FILHO DA LUA
Vou me encher de drogas e poesia.
Vou raspar a cabeça
E mostrar um olhar de louco.
Serei fúria e dor.
Serei um homem de titânio em frente ao fogo.
Na dança da loucura
Serei o deus da anarquia.
Amassarei crânios com o meu tênis.
Terei cuidado com o chicote de pontas de prego do mundo.
Minhas costas terão marcas horríveis.
Serei chicoteado e não pedirei perdão,
Pois, estarei cheio de drogas e poesia.
No velho mundo
Deixarei marcas pra lembrarem
Da minha loucura.
Meus neurônios correrão numa estrada
Em forma de teia de aranha.
Lúcido, vou subir até o céu pela teia,
E, lá de cima, descerei como um tiro
De fuzil de volta à Terra.
Dormirei sob o holofote da lua
Encolhido por causa do frio.
E quando a morte me cobrir na geada,
Como um filho ausente,
Vão encontrar em minhas mãos
O meu último poema,
Retorcido pela força do punho.
Na sinuosidade da estrada sem asfalto
Dos meus erros e acertos.
SUCÇÃO
A morte vai a pé
O meu coração vai pulsando.
Sob a luz fraca da lâmpada
Levanto uma última barricada
E não caio.
Quanto vai valer a minha arte
Quando descobrirem que sou culpado
Na omissão em relação
Aos miseráveis?
Que a minha vaidade vale mais
Do que o moleque de pés descalços
E sem os dentinhos da frente?
Que já não estou mais nem aí
Se ele vai morrer
Ou vai viver?
Enquanto ainda me sobra algum coração,
(eu penso com minha cabeça maníaca)
Dá pra enganar a mim mesmo,
Acariciando o meu rosto,
Enquanto olho a indisposição
Sorver o sangue
Da grande bomba-hidráulica
Bem no meio do meu peito,
Junto à morte, que apaga as luzes
E me convida pra ir deitar
Em sua cama.
SOL, PÉS E PRANCHETA
Sinto meus pés flutuarem
E não quero rir
E nem chorar,
Apenas, acompanhar o toque
Leve de um piano
E destravar o sentimento
Do cadeado.
A música me leva ao encontro
De algo maior.
E as amarras do coração
Afrouxam-se
Pra que eu possa respirar
Mesmo afogado.
Quando os meus pés, finalmente, saírem do chão,
Não haverá nada que possa puxá-los pra baixo.
Nenhum fantasma sacana pra dar nó
No cadarço do meu tênis.
Os meus pés flutuam
Sinto o piano quebrar lá no fundo,
Caindo no meu abismo
De corpos distorcidos.
Caindo drasticamente
Como a pulsação de um velho.
Sinto meus pés fora do chão,
Enquanto cozinho a cabeça num sol escaldante
Que dobro e guardo no bolso
Pra que ele não incendeie meus pés,
Mas destrua tudo o que é miúdo
E escapa desesperadamente das minhas mãos.
PORCAS E PARAFUSOS
O mundo é como uma sala com mulheres nuas,
Peladas de alma e cheias de sexo.
E por que não comê-las?
Comer suas almas
Comer o seu sexo
Um cadáver ainda quente
É melhor do que uma punheta.
Nós estamos mortos?
Mas eu concebo a vida numa gozada
Certeira
Como uma bola de sinuca na caçapa.
É um vaivém louco
O meu coração parece estar numa rede balançando o meu coreto
Parece um louco espumando pela boca
A essência da sua fonte
Afogando essas criaturas gozadas
De ambiguidade fixada no coração
E pernas bonitas.
É um mundo estreito, úmido e escuro,
Que você mergulha fundo,
Indo e voltando, enterrando o sentimento
Em carnes quentes
Que fazem com que eu me despeça na rota do amor.
Por um tantinho de tempo
Somos um híbrido
Somos um todo em parte.
COISINHA
Ela anda por aí sem assinar promissórias de amor
Ela confessa seus pecados sem ter cometido nenhum
Ela abre corações com uma faca cega
E me faz virar um deus asteca
Que cospe fogo e enxofre.
