com Juízo de Deus (recentemente reapresentado) e A Conquista do México ao coreógrafo japonês Min Tanaka com elenco brasileiro. Na mesma ocasião, Maura Baiocchi encenou Artaud – Onde Deus Corre com Olhos de Uma Mulher Cega, e o Amok Teatro apresentou em 1998 Cartas de Rodez. No ano passado, encenei 50 Desenhos para Assassinar a Magia. Isso, para citar exemplos do eixo Rio-São Paulo. O que distingue cARTAUDgrafia dessas encenações são o foco, o formato e a duração do trabalho. Não encenamos um livro específico de Artaud, fazemos um mapeamento seletivo de sua vida e obra, tendo em vista o entrelaçamento de três campos críticos: as crises do espírito, da cultura e da linguagem. Com duração final de quatro a cinco horas a trilogia dá preferência a textos inéditos ou menos abordados no Brasil.

 

 

CM - Quais as suas expectativas em relação à montagem desse novo espetáculo? O que deseja e que o que acha que já foi alcançado?

 

WP - Espero que a nova encenação seja potente e poeticamente instigante. Que, ao abordar a incursão de Artaud na cultura indígena, mostre facetas menos conhecidas e surpreendentes de sua obra. Espero, ainda, poder fugir do mito Artaud e de seus estereótipos. Creio que em cARTAUDgrafia 1 — uma correspondência, conseguimos captar a lucidez desse poeta, uma intensidade cristalina sem apelo a uma enfastiante pseudo-visceralidade. Espero que cARTAUDgrafia 2 — Viagem ao México possa transportar o imaginário do público para além do habitual, e que seja capaz de evidenciar a atualidade dos questionamentos artaudianos no contexto das imagens que soubemos colocar em movimento.

 

 

CM - A trilogia dedicada à obra de Artaud será levada também ao exterior?

 

WP - É sempre um prazer poder compartilhar um trabalho com o público de outros lugares, no Brasil ou no exterior. Mas é um empreendimento que depende de condições profissionais adequadas. Política e mercado culturais no Brasil carecem de mecanismos fortes, capazes de estimular a confiança na viabilização desse tipo de difusão. A mera manutenção de um grupo artístico, dedicado a um projeto cultural significativo de médio ou longo prazo, constitui um imenso desafio econômico. Viajar ao exterior com um projeto grande demanda contatos privilegiados ou enfrentar meses extenuantes de produção e de pedidos provavelmente infrutíferos.  Atualmente, o Ministério da Cultura está reduzindo seus investimentos e o empresariado brasileiro prefere investir em formas de entretenimento, supostamente populares, que valorizam sua marca. Nosso foco nunca foi a valorização de marcas e duvido da possibilidade de encontrar empresários culturalmente sensíveis, que atuem além dessa meta. Mas, naturalmente, estamos abertos a propostas.

 

 

Galeria [Fotos]: clique aqui.

 

Projeto cARTAUDgrafia – Taanteatro Companhia 

cARTAUDGrafia 1 uma correspondência – de 4 a 13 de setembro

cARTAUDgrafia 2 Viagem ao México – 18 a 27 de setembro

Local: Viga Espaço Cênico – Rua Capote Valente, 1323 – Pinheiros – São Paulo

Sexta e sábado 21 horas. Domingo: 20 horas

Para comprar ingresso: www.ingressorapido.com.br ou na bilheteria do teatro

 

 

FICHA TÉCNICA | cARTAUDgrafia 1: Uma Correspondência

Ideia, traduções, dramaturgia e direção | Wolfgang Pannek

Direção coreográfica | Maura Baiocchi

Assistente de coreografia | Alda Maria Abreu

Composição musical | Gustavo Lemos

Vídeo | Paula Alves

Iluminação | Eduardo Alves

Cenografia | Wolfgang Pannek

Figurino | Wolfgang Pannek, Ana Beatriz Almeida, Taanteatro Companhia

Máscaras | Thiago Consp, Fabio Pimenta

Elenco | Maura Baiocchi, Isa Gouvêa, Ana Beatriz Almeida, Alda Maria Abreu, Ariana Andreoli, Patrícia Pina Cruz, Mônica Cristina, Fábio Pimenta, Henrique Lukas e Paula Alves

