CAVALA
para antonio risério
e maria angélica
abramo
lá, onde os dedos são grossos
galhos
percutindo o couro dos animais
& as palavras
dissolvem-se no ar
antes
de vestirem a couraça dos
significados
lá, onde sóis azuis
luzem a noite
inteira
lábios sorvem o suor
sede de saliva — a
espada
rompe o espelho
o sangue ferve, febre
vapor quente nas
narinas
— possuída, ela convoca éguas
luas
& golfinhos
cascos tinem
um estranho
batuque
ranhuras na pele — unhas
de
lontra
cravadas nas costas
rainha dos raios
a xota risca
fogo
nas savanas
.....
assim é
o amor da
cavala
riscos
rasuras
talhos de gilete
tratados com pétalas
de lírios
selvagens
ORAÇÃO A DIONISUS
deus salve a deusa buceta
e inche
com sangue o caralho dos meninos
deus salve o deus cu
e encha de sangue
o caralho dos meninos
deus salve os dedos, os grelos
as
bocas, as bundas & os pêlos
para que não falte amor neste
mundo
para que a vida viva neste mundo
ANTI-ODE AOS PUBLICITÁRIOS
(DE UM
GUERRILHEIRO MORTO EM COMBATE)
querer eu quero
que vocês
morram
sufocados em nuvens
de
inseticidas
talvez limpóis, bombris
e
bemdefuntos
como baratas que comem
as próprias
patas
olhos vendados
com vendas
garantidas
e uma estaca
cravada no
prepúcio
assim eu possa
propagar em
outdoor
a dor de um jovem
promissor e
sanguessuga:
aqui jaz um bom rapaz
cuja vida se
reduz a um anúncio
NOTA: Poema especialmente dedicado aos
publicitários que usaram a imagem de Ernesto Che
Guevara (morto por balas de metralhadora, no meio da selva boliviana)
em anúncio do detergente Limpol, no ano da graça de
1.998.