— Não... eu não tava
ligando muito.
—
Eu não tava ligando nada. Pra mais nada.
—
Claro que conheço, é minha mulher.
—
Não... não casamos porque ela nunca quis.
—
Só quebrei tudo.
—
Quebrando.
—
Chutando, jogando pra cima, batendo os troço uns nos
otro.
—
Que que tem ela...
—
Não fiz nada demais.
—
Não fiz nada disto.
—
Foi ela que começou. Eu quebrei as coisa por causa
dela.
—
Ela não prestava mesmo.
—
Vagabunda.
—
Tá de rolo com o cara da esquina.
—
Não. Nunca vi.
—
Me contaram.
—
Um cara me contou.
—
Mora lá perto de casa.
—
É amigo meu.
—
Faz tempo que não vejo.
—
É. É esse o nome dele.
—
Foi preso?
—
Por quê?
—
Banco? Ele não é de Banco. Só coisa pequena.
Nunca soube que ele fez Banco antes.
—
Só gosta de coisa sem risco.
—
Por que "gostava"?
—
... pegaram ele no pulo... seus putos...
—
Não adianta me bater... o que eu sabia já disse...
—
Que que tem ela? Não tenho mais nada pra dizer sobre
ela. Pra mim ela já tá morta.
—
Mas como? Quando eu saí, ela ainda tava respirando,
ela tava se arrastando para o fundo do quintal, perto da casa
do cachorro.
—
Chutando. Um pouco foi chute e um pouco um pedaço de
pau.
—
Da cerca.
—
Já disse! Ela tava de rolo com o cara da esquina.
—
Nunca vi.
—
Não.
—
Não!
—
Não...
—
Na cabeça dela nunca bati.
—
Já disse! Na cabeça não!
—
Sei lá. Ela vivia caindo da escada.
—
Que ia pro quintal, perto do tanque de lavar roupa.
—
Não sei mais nada dele.
—
Não sei o nome dele. Só que mora na esquina.
Toca um táxi.
—
Mas não sei mais nada, este troço do táxi
todo mundo sabia. Até vocês deviam de saber.
—
Pode bater. Bata mais...
—
Não vai adiantar nada. Não sei mais nada.
—
Não fui eu que matou ele eu juro!
—
Comé que é?
—
Claro que tinham falado.
—
Cês pensam queu sô bobo? Se vocês não
me contaram, comé que eu sabia que ele tava morto?
—
Mas não fui eu!
—
Não digo mais nada. Quero meu advogado. Ele vai ferrar
vocês.
—
Não assino nada.
—
Não!
—
Aquela menina era uma vadia!
—
Nunca nem cheguei perto dela.
—
Morava nos fundo da vizinha.
—
Vivia pelada no quintal.
—
Não, pelada pelada não, mas com aqueles biquíni
pequeno, tomando banho de sol. Dizia que queria ficar bonita...
bronzeada... que ia ganhar um negócio... prêmio
não sei o quê no Carnaval.
—
Um baile não sei aonde.
—
Pô meu, ela vivia na cerca, se esfregando...
—
...pedindo coisa, receita... o quê?
—
Não. Nunca saí com ela.
—
De onde saiu esta foto?
—
Quem tirou esta foto, porra.
—
É. É ela.
—
Mas também não fui eu que matô ela.
...
—
Pode bater que eu não ligo...