absinto

Abduzo
o pensamento
obsessivo

absorvo
losna, anis
sorvo
absinto

me abstraio
dessa dor
absoluta

Eliane Stoducto é carioca, formada em História. Poeta, escritora e compositora, tem várias músicas premiadas em festivais. Fez a direção do show "Aécio Flávio & Jane Duboc", no Teatro do Parque, em Recife, e no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Trabalhou como colaboradora do escritor e roteirista Armando Costa, parceiro e amigo, em alguns seriados para a televisão. Com ele, em 1982, fez a adaptação para teatro de "O Analista de Bagé", de Luis Fernando Verissimo. Os dois escreveram, em parceria, a peça "Filhos da Pátria!", inédita. Foi publicada em Saciedade dos Poetas Vivos (Rio de Janeiro: Editora Blocos, 1999), I Antologia Nau Literária (Campinas: Editora Komedi, 1999) e 2ª Antologia dos Poetas Internautas (Rio de Janeiro: Editora Blocos, 1999). É webdesigner e veicula seu trabalho e de outros autores nos sites Cristal Poesia, Poema em Movimento, RJ Sinfonia, Templo da Lua Negra, Letra de Corpo e Katarse. Escreve o blog Palavras Tortas, Em Desalinho e Mundo Delirante.

quixotismo

Adaga cravada no peito
o sofrimento, grotescamente,
cavalga à deriva
combatendo, tolamente,
antigos moinhos de vento

eros caótico

Este meu Eros caótico
às vezes tão pacato
em certos dias
traveste-se
de feroz Thanatos

urgência

Escrevo cartas que não mando,
mensagens que não envio
ai, meu Deus, mas que fastio
dessa falsa apatia
tropeçar nas mesmas pedras
trilhar os mesmos desvios
com tanta vida pulsante
me negar e procurar
o tédio das calmarias...
Logo eu que desvario
lato, uivo e enlouqueço
nas noites de lua cheia
eu, que sempre me arrepio
muito mais do que me aquieto
preciso arrancar as teias
daquela antiga guerreira
que habita dentro de mim.

Viver é urgente!

xadrez inútil

Jogar xadrez
beber na chávena
o chá da Índia
feito burguês

Fumar charutos
Jogar xadrez
comer rainhas
com avidez

E antever
e maquinar
a estratégia

Abstrair
e descartar
qualquer
tragédia

Ser rei total
e absoluto
mas só ganhar
na superfície
do tabuleiro

Ser jogador
e leviano
ser incapaz
de mergulhar.

Amar ligeiro
é não amar...

vocação

Certos dias
embora eu me desfaça em pranto,
amanhece,
e os pássaros insistem em cantar
embora queira, insanamente, desaparecer,
a luz do sol insiste em penetrar
pela fresta do olho.
Então acordo, tomo um café,
acendo um cigarro
e sorrio...

arte final

.................."Temos a arte para que a verdade
...................não nos destrua...". Nietzsche

A arte de poder chorar
a arte de poder sorrir
acho que as perdi

Mas ainda me resta
a arte de
poder dormir...