Os integrantes da banda Crazy Legs existem em dois mundos. Um, é o chamado real: trabalham dando aulas de música, produzindo comerciais e discos, vivendo com as respectivas famílias, pagando impostos, pegando filas, etc. O outro é o universo paralelo do rockabilly, aquele estilo de vida e música dos anos 50 que consagrou Elvis, Johnny Cash e outros. Então, Fábio Marconi passa a se chamar Fábio McCoy, Sérgio Barreto vira Sonny Rocker e Caio Durazzo torna-se Carl Horton. Para acentuar ainda mais a marca nostálgica eles acabam de lançar não um álbum em CD, mas um compacto duplo em vinil rosa.
Era um sonho do grupo paulistano, que existe há dez anos, publicou 4 CDs, participou de 7 discos coletivos e se apresentam em shows pelo País. McCoy conta que há muito tempo gostariam de lançar um disquinho como se fazia nos tempos da vitrola. Além da nostalgia, é um modo de recuperar um pouco daquele universo que um dia girou em torno da Sam Records. E, ainda, quem sabe, uma forma de pelo menos dificultar a pirataria que ronda os CDs. McCoy até acredita que os compactos e singles ainda retornarão, justo por causa da pirataria.
Mas, além disso, há outros fatores, de ordem artística. Antes, como ele recorda, os artistas do disco lançavam vários disquinhos durante o ano, em vez de álbuns com dez ou mais músicas. No mesmo ritmo, a idéia é pôr em circulação mais três compactos no ano que vem, mantendo o pique. De quebra havia a possibilidade de melhor uso do talento dos artistas gráficos, que caprichavam nas capas, prejudicadas pelas dimensões do CD. No disco que acabam de lançar, com tiragem numerada e limitada, as fotos do trio são em preto e branco e a concepção está de acordo com o clima pretendido por eles.
Apresentam duas composições da banda, Hellish Chick e Picture in My Wallet, e dois covers, Women and Cadillacs e Ring, Ring, Ring. McCoy está na bateria, Sonny no contrabaixo e Carl na guitarra (também é o vocalista) – ele cultiva um tipo humor que poderíamos ter como peculiar. Uma das faixas conta com a participação do sax de Bangla, do Made in Brazil. Ao ouvir as faixas, pode-se facilmente observar a sinceridade com que eles dedicam seus talentos ao rockabilly. Como cada um tem direito às suas preferências, chamo atenção para Picture in My Wallet, no estilo country levanta poeira.
Quem quiser conhecer a banda de corpo presente poderá ir ao Centro Cultural São Paulo, dia 19. Há sempre um extra. Nos dez anos de existência a Crazy Legs expandiu seu mundo virtual e formou um público seleto de gente que gosta de dançar como no tempo do topete com Lambretta. Sonny lembra: "o bom e velho rockabilly resiste ao futuro e não se deixa abater".
Serviço:
Crazy Legs – rockabilly trio – R$ 18 (pelo site), ou R$ 10, nos shows
[Publicado no jornal O Estado de São Paulo, edição de 3
de janeiro de 2007]
janeiro, 2007
Site da Banda Crazy Legs: www.crazylegsrockabilly.com
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