Ela nunca morou na rua do amor
Ela preferiu me buscar no beco das ilusões perdidas
Onde homens dividem garrafas sujas
E pardais reclamam de cantos
Desafinados.
Ela anda por aí
Sem se preocupar com as sinfônicas de Mozart
Ouvindo Radio Head
E mascando chiclete.
Mascando meu passado e meu futuro
Naquela boca que nunca mais
Vou beijar.
DERRETENDO SOB O SOL DA DESILUSÃO
Pernas
E mais pernas
E peitos
E cabelos
E bundas
E o sol como um tigre selvagem
Devorando minhas sendas cerebrais
Como um picolé de abacaxi
Na boca da mulher mais bonita e suada
(Em minha imaginação sou um tigre devorando calcinhas e recordações)
Meu rosto é fogo em brasa
De tapas metafísicos direcionados ao coração
O chão
Inferno vermelho
Sem disciplina
Sem compaixão
Só os malditos 36 graus à sombra
E a desilusão do sol queimando
A poesia
As coisas estáticas
Deslumbramentos
E falta de emoção.
Imagino pernas suadas
As tatuagens derretendo até a entrada
Do túnel da "felicidade"
A negligência do dia
E da língua
Do amo
Do engate
No arremate
No ato inescrupuloso
De deixar passar mais
Uma perna
Mais uma nuance
Feminina
No inferno de 36 graus à sombra.
A melancolia nem é a umidade insípida
Que passa por meus olhos
Nem é o castigo de ver as mãos coladas dos casais
Na alameda do inferno de 36 graus.
É a frieza dos olhares ao invisível poeta
Virando suco de asfalto
No iceberg inóspito
Da poesia
Que não jorra
Pinga.
NUVENS NO HORIZONTE PARECEM SONHOS DE CRIANÇA
A solidão é um estágio de aperfeiçoamento.
Às vezes, e é sempre bom lembrar, que o solitário,
Por mais convincente que ele possa ser,
Sempre será um solitário.
Não é possível disfarçar as cicatrizes
Diante do espelho.
A voz do solitário é a última a ser ouvida, porém,
É a voz que a Terra quer ouvir
Mas é a voz
Que os homens querem calar.
O solitário sente-se o pior dos parasitas.
Sente-se um operário construtor de túneis
Entre carnes em decomposição.
O solitário quer deteriorar do coração
Toda a raiva acumulada.
Jogar fora todos os medos que habitam
Os quartos sujos da vida.
Ele quer desmantelar a máquina do tempo
Sem sentir nenhuma espécie de culpa.
Ele quer encarar a vida como um romance
Que ainda será escrito, fazendo da caneta
Ou o diabo, que seja um formão pra lapidar
A própria língua; fazendo de toda a musculatura,
Sangue e ossos, um escudo contra o caminho árduo
Sem ser ao mesmo tempo Jesus na via-crúcis
Ou um louco vivendo de pão, banana e circo.
Pois o mundo, esse, a quem sempre o solitário terá
De enfrentar, apagará as luzes, dilacerando finalmente o cordão-umbilical
Que o une ao resto do mundo.
Deixando livre um nascimento proscrito.
Que terá que aprender a crescer entre
O céu e o inferno.
QUANDO
Quando minhas pernas fraquejarem
E a alma ficar tão pesada
Como roupas molhadas pela chuva
Cuide de mim
Não deixe o tombo rir do meu estrondo surdo
Quando o grande meteoro bater na crosta terrestre
Cuide de mim
Antes da primeira onda gigante chegar à praia
Com nós dois deitados na areia contando estrelas do mar
Quando tudo parecer ter terminado como uma longa obra escrita
Com tinta e sangue
Comece comigo
Quando tudo parecer tão novo que seja capaz de enganar nossos olhos
Vamos voltar ao antigo
Quando tudo que houver de bom cessar seu som nas prisões da ignorância
Cantemos músicas alegres e dancemos como puro espírito
Não soneguemos a canção e a dor
Que ninguém vive sem cantar e sentir dor
Nos esvaziemos
De nós mesmos
E nos juntemos
Em partículas de nada
A troco de tudo que seja bom
E volte à sua forma de origem
Quando os portões da vida quiserem fechar suas grades de aço
Em nossa carne frágil
Os Arrombemos com toda a nossa força
Destrinchemos a incompreensão
O eco das vozes que vem lá do fundo
Mais tenebroso de nossas personalidades sombrias
Façamos o favor de fertilizar o milagre da compreensão mútua
Para torná-lo um radar sentinela para o mundo
Pois quando fecharmos nossos olhos
Tudo será tardio demais
Até mesmo para dizer um simples:
"Eu te amo".
