LUCIANA & DEODORO
 
 
Luciana tinha pés de poeta e asas (adivinhem)
de borboleta
 
Deodoro adorava cavalos e (pasmem) confundia
ágora com agora
 
Luciana era Lúcia e Ana ao mesmo tempo
 
Deodoro um amor de menino que prometia
 
As meninas, de melo, adoçavam borboletras
e canções
 
O menino, meio confuso, mimava cavalos
e repúblicas
 
Quem disse que as meninas eram felizes no campo
e o menino herói na praça?
 
Proclamou!
 
 
 
 
DE COMO CHEIRAR DRUMMOND
 
 
Assim
Ahsim
A!sim
Ah...
tchim!
 
 
 
 
CUMA?
 
 
Pau para toda obra?
Cuma cimento, Jack!
E mãos à obra-prima!
 
 
 
 
PASSARIM
 
 
Quero
Quero-quero
Assim
Contigo
 
Quero
Bem-querer
Pra te
Querer bem
 
Quero
Malquerer
Pra te
Querer mal
 
Quero
Quero-quero
Assado
Contigo
 
Quero
Bem-estar
Pra estar
Contigo
 
Quero
Mal-estar
Pra ser
Contigo
 
Quero
Quero-quero
Mim
Contigo
 
 
 
 
AH!
 
 
Se todas as andreias fossem deia
Se todas as poetas fossem musa
Se todas as prosas fossem poesia
 
 
 
 
MARINHEIRO GABRIEL
 
 
Gabriel inventou a aldravia
e a marinha
 
Gabriel inventou a marinha
e a cara-metade
 
Gabriel inventou a cara-metade
e a caravela
 
Gabriel inventou a caravela
e a via de mão dupla
 
Gabriel, depois, inventou
o vai e vem, o sobe e desce
 
Gabriel, por fim, descobriu
o mar e acendeu o dia
 
 
 
 
PROMESSA
 
 
Prometo tecer e tecer
e, se terminar o poema,
prometo transcender
 
Prometo subir e subir
e, se chegar lá em cima,
Prometo escapulir
 
 
 
 
QUE TAW
 
 
Continuar
sorriso?
Pode rir
à vontade!
 
Continuar
menina?
Um quê de
bondade!
 
Continuar
Tawanna?
Assim sem
maldade!
 
 
 
 
podeROSA
 
 
Rosa que te quero rosa
milagre  
do melhor setembro
 
Rosa que te quero rosa
surpresa
da melhor primaVERA
 
Rosa que te quero choque
curto-circuito
amor-perfeito e taw
 
 
 
 
ETCÉTERA E TAW
 
 
Quem vem primeiro o verso
a música ou o azul?
 
A música, o azul, o verso e
vice-versa?
 
O azul, a música, o verso et
cœtera e taw?
 
 
 
 
INICIAÇÃO
 
 
Sofia de branco, anjinha,
acenando
 
pros pais e pro irmão
(que tem nome de profeta)
 
piscando pro amiguinho
(com carinha de festa)
 
Sofia, branquinha, dizendo
amém pro padre que a
 
abençoa em nome do céu,
do mar e da sabedoria
 
Iniciação é quando a água
benta tonifica a alegria
 
 
 
 
MENINOS E MENINAS
 
 
O caos tecendo o uni-verso.
Eu vi.
 
 
 
 
VALENTINA
 
 
Peço licença ao pai, à mãe
à avó (adoro diminutivos)
e ao trisavô (adoro siglas)
 
Para expressar meu oh de
espanto e encanto diante
da vida (adoro milagres)
 
Da vida, que só é possível
reinventada
(adoro Cecília Meireles)
 

 

 

 

 

Almir Zarfeg, A. Zarfeg — ou simplesmente AZ — é poeta e jornalista baiano. Autor de mais de uma dezena de obras e membro de inúmeras instituições lítero-culturais no Brasil e no exterior, está completando 25 anos de trajetória poética em 2016, já que a primeira edição do livro de poemas Água Preta é de 1991. A data será comemorada com a reedição do livro (4ª edição), homenagens, exposições e a criação da Academia Teixeirense de Letras (ATL).
 
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