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04.09.2004 | Memória Jornalística: Um texto de Franz von Stuck para o jornal Fliegende Blätter (para a consideração do leitor, em face de alguns argumentos esdrúxulos que costumam lhe apresentar)
 
Houve o movimento artístico, no fim do século XIX e começo do XX, chamado Secessão vienense, que ficou célebre porque tem um pintor célebre até hoje, com recorde de vendas de seus pôsteres nos museus, junto com Van Gogh, os impressionistas e Picasso: Gustav Klimt. Embora a Secessão não tivesse muito êxito em países latinos ou de língua inglesa, pegou, até certo ponto, na Alemanha, que teve também a sua Secessão (secessão do academicismo estéril da época).
 
Por que toda essa história? Porque apresento abaixo um texto de Franz von Stuck, o mais destacado alemão secessionista, professor de Wassily Kandinsky e Paul Klee. Não podemos compará-lo com a inventividade e a importância de Klimt, mas, ainda assim, foi um dos mestres que levaram à abstração e ao chamado expressionismo. E, além do mais, esse texto é uma pequena pérola contra a avassaladora inimiga dos nossos tempos, a divina e preclara Ignorância. A ele:
 
A    MÁQUINA   DE   PINTURA
 
        Uma invenção de enorme importância foi recentemente patenteada nesta cidade — uma máquina de pintura. O inventor é um pintor, que preferiu o anonimato para ficar a salvo da vingança de seus colegas. A máquina é capaz de produzir pinturas de qualquer estilo numa mínima fração de tempo. Nos casos específicos de urgência, podem ser providenciadas enquanto se aguarda.
        Para encomendar, é meramente preciso dar o nome do pintor e o motivo. Retratos podem ser encomendados por carta, telegrama ou telefone. A máquina vai preencher galerias inteiras com velhos e novos mestres, brotando às dúzias. O dono é um marchand que adquiriu todos os direitos do inventor por 100 marcos1.
        Um distinto crítico de arte opera a máquina, porque tal sujeito sabe o que faz uma boa tela e o que os exigentes mestres devem pintar. Novos movimentos são prontamente rejeitados, o que significa que a maior fonte de embaraços para crítica e público está eliminada de uma vez por todas. O público nunca mais será enganado — agora se sabe, com antecedência, o que pensar sobre qualquer pintura. A eterna lamúria dos marchands de que não há pinturas disponíveis também vai acabar, pois os pintores são completamente supérfluos agora, e serão usados, no mais, para assinar as telas. Em vista desses fatos chocantes, podemos apenas aconselhar aos pobres pintores que passem à escultura, já que uma máquina para isso — pelo menos até agora — ainda não foi inventada.
 
Franz von Stuck
(acompanhado de caricatura para o jornal Fliegende Blätter, 1888)
 
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1Conversão para o euro indisponível no momento.
 
 
01.09.2004 | Graciosa notícia velha: Muito barulho por nada
 
Le Figaro, o jornal francês (17 de Abril de 2000), nos traz a notícia fundamental de que Shakespeare era, segundo recente e exaustiva pesquisa de um crítico siciliano, um  ragazzo chiamatto Michelangelo Florio Crollalanza (il Shakespeare). Nato a Messina, etc.
 
Evidentemente, a leitura de to be or not to be se enriqueceu com outras possibilidades de cinco séculos para cá.
 
Há uma versão que agrada particularmente aos franceses, a que afirma Shakespeare como transposição sonora de Jacques Pierre, lido assim como o faria um francês (sabe-se lá se de Paris, do Midi) no século XVII;
 
Ou aquela que é cara aos filósofos, reveladora de um problema ontológico no sentido de indicar Shakespeare como outro nome para Francis Bacon;
 
Devemos recordar também a semelhante, por tratar de assuntos sobre a personalidade, não menos notória e esclarecida, de autoria de Harold Bloom, vitrine do cânone de florilégio, dizendo que cada um de nós hoje é um personagem shakespeareano;

 

Enfim, Olivier Delcroix, do Figaro, se recorda com muita propriedade: Khadafi já nos explicou a todos sobre a origem do dramaturgo misterioso, e essas pesquisas são portanto inúteis. Inúteis? É, inúteis. Seu verdadeiro nome? Cheik-al-Sepir.