©silvia rejane de assis
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Esses esforços constantes de sintonia com as novidades da mídia e seu incremento voraz sugerem um desgastante engajamento sem plataforma fixa, quando se percebe o homem sempre defasado diante dos fatos tecnológicos produzidos diuturnamente em ilhas de edição ou em arejados departamentos de criatividade compostos por talentos insones catapultados pelo sucesso das vendas.

 

Vítimas dos mecanismos de atualização constante e pesquisas momentâneas de satisfação do cliente, vêem-se aturdidos, sempre atrás do seu intento de atender a alguma carência não raro já satisfeita por um ou outro desprestigiado hábito.

 

Impossível não visualizar nisso a paródia do burro atrás da espiga suspensa sobre as orelhas. Diante de um enxame de objetos submetidos à obsolescência diária e à derrogação contínua, o homem experimenta a frustração de jamais chegar à plena contemporaneidade, nunca ser um hóspede do hoje. Mais cômodo, portanto, postar-se no futuro onde pelo menos os fatos ainda se dão da forma mais desejada.

 

 

Por trás disso tudo, prure um complexo de estratégias mercadológicas e o tamborilar dos pesquisadores de impacto, conclamando o indivíduo a uma atualização compulsória de seus usos, sob a advertência de que não convém posicionar-se aquém das coisas vigentes.

 

Mas agora, com o oásis das conquistas e das facilidades interposto sempre no horizonte de seus desejos e ao alcance de suas possibilidades materiais ele, com uma boa dose de superação e algum recurso finalmente poderá ser plenamente satisfeito e realizado.

 

 

novembro/dezembro, 2006

 

Cândido Rolim. Natural da região do Cariri, Ceará, nasceu no século passado, como a maioria dos poetas vivos. Tem livros publicados — Pedra Habitada, 2002 e Exemplos Alados, 1998, entre outros — além de artigos, entrevistas e resenhas publicados na web (Cronópios, Germina, Clareira, Caos Portátil, Bestiário, Famigerado, etc). 

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