REFLEXÃO SOBRE A DISTÂNCIA E A TOTAL AUSÊNCIA DELA
Escrever um poema,
Às vezes, demora alguns dias
Às vezes, semanas,
Até mesmo meses
E, exagerando um pouco,
Pode levar até mesmo alguns anos.
E o amor?
Me perguntaram
Esse, você jamais pode analisar por meio do tempo
O amor é uma coisa muito complexa
Para ficar respaldado pelo tempo
Pois até mesmo a existência do tempo é duvidosa
Sobre o amor, nunca há dúvida,
Há, sim, sobre a posse,
O ciúme
As brigas
E a vaidade.
Na poesia existe tudo isso
Como prosa que prova
O arremate de um lirismo
Dominado pelo humanismo dos deuses
E a nomenclatura muda
Dos que nos catalogam
Numa torre do Tombo.
O amor é tão poderoso
Que afina o assovio frio do tempo
Lapidando a nossa vida
Que não serve de modelo para o Classicismo
Nosso de cada dia.
O amor poetiza
O tempo é quem nos dobra
Mesmo sendo
Prosa.
O CAMPO FERIDO SANGRA NAS MÃOS DE UM MORTO
Vejo o campo.
O centro da cidade está destruído.
Atrás de mim
Há os escombros
Palhaços com machados ensanguentados
E uma sombra pronta pra fazer
Correr meus instintos
Como carros envenenados.
Quase dobro os joelhos.
Sentindo um peso sobre os ombros
E uma aglomeração cíclica
De mim mesmo.
Castelos se erguem e viram cacos.
Não podem ficar em pé
Por causa da tempestade.
O campo está vazio.
O campo está perdido em meio à cratera
Os corpos e o fuzil.
Se não há mais castelos de areia
Pra onde vamos seguir?
No seguimento da morte
Não há mais nada que fique em pé.
Como vamos equilibrar as pernas
Pra não conhecer o chão?
O descuido é a síntese da infância.
Meus sentidos em desordem
Encontram um caminho mais curto,
Sem curvas fora do ritmo.
O campo ferido sangra nas mãos de um morto.
Sua prece é baixinha, não prolonga o sofrimento.
O campo é um mundo perdido
Entre o concreto e o mosquito.
O SENTIMENTO ATRÁS DO VÉU
De tempos em tempos
A bondade atinge
Meu coração.
Catapulta a maldade com pontapés
Preparando-me para viver.
Se eu divulgasse o tamanho do câncer,
A doença me mataria.
Se eu chorasse,
Ela não teria pressa alguma
Em transformar as lágrimas
Em violentos socos na minha cara.
Quebro o crânio do animal descontrolado
E faço suturas pra me sentir
Um pouco menos culpado.
No horizonte verei o corpo pendurado em uma árvore.
Passarei bem longe dele.
Afrouxarei um pouco o laço
Sem olhar pro cadáver.
Sentirei um sopro no coração,
E a sentença será bem mais branda
Quando eu esquecer que o tempo de hospedagem
Da bondade corre dentro de uma ampulheta
E tem a velocidade controlada
Por um cão de guarda.
TRANSMISSÃO
Quando o amor dela invade a couraça dele
Impenetrável
O mundo em sua silhueta negra
Se colore como a primeira visão
Do cego ao ver a luz
No esplendor do dia.
De repente
Sente
Que nada pode ser impossível
A impossibilidade se ajoelha
Diante do poder de uma carícia
E a guerra
Antes
Um mote
Para tudo que não fosse amor
Morre
Mesmo a transmissão
Ainda estando viva.
