Na
floresta
há
um grupo de pássaros
que
canta diferente.
Seus
cantos batem
nas pedras
que
batem nas águas
que
batem nas árvores
que
se afinam
de
modo a provocar
um
sentimento semelhante
nos
ouvidos dos que os ouvem.
Mas
há um grupo de pessoas
que
insistem que os pássaros
devem
cantar no mesmo tom:
assim
nascem os críticos.
*
Ele cantava ópera
às
vezes
borrava
as calças
por
isso o aplaudiam
e
se sentia o centro do mundo
mas
aí deu-lhe febre
e
então começou a
bater
nas pessoas que amava
e
batia e batia e espancava
e
depois ria
mesmo
cansado
isso
dava-lhe forças
e
ele cantava ópera.
*
A
jovem
era
cor-de-leite
[pálida]
de
napeiro sorriso
e
na curva do caminho
conheceu
um jovem
[sinistro]
de
sorriso largo.
Seus
olhos
saltaram
nos ombros dela
e
os olhos dela caíram no chão.
Num
outro dia
ela
se viu
sodomicamente
estuprada,
e
houve chuvas
e
depois neve
e
nasceram porcos.
Ela
cortava as unhas dele
jogava-as
na lareira
de
onde nasciam aromas,
compraram
um poldro
virou
cavalo, envelheceu
e
depois morreu,
ele
bebia e ela
[chorava]
e
a lua dali fugia.
Uma
maçã caía
em
sua cabeça
e
ele nunca mais foi o mesmo
mais
tarde
[morreria]
de
dores nos ouvidos
Ela
plantou uma roseira
no
meio da sepultura
mas
as rosas nada cheiravam
e
ela descobriu
[ele
não prestava]
*
[para
Lorca]
Havia
dois patos
que
nadavam numa lagoa
e
balançavam seus rabos
[não
via naquilo um aceno]
Às
vezes um desgarrava-se
e
uma música saltitante
os
unia novamente.
Mas
havia um lobo
e
na outra margem um caçador
[que
parecia ser narigudo]
com
um boné inglês
e
eu estava em uma árvore
no
meio deles
Aí
tocou um sino
era
o chá das cinco:
não
me perguntem
das
torradas.