©ian
mckinnell
Galáxias,
de
Haroldo de Campos, novas em folha
27.07.2004
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Acaba
de ser lançada, pela editora 34, a nova edição das Galáxias,
chamado livro de ensaios, de Haroldo de Campos. Acompanha o CD
Isto não é um livro de viagens, com leituras do próprio poeta. É
uma oportunidade muito boa para todo aquele que ainda não conheceu o livro
(ou não-livro, ou deslivro, ou relivro), fora de catálogo há muito — assim
como o Xadrez de Estrelas (que incluía as Galáxias), da
Perspectiva, definidor do percurso textual de Campos de 1949 a 1974,
depois complementado com Crisantempo, também da Perspectiva, de
1998, e A Máquina do Mundo Repensada, da Ateliê
Editorial.
As
Galáxias ganham, portanto, o sentido de uma primeira visão
retrospectiva da obra de Haroldo de Campos — falecido neste ano —, que é a
visão de quando relemos uma obra então concluída, estabelecendo nova
relação entre ela e os demais livros do mesmo autor (e depois, com livros
de outros poetas, etc.).
E
Galáxias tem o meu voto dentre o que escreveu Campos porque já não
está preso às convenções de escola do concretismo — que teve sua
importância histórica, mas era, como toda orientação escolar, bastante
restritivo —; é formalmente muito intrigante, por ser prosa e música
(ouvir a ótima versão de "circuladô" de Caetano Veloso, ou o
acompanhamento de sítar de Alberto Marsicano) ao mesmo tempo em que é e
não é livro de viagens; engloba o universo de referências do poeta, p.e.:
James Joyce (principalmente o de Finnegans Wake), Ezra Pound
(principalmente seu paideuma, ou os punti luminosi),
Stéphane Mallarmé (na concepção de livro como cosmologia), a idéia do
“neobarroco”; o repassar do imaginário de Haroldo de Campos, como, por
exemplo, um dos meus trechos prediletos "multitudinous seas incarnadine o
oceano oco e regougo a proa abrindo um" ecoa e condensa "thálassa
thálassa"; não tem os desníveis da boa recolha de Crisantempo, nem
sofre as limitações de uma forma antiga como A Máquina; etc. Um
livro importante, que ganha uma bela edição nova.
Outro
Lançamento que se Deve Mencionar
20.07.2004
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Antologia Pornográfica, de Gregório de Mattos a Glauco
Mattoso
(org. Alexei Bueno),
Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2004.
Respiro
10.07.2004
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O
filme italiano, como bem lembra meu amigo João Vieira, recorda por vezes
(na figura de Filippo, por exemplo) o neorealismo da década de 50. De
certa forma, Lampedusa parece um lugar fora do tempo, poderíamos pensar
"saudavelmente", mas o diretor Emanuele Crialese não é um saudosista ou um
discípulo de Rousseau — como a gente acaba vendo vez por outra — e foge
dessas simplificações. A personagem da sempre ótima Valeria Golino vive
nesse indiscutível paraíso, que é ao mesmo tempo uma prisão — a rotina,
como nós bem sabemos, é sempre ameaçada por quem é sensual, sonhador, ou
simplesmente não se encaixa. A personagem de Valeria Golino é as três
coisas; o filme que surge disso não é, por incrível que pareça,
sentimental, mas apresenta certa crueza física e psicológica.
Não é à toa, portanto, que, paradoxalmente, a sensação mais freqüente de "respiro" que sentimos durante o filme seja quando os personagens imergem naquele mar verde-azulado, translúcido. Muito curioso, mesmo. E irremediavelmente bonito.
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