saidera
aos meus pés
retornam todas as
mensagens
numa conspiração de marés
necrópole
estes mapas
sem
minas
a esperança foi só mais um hit
para a
dança das garrafas
no último verão
vende-se
a angústia
manufaturada em série
se
expõe
na vitrine do desencanto
a angústia
a preço de ocasião
compra
duas leva três
na seção do desencanto
a angústia
em
liqüidação
prêt-à-porter
do
desencanto
luxo
era uma senhora
tão vaidosa
que
tinha pérolas
nos rins.
flash
abrindo valas
nas mãos duplas do sem
sentido
transgredindo hábitos
obscurecidos...
ultrapassando o signo vermelho
na via do
coração
e demolindo
o outro lado da ponte
que une as margens
do trivial...
ela, raio, passa.
meu abril
despedaçado...
não se pense o dia amanhecido
vislumbre-se antes a imensidão
do silêncio grosseiro
na
madrugada abortada
pântano de amargo desamparo
alagado pela
essência de agonias degeneradas
os ponteiros dos relógios
interpelando medos retardatários
ali fervilhavam culpas que se
entranhavam entre remorsos e ânsias
para imergirem no
tempo
testemunhando a extinção de todas as âncoras
aquela era a estação onde pardais teciam
ninhos condenados
cinderelas perderam todos os sapatos
na
festa lotada de duendes mal-cheirosos
viam-se morcegos no
varredouro do último raio
pouco antes da lua desistir em suicídio
atemporal
ali era o lugar das velocidades
ínfimas
aquele fora o dia dos estagnações.
moravam naquele fosso todas as penumbras
foram elas que inebriaram os renegados
quando o horizonte
rasgou-se sobre as feridas
na doída estação do abandono e seus
sentimentos menores
por que insistia o mundo em cair
sobre
ombros que se sabiam tão frágeis?
por que se retomava a mesma
ladainha,
se tudo já se afirmara e se negara
entre alarmes,
inquietações, embustes, dissimulações, vagos lenitivos...
essas
coisas que se deitam no impossível?
ali era o lugar da amplidão.
aquela
fora a hora das infinitudes... e do dilaceramento.
todos os dias seguintes estavam lá os
viciados em descontenteza
essa era a única certeza na alegoria do
deserto intempestivo.
por intermináveis horas lá permaneceram meus
ouvidos dependentes.
por meses, acordou naquela caverna minha alma
noctívaga, imolada...
aquela foi a hora em ponto das solidões
bruscas.
principiara ali um silêncio que jamais
terminaria...