De uma carícia
A fenda da compreensão
Cresce,
Já a mágoa, vai se dissipando feito fumaça
Do cigarro que já não está mais na boca
Mas na sarjeta suja
Que antes vivia
Náufraga de si mesma.
Graças a ela
Agora a transmissão não navega mais
Em águas turvas
O Capitão de portos mortos
É um cadáver
Só na literatura
Pois na vida
Numa nave
Voa
Flutua.
ESTRANHO ADEUS COM RETORNO BREVE
Todos os pecados estão lá fora,
No jardim...
Querendo comprar novas cobaias
Para entrarem pelo buraco
Do nariz.
Eles estão lá fora,
Pisoteando o chão com força
Pra convocarem uma chuva que alague
Todas as ideias sadias que irão
Brotar no cérebro.
Eles abriram portas nas cabeças alheias
Pra depositarem vários litros
De enganação entre os neurônios confusos
Que se afogam e pedem socorro.
Olho pela janela da minha casa
E vejo uma figura sombria segurando um bastão
Nas mãos...
Olhando pra mim por cima do muro
Que separa um quintal do outro,
Revelando seu olhar viciado e de desejo.
Ele salta o muro e vem até a janela.
Lambe o vidro com delicadeza,
Depois, salta sobre o telhado.
Ouço os seus passos no telhado
Como uma metralhadora demente.
Ele arrebenta o teto e fica em pé, no centro
Da minha sala, me encara e diz: "Eu sou o terror"
Todos os pecados estão lá fora,
No jardim...
Não consigo escapar da falta de luz.
Minhas lágrimas lavam os buracos do chão:
"Eu sou o nada", respondo.
Enquanto garras destrincham minha pele,
Minha carne, minhas neuroses, meus músculos,
Deito a cabeça no ombro do matador
E não sinto ódio.
Sinto o silêncio em meio ao som
De cortes e mastigações.
Deixo minha alma saltar de dentro do corpo,
Voando sem velocidade certa,
Olhando o corpo ser devorado pedaço a pedaço
E pensando: "Isso não é nada... Não é nada não..."
NÃO ESCREVA
Rimbaud diria para qu'eu desistisse
Que fosse para a Abissínia jogar flores
Na fenda da mistura do sol com o mar
Levando algumas armas que não fossem
Apenas versos inúteis
Baudelaire, chapado, diria que as flores,
Apenas serviriam para enfeitar a minha lápide
E o melhor seria abrir uma garrafa de vinho
E beber todo o âmago que a tristeza pudesse
Destilar
Lovecraft não diria nada
Estaria ocupado tirando micro-organismos e
Pústulas dos tentáculos de alguma imersão
Sombria entre o cerebelo e as sinapses
Explosivas do terror
Bukowski mandaria uma carta de San Diego
Indicando um subemprego num franquia
De fast-food para estrangeiros ilegais
Que recebem 4,25 $ por hora trabalhada
Mirisola diria que a poesia tem de acabar
Abraçada ao futebol moderno
E decretaria a prisão perpétua
Aos que se atrevessem a colocar catchup
Numa bela pizza napolitana
Não escreva
Dizem os poetas
Arrume um emprego e uma bela mulher
Limpo o chão com linóleo
E vejo o reflexo de seu rosto
Como um espelho sem vaidades
Com o pé no chão
Corte essas malditas asas
É muito perigoso aprender a voar.
MOELAS
Já estiveram vivas
Ligadas à vida e a outros órgãos
Agora, mortas, cozidas com alho, cebola e ervas finas,
Não são mais nada, a não ser, o desjejum
De alguém de tem fome de muitas coisas
Além da satisfação estomacal
Come-se de tudo
Mesmo não sentindo pena de tantas galinhas
Mortas para produzir uma pequena porção
De prazer gastronômico e solitário
A tarde já desanda no mundo
Com o sol irradiando energia nuclear suficiente
Para nos cozinhar como moelas num prato
Somos as cobaias de nossa indiferença
Inertes de sentimentos e piedade
Nos mutamos em criaturas canibais
Que comem toda a matéria
Mas sempre rejeitando
O fluxo e a seiva do coração.
