©luis franq
 
 
 
 
                                                                    
  

 

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Para ser lido preferencialmente em julho

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Os tempos são bicudos. Os tempos são muito ruins. Os tempos... ora, por que não falar de mimosas? O que são mimosas? São flores do tamanho de botões de camisa. Não fossem amarelas, de um amarelo solar, ninguém perceberia a existência delas. Além do mais, são quase raras e é preciso estar atento, pois as arvorezinhas como que se escondem na transparência do ar. Mas estou falando das flores e estas, aqueles pontinhos amarelos e felpudos aos cachos, esses aparecem menos ainda. Ou melhor, na maior parte do ano devem se ocultar no já invisível das folhas. E assim ficam ignoradas.

Talvez tenham sido mais populares no passado, porque nem todo mundo sabe do que se trata quando alguém pergunta por mimosas. E mais raro do que elas, com toda certeza é aparecer uma pessoa dotada de coragem suficiente para perguntar onde haverá um pé de mimosa por ali. O curioso impertinente na certa tentará explicar: são umas florzicas de nada, dão na ponta dos galhos, fazem uma espécie de ninho luminoso e tal. Convenhamos, uma explicação dessas é mais decepcionante do que andar a cavalo e o chato deve se dar por contente se não acabar levando um trompaço. Embora também sempre poderá aparecer aquele ou aquela que com muita paciência se iluminará e, do alto da sua sabedoria capenga, interrompendo o discurso alheio, vai dizer: "Ah, mas é claro, é a chuva-de-ouro, uma acácia que dá muito em dezembro..."

Desapontado, o espicula acha melhor desistir, mas em vez disso aproveita a deixa para informar que as mimosas, sim são acácias, mas não dão muito e menos ainda em dezembro, tempo de verão forte neste hemisfério. Nem são escandalosas como a chuva-de-ouro, com seu perfume delicadamente invasor, no entanto. As mimosas são tímidas, quase imperceptíveis ao toque. No perfume elas conservam o mesmo estilo de quem está como se não estivesse, sempre com um leve estremecer. E o mais importante, o que justifica esta nota, é a urgência de lembrar que o inverno de tanta coisa desagradável, dos dias sombrios, é, exato, o tempo em que as mimosas florescem. Há que procurá-las com urgência, na sua magia, no seu espanto recolhido. Ou então, perdê-las no cinzento de todas as tardes.  

 

 

 

 

(em Bem-Estar — publicação da Fundação Cesp)

 

 

 

 

  

 

 

outubro, 2005

 

 

 

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