NÓS

 

 

Hoje acordei na 
pestana da palavra 
Rabisquei dois nós
na ponta da língua

uma cigarra abusada
sinfonia 
vida cretina

Quem me dera 
ter chupado tuas garras
no canto daquela
esquina

 

 

 

 

 

 

ANJO PORNOGRÁFICO

 

 

Lábios, pálpebras
Quente pulsar
Amar-te jorrar
pecar sem perdão

Um leve rufar de asas sob meu coração

 

 

 

 

 

 

SAMURAIS

 

 

Três samurais sem espadas

Três samurais sonhavam 
Três samurais afiavam
Suas lágrimas na pedra lodosa

 

No leito do rio
Uma gueixa engolia suas armas
Quando Três samurais sonhavam

 

E uma guerra sangrava
no peito 
daquela alma morta

 

 

 

 

 

 

MANCHA (CURTO-CIRCUITO)

 

 

Mancha
no peito aquele
vermelho

faísca
o curto-
circuito à espera 
do beijo

 

 

 

 

 

 

LÂNGUIDA

 

 

Conversa dura
Não sei ter
Língua áspera pra 

esfregar em você

 

 

 

 

 

 

MULHER

 

 

Mulher é reticências 
interrogação
em tempos pronunciada 
exclamação 

É ponto que 
pinta 
corpo palavra 
paixão

 

 

 

 

 

 

A ORIGEM DO MUNDO

 

 

Olha escuridão
um ranger negro
sussurra no fundo 
desse peito oco

que se afoga

 

Beija minhas costas
uma brisa

fria

chia o segredo de eras

mar morto
no silêncio negro
pantera

dia

 

 

 

 

 

 

 

 

 

[imagem ©sezer kari]

 

 

 

 

Wagner Pontes é pernambucano, nascido em maio de 1986. Estudou Letras na Universidade de Pernambuco, leciona Inglês, trabalha como Revisor de Textos e já teve textos publicados no Quotidianos. Arriscou-se também no cinema com alguns curtas produzidos como Retratos de Cecília, Rosas dos Ventos e Salgada e Doce. Edita o blogue Crônicas, contos e poesias. A literatura e o cinema são suas paixões.