AS GAIVOTAS SEM MAR
Não há a maldade das gaivotas
Num norte chuvoso e frio
Há, somente, um redemoinho enrolando
Os cabelos de medusa
Com pensamentos envenenados
Tentando uma morte por sufocamento
As caixas de correio se transformaram
Em cemitérios de notícias esperadas
Sonhos que ficaram no bico das gaivotas
Inexistentes num lugar perdido
Sem som de asas sobre os telhados
Sem vida
As lágrimas do céu
São da chuva das gaivotas
Do choro incólume vertendo a incapacidade
De uma comunicação verbal
Para quem, de qualquer forma, não ouviria nada.
Eu sou o seu anjo exterminador
Em bando, voam para longe,
Tanto para a falta de ondas e amor
Como para quem procura a morte
E tem, apenas, como consolo
A maldição de continuar a viver.
LINHA 152
Poema
A maquinaria infernal do mundo
Vista pela janela
Do concreto colorido
O íntimo se faz presente
Em passos desapercebidos
Se ela soubesse que carrego aqui dentro do peito
Uma bomba de letras e frases
Capaz de derrubar edifícios
Talvez olhasse para a direção do ônibus
Sentiria os enlaces de um olhar furtivo
Devastado pela beleza de seus passos
A vida é um corte cinematográfico
Depois de engatada a marcha
O ônibus segue
Ela some
E tudo volta a ser um "The End"
Com sabor de adolescência e sessão da tarde.
LEMBRAR
O amor
É uma sombra da realidade do que poderia ter sido verdade
Mas tenho de confessar
Que todas as vezes que o meu coração bateu por amor
Foi como um bumbo fúnebre
Contando segundos de um relógio de pulso
Que tive e não o tenho mais
Incondicional e honesto,
Às vezes, a memória me trai como uma puta sincera,
Me constrange e me glorifica, ao mesmo tempo,
Enfeitiçado pela imagem, que agora, é fumaça
Dentro da cabeça
Eu penso no amor como um colírio
Que suaviza a vermelhidão dos olhos
Transparecendo histórias tristes
para ouvir junto com um tango argentino
Ao lembrar
O amor foi muito mais ficção
Do que propriamente tudo aquilo que deveria
Ter sido
Ao lembrar
Eu prefiro esquecer.
VALE A PENA
Todas as vinte e seis horas que passei dentro de ônibus
Pulando de um para o outro
Valeram a pena
Toda a espera por um toque em teus lábios
Numa rodoviária cheia de falta de beijos
E de rostos tristes e anônimos
Valeu a pena
Todos os cheeseburgers duplos que comi
Todos os morros e montes e rios
Que meus olhos viram
Valeram a pena
Toda a carga emocional e romântica contida numa letra "A"
Pendurada por um cordão em seu pescoço
Valeu a pena
Todas as amizades conquistadas em terreno estranho
As visões do futuro
E até mesmo os pesadelos na madrugada
Valeram a pena
A simetria dos corpos no quarto apertado
Os arranhões e mordidas da gatinha Lua
Valeram a pena
Os longos passeios nas vielas
As mãos entrelaçadas no cinema
O Muriaé correndo em silêncio perpétuo
Valeram a pena
Tudo vale a pena, sim, mesmo com a alma pequena
E o coração apertado
Como o nó na corda de um enforcado
Como esse sentimento que carrego no peito
Maior do que ambos
Maior do que o mundo.
setembro, 2019
Nelson Alexandre (Maringá/PR). É autor de Paridos e Rejeitados (Contos, 2012) e Poemas para quem não me quer (Poesia, 2013). Faz parte da antologia 101 Poetas Paranaenses, publicada pela Biblioteca Pública do Paraná em 2014 (org. Ademir Demarchi). Seus textos foram publicados nas revistas Literacia, Outras Palavras, Pluriversos, Flores do Mal, Diversos Afins, e nos jornais O Diário de Maringá, O Duque e Rascunho. É graduado em Letras pela Universidade Estadual de Maringá.
Mais Nelson Alexandre na Germina
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