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os homens choram

as crianças riem

a vida é faca de dois gumes.







tou à espreita

um dia a vida passa

cai nas minhas garras.



[Do livro A olho nu, 1992]



amor japonês

é como vaga-lume

lanternas vermelhas.







mar de primavera

arrebentação do dia

cinzento só a cotovia.







sem Quintana

como ficam

as almas e Anas?







não podendo mudar a vida

muda-se a posição

dos móveis da casa.







vem cá Luiza

meu verdadeiro haicai

um luzeiro só.



[Do livro Impressões em haicais, 1995]



o silêncio

está no cio

eu, por um fio.







estou assim

meio a esmo

sonhando mesmo.



[Do livro Outras palavras, 2005]



papagaios no ar

desenhando sonhos

altos de pegar.







sapos e mariposas

na relva pousam

a poesia repousa.



[Do livro Estação Poesia, 2008]



além da escuridão

pulsa a poesia

no meu silêncio.







upaon açu

c'est mon amour

c'est mon abajour.








lua cheia

maré alta

nós a ver navios.



[Do livro Reação, 2014]



o monte Fuji

por trás o sol vermelho

me incendeia.







chegam as chuvas

alegria de sapos

coros da noite.



[Do livro O intenso instante, 2018]



na colmeia a

repetida tarefa

zum-zum-zum e mel.







útil fútil

pois é, poesia

qual é a tua?







no porta retratos

o sol dos teus olhos

inunda meu olhar.







Para Bai Juyi: poeta chinês da dinastia Tang


as cinzas ainda 

mornas deste poema

meu calor o aquece.







sobre a lápide

as flores enfeitam

a dor.







Para Sil Guimarães


os olhos verdes

cruéis tentadores

mar de amores.



[Do livro Haicais, 2021]



junho, 2021



Silvana Lourença de Meneses, natural de Caxias/MA, professora de Química da Universidade Estadual do Maranhão/São Luís, membro da Academia Caxiense de Letras, membro da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB). Publicou sete livros de poesia.


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