Desenho gráfico | Hiro Okita

Assessoria de imprensa | Célia Musilli

Produção | Wolfgang Pannek, Alda Maria Abreu

Programa Municipal de Fomento à Dança para São Paulo – 16ª edição

 

FICHA TÉCNICA | cARTAUDgrafia 2: Viagem ao México

Ideia, tradução, dramaturgia e direção | Wolfgang Pannek

Direção coreográfica| Maura Baiocchi

Assistente de coreografia| Alda Maria Abreu

Composição musical| Gustavo Lemos

Vídeo e pintura|Roque Onofre Fraticelli e Candelaria Silvestro

Iluminação e Mapping| Eduardo Alves

Cenografia|Wolfgang Pannek

Figurino|Candelária Silvestro, Ana Beatriz Almeida e Wolfgang Pannek

Elenco |Maura Baiocchi, Alda Maria Abreu, Isa Gouvêa, Ana Beatriz Almeida, Mônica Cristina, Patrícia Piña Cruz, Ariana Andreoli, Fábio Pimenta, Henrique Lukas e Paula Alves.

Desenho gráfico |Hiro Okita

Assessoria de imprensa |Celia Musilli

Produção |Wolfgang Pannek, Alda Maria Abreu

Programa Municipal de Fomento à Dança para São Paulo – 16ª edição

 

 

setembro, 2015

 

 

Wolfgang  Pannek. Diretor e produtor alemão radicado no Brasil desde 1992. Mestre em Artes (Filosofia, Letras e Psicologia) pela FernUniversität Hagen (Alemanha) e codiretor da Taanteatro Companhia desde 1994. Seu trabalho na companhia foi contemplado com prêmios das esferas municipal, estadual e federal. No Brasil dirigiu os espetáculos CaimAbel (1994), Homem Branco e Cara Vermelha (1998), Primeiro Fausto (1999), Esperando Godot (2000) Rit.U (2010),  Máquina Hamlet Fisted (2011) e 50 desenhos para assassinar a magia (2014), entre outros. Dirigiu a produção de projetos internacionais como Mostra 95 Butoh e Teatro Pesquisa, Artaud 100 Anos (1996), Intercâmbio Cultural Matola-Brasil (2005) e Hans Thies Lehmann Brasil Tour 2010. Como ator, participou de diversas montagens da Taanteatro Companhia e, entre 2002 e 2004, de Os Sertões, do Teatro Oficina, sob direção de José Celso Martinez Corrêa. Na televisão, atuou nos seriados fdp (HBO Brasil) e O Caçador (TV Globo)  e na telenovela Além do horizonte (TV Globo). Traduziu peças teatrais e textos de Thomas Bernhard, George Tabori, Heier Müller e Antonin Artaud, entre outros. Ao lado de Maura Baiocchi, é  coautor dos livros Taanteatro — Teatro Coreográfico de Tensões, Taanteatro — Rito de PassagemTaanteatro Mae — Mandala de Energia Corporal. Sob o título Deleuze no País das Palmeiras, organizou e traduziu um conjunto de artigos e entrevistas com filósofos brasileiros publicados na revista online "deleuze international". Publicou artigos diversos em revistas de artes cênicas da USP, UNICAMP, UFG e UBA. Trabalhou na Alemanha, Argentina, Brasil, EUA, Inglaterra e no Japão.

 

 

 

 

Célia Musilli (Cornélio Procópio/PR) é jornalista, cronista e poeta. Mestre em Teoria e História Literária pela Unicamp. Autora de Sensível Desafio (poesia, Atrito Arte, 2006) e Todas as Mulheres em Mim (prosa poética, Kan e Atrito Arte, 2010. Integra algumas coletâneas, entre elas, É Duro Ser Cabra na Etiópia, organizada por Maitê Proença (Agir, 2013), O Fio de Ariadne (poesia, Atrito Arte, 2014) e Especiarias (poesia, Atrito Arte, 2015). Escreve aos domingos na Folha de Londrina, é colaboradora do site Carta Campinas e presta assessoria de imprensa para grupos de arte e cultura. Tem textos e poemas publicados em várias revistas literárias, nacionais e estrangeiras. Vive em Campinas/SP.

 

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