"Maria,
Mãe do Filho de Deus" arrastou quase dois milhões e meio de crédulos
aos cinemas. O próximo filme do Padre
Marcelo, dirigido por Moacyr Góes, deve bater este número.
Chama-se "Irmãos de Fé". Um
sujeito que leva esta quantidade astronômica de crédulos aos cinemas
deve ter alguma coisa a dizer a seu público. Ou no mínimo um pacto
com o diabo. Isso não significa que Xuxa, Angélica e os Trapalhões,
algum dia, tiveram "alguma coisa a dizer". Quando
faço esta afirmação estou reproduzindo a idéia da catequese. No mesmo
sentido que o missionário sai de sua paróquia e vai pregar o evangelho.
Isto é, para o pastor o fundamental é "levar a palavra". Se a "palavra"
é de Deus ou do diabo, o problema é de quem a ouve. É para isso, afinal,
que o pregador está lá: para pregar, dizer. E
o Padre Marcelo? Diz o quê? "Argh!,
esse não tá legal" — diz e tapa o nariz depois de sair de um banheiro
no set de filmagem em Jacarepaguá. Pipi só no banheiro do próprio
camarim. Quase
dois milhões e meio de pessoas. Engraçado...
tive uma regressão involuntária aos meus tempos de primário e lembrei
da mãe do Guaxinim, que o proibia de fazer pipi na escola. Só em casa.
O que teria acontecido com o Guaxinim? Será que morreu num acidente
trágico? Virou metaleiro...? Entrou pruma Ong? Ou virou padre? Quase
dois milhões e meio — isso é que é uma boiada! Quero dizer: rebanho. Como era mesmo o nome do Guaxinim?
Maurício, Mário, Márcio... Marcos? Ou será que ele era meu xará? Não,
acho que não. Eu sei que ele era um panaca e que vivia todo cagado
e mijado pelos cantos. Fedia, o desgraçado. Qualquer
um chamado Marcelo (pelo menos naquela época) carregava a responsabilidade
de ter este nome por causa do grande Mastroianni. Numa entrevista,
perguntaram ao ator como é que ele ia fazer para engordar vinte quilos em duas
semanas... o personagem pedia e as filmagens já estavam começando,
etc., etc. Sabem
o que ele respondeu? "Basta 'interpretar' um gordo". Grande Marcello
Mastroianni. Tenho orgulho do meu nome. Seria
uma traição o panaca do Guaxinim ser meu xará. Depois, não consigo
imaginar ninguém indo pedir a bênção para um tipo como ele. Se um
moleque chegava perto do Guaxinim era para dar porrada. O garoto fedia
de verdade. Tenho raiva dele até hoje. Será
que o Guaxinim pegou trauma da própria catinga? E a partir daí passou
a ter nojo de si mesmo e tomar vários banhos por dia? Será que passou
a esterilizar as mãos com bactericida feito Padre Marcelo e Michael
Jackson? Talvez. Pode ser, nada é impossível. Uma
das manias da mãe do Guaxinim à época era preservá-lo dos banheiros
da escolinha. Hoje é a mãe do Padre quem o preserva das mulheres que
se aproximam dele com "pensamentos libidinosos". São todas "meninas
vazias", segundo dona Vilma. Um
dado. Padre Marcelo tem 37 anos, minha idade. Bem,
diante das evidências, acho que o Guaxinim virou mesmo o Padre Marcelo.
Vou rezar um Pai Nosso e já volto. Pronto,
tá rezado. Pedi proteção para papai do céu. Vale
que na época a molecada enchia o Guaxinim de porrada. Foi até sodomizado.
