Forquilha 49/84, Pigmentos de Terra e Resina Acrílica Sobre Tela e Madeira,166x136x4 cm, 1984
 
 
 
 
 
 
 

 

"Se a observação quanto à geometria é inegável — tudo agora converge para a construção, depois de uma longa entrega à ironia e à crítica —, a ausência de terra não passa de enganosa aparência. Porque ali está, mais forte e profunda do que nunca: como pigmento, a matéria que se mostra nua e crua nessa vibração de pintura que ainda goza, e tanto, sob enquadramento geométrico; e está nos neutros pedaços retilíneos da madeira que a abraça, ordenada e amorosamente. O pigmento é o solo, a madeira é a atmosfera: nova metáfora de Minas. Mas como Minas se implanta e se expande tal qual um vaivém de opostos, mesmo a geometria mais vitoriosa sofre, no Manfredo dos últimos dois ou três anos, o assédio sempre maior de um impulso desordenador. Sob forquilha, a pincelada se mexe, borbulha e germina como as coisas querendo sair do interior da terra. Exercício de liberdade da pintura, que se move e que fala diante do rigoroso olhar em silêncio da moldura, tática moldura. Rigorosa e livre, a pintura de Manfredo vem naturalmente assentar-se na linhagem do Torres García, esse patriarca que os tempos de crise e a abertura estão tornando de novo tão eminente. Ele sabe o que Torres García significa: encontro atual com o ancestral, da razão com a intuição, da terra com o ar, de Jacinto com o mundo". [Roberto Pontual, Mineiro do Mundo, Manfredo: ou a geometria do nômade,  Manfredo de Souzanetto: paisagem da obra, Editora Contra Capa Livraria, Rio de Janeiro, RJ, 2006]

 

5/2006, Cobre e Madeira, 125x113x45 cm, 2005
 
 
 

 

"Não. Muito pelo contrário, isso me incomoda muito (a crítica refere-se aos trabalhos do artista como concretista ou neoconcretista). Embora tenha tido contato com a Lygia Clark em Paris, pouco antes de ela voltar para o Brasil, a minha aproximação com a geometria decorre muito mais de meus estudos de arquitetura e do interesse que tinha pela experiência da Bauhaus. Na verdade, somente a partir de um ciclo de exposições realizadas no Centro Pompidou, iniciado em 1977, como Paris-Nova Iorque, Paris-Berlim e Paris-Moscou, é que fui descobrir os grupos de vanguarda dessas três capitais da arte. Até então, as referências da vanguarda para os brasileiros eram o Mondrian e o Max Bill, mesmo porque, do início dos anos 70, ainda não se falava em Malevitch ou Rodschenko por aqui. O fato é que, talvez por essa filiação a mim atribuída, quando fiz a minha primeira exposição na Galeria Paulo Figueiredo, em São Paulo, em 1983, fui apresentado como 'a mais jovem expressão do concretismo brasileiro'. Acho que a qualificação foi uma facilidade jornalística para me rotular. De qualquer modo, isso passou a me incomodar muito". [Entrevista com o artista plástico, por Antonio Fernando De Franceschi, Manfredo de Souzanetto/Esculturas, IMS/Instituto Moreira Salles, São Paulo, SP, Março de 2005]

 

 

Sem Título, Pigmento e Resina Acrílica Sob Tela de Linho, 150x150 cm, 1976,
Coleção Gilberto Chateaubriand, MAM/Rio de Janeiro/RJ
 
 
 
 

Manfredo de Souzanetto nasceu em 1947, na cidade de Jacinto, Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Morou em Belo Horizonte, MG, onde estudou na Escola Guignard e na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). No começo da década de 1970, participou do "Movimento Montanhista", logo nas suas primeiras exposições coletivas. Em 1972, integrou a XII Bienal Internacional de São Paulo. Em 1974, fez a sua primeira exposição individual, na Galeria do Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos, Belo Horizonte, MG, e no mesmo ano ganhou o 1o. Prêmio no V Salão Nacional de Arte Universitária, recebendo uma bolsa, viagem para Paris, França. Estudou na escola Louis Lumière e na École Nationale dês Beaux-Arts e foi artista residente no Musée de l'Abbaye Sainte-Croix. Ao voltar para o Brasil, retoma os estudos na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Entre as inúmeras exposições e mostras das quais participou, destacam-se o Panorama Atual da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, além de outras na França, Alemanha, Suíça e Inglaterra. Recebeu ao todo 19 prêmios, incluindo aquisições, bolsas de estudo e viagens ao exterior. Seus trabalhos são encontrados nos acervos de vários museus, fundações e coleções particulares do Brasil e exterior. Tem obras no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, Museu de Arte Moderna (SP), Museu de Arte de Israel, Brazilian American Cultural Center of Whashington, EUA, entre outros.