COTIDIANO
que traças são essas
que me vão, meu Deus,
roendo a vontade de viver?
meço a existência:
meus pobres intentos
todos malogrados
ando pela rua à toa
tudo está igual a minha volta,
só eu é que destoo
entro num bar para fugir de mim
e tomo o cotidiano
num copo de cerveja
O HOMEM E A VIDA
galhos
ressequidos
informes e inúteis
deglutem a seiva
POEMA INSPIRADO NUM POEMA INSPIRADO
NO CÂNTICO DOS ÍNDIOS NAVAHO
a palavra no gesto obsceno
de todos os homens
a palavra no silêncio profundo
de todos os homens
a palavra na confissão sigilosa
de todos os homens
a palavra no evangelho torto
de todos os homens
a palavra no canto efêmero
de todos os homens
em todo credo, olhar, cor, luz
em toda mão estendida
há palavra de todos os homens
POEMAERÓTICO
o amor nos chama
uma chama a arder
a lenha desse fogo
até o último lenho
TEAR
tear
arte rara
terra a arar
ara etérea
BELAFLORESPANCA
bela é a flor
que o amor estampa
e estanca a ferida
e brota nas escarpas
e acolhe borboletas
e sonda espaços
e sentimentos e espíritos
SILENCIAGEM
no silêncio quarup
dessa severávida morte
um facão não lâmina
uma vegetação rasteira
INCERTEZAS
flamboyants em sangue
de incertezas azuis
em tardes ser
SALIGNALINGUAGEM I
ando insone e escrevo
na tentativa de morder um grito
que encha a minha garganta de sal
SALIGNALINGUAGEM II
estou na ausência de todos os signos
— superfície pura —
de toda espessura plural
à espera de um possível
grão-dizer
TUDO EM MIM
tudo em mim signo
tudo em mim presença
tudo em mim nada
tudo em mim partes
tudo em mim escrita
tudo em mim diferença
tudo em mim poema
tudo em mim diluição
tudo em mim angústia
luz gris alma |