Mas isso é irrelevante... pretérito. O que me interessa é saber o
que se passa, hoje, na cabeça do Guaxinim, digo, Padre Marcelo. Mônica
Bergamo também ficou interessada. A matéria saiu na Folha de São Paulo
no dia 16 de maio. Não inventei nada. Entre outras coisas, descobri
que ele toma remédios para frear a queda de cabelos. E não faz parte
daqueles 41% de religiosos que tiveram casos com mulheres. Se o Padre
Marcelo for mesmo o Guaxinim, não há nenhuma surpresa nesta estatística.
Ele evidentemente ficou com a maioria. A outra parcela de 59% de religiosos
que teve casos com homens e crianças... vai ver que é isso. Embora
o padre negue e pense que homossexualismo "não é coisa de Deus". Claro
que não, é coisa de viado. Um
cara que se considerava "malhado" antes de ser padre e era professor
de Educação Física... tem lá grandes chances de ser o Guaxinim. Uma
vez — declaração do próprio Guaxinim, digo, Pe. Marcelo — o dito cujo
pegou uma carona com três amigos de faculdade e um deles acendeu um
cigarro de maconha. Sabem o que aconteceu?
Padre Marcelo teve uma crise porque se considerou "fumante
passivo". Sentiu-se péssimo e foi contar tudo para a mamãe logo que
chegou em casa. Ui, ui, ui. É
fato: Guaxinim virou o Padre Marcelo, meu xará. Ele
rasga as cartas de amor que recebe. De homens e mulheres, diz que
não é santo, mas que quer viver na santidade. Rasga as cartas de tesão,
isto sim. A mesma coisa acontece quando ele vê cenas de sexo na tevê.
Para mim, Guaxinim, ou melhor, Padre Marcelo, é o mesmo panaca de
sempre. Além disso, viado enrustido e omisso. Isso é que é pior: omisso. Hoje
em dia, está interessado em
tomar remédios para evitar a queda de cabelos.Também tem o
interesse (só pode ser vingança de panaca) de arrastar multidões para
os cinemas e igrejas e se vestir bem. Ele acha importante um sacerdote
se vestir bem. Antes
de qualquer coisa, quero reafirmar que não inventei uma linha sequer
desta crônica. Foi tudo publicado na FSP no dia 16 de maio. Dou todos
os créditos a Mônica Bergamo e à minha memória... da qual sou fiel
e devedor — embora não seja fanático por ela. Também rezo o Pai Nosso
toda santa manhã antes do holocausto de cada dia. Só me arrependo
de uma coisa: de não ter dado mais porradas do Guaxinim. Sempre achei
que ele não ia virar coisa boa. Senão,
vejamos: Algo
está ostensivamente fora do lugar e corrompido quando o Padre Marcelo
se nega a usar um banheiro coletivo. Ele passa a ser tão obsceno,
fétido e deslocado quanto a Igreja aeróbica que ajambrou. Materializa,
de certa forma, a missa cômica evocada das profundezas das improbabilidades
por Nelson Rodrigues. Aquela em que "os padres engolem espadas, os
coroinhas plantam bananeiras e os santos equilibram laranjas no nariz
como focas amestradas". O mais nefasto é que esse panaca metido a
santo não só inventou a missa aeróbica como arrasta milhões atrás
de suas parvoices. Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Que
diabo de Igreja é esta... ou que diabo de fiéis são esses que se deixam
arrastar por um panaca do feitio do Guaxinim? Tá
tudo errado. Nem
Nelson Rodrigues podia imaginar, na sua mais delirante alucinação
pornográfica e mórbida, que um dia o panaca do Guaxinim ia virar o
Padre Marcelo. Só me resta pedir a Deus e rezar com muita fé para
que o Papa tome uma providência e excomungue o Guaxinim da Igreja.
Ou pedir para que o mundo acabe de
uma vez por todas. Amém. (N.a.: esta crônica teve a publicação censurada pelo AOL Notícias) Marcelo Mirisola, escritor. É autor dos livros "Bangalô", "O herói
devolvido", "O azul do filho morto" e "Banquete". Escreve uma coluna
no AOL Notícias.
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