©milo manara
 
 
 
 
 
 
 

02.09.04 | X-Statix, uma HQ de super-heróis. Ou não.

 

Enquanto eu escrevo, é possível que a série X-Statix (antes X-Force), da Marvel Comics, já tenha se encerrado, se é verdade que o número 26 será o último.

 

Peter Milligan (roteiro) e Michael Allred (arte) desenvolveram uma HQ única, parte da linhagem mais importante do gênero, que teve seu marco anterior em 1986, com Watchmen, de Allan Moore e Dave Gibbons. Nele, Moore criou heróis que se envolviam numa malha narrativa complexa, com diversos narradores mesclando-se em importantes tramas separadas que convergiam para um único ponto, amarrado por Rorschach, que investigava o assassinato aparentemente programático de vigilantes. Moore então alinhavou diversos gêneros: policial, terror, drama, comédia (até mesmo uma história de piratas, através de um gibi que um moleque lê numa banca).

 

Milligan e Allred puseram outros nós nessa corda: enquanto Watchmen inseria os personagens num roteiro de aspecto sombrio, onde os antes virtuosos e invencíveis super-heróis submergiam como que num pesadelo histórico, X-Statix na verdade é cínico em relação a qualquer pretensão de seriedade dramática. Os protagonistas, uma equipe de mutantes empregada por um trilionário para resolver conflitos domésticos ou preferencialmente no Terceiro Mundo, têm uma vida glamourosa, são famosos e ricos (o contrário da tese de sucesso dos  X-Men, mutantes que sofrem o preconceito daqueles por quem se arriscam) e  têm altíssima taxa de mortalidade em seus quadros.

 

É o que dá a base para um roteiro que atacou diretamente a política externa de George Bush, o desespero pela fama, o aparato midiático que transforma tudo em espetáculo, todos os clichês de histórias de super-heróis, a correção política (na verdade, sentimento de culpa) em relação às chamadas minorias, a ambigüidade do típico WASP ou redneck norte-americano, ironizou impiedosamente personalidades do show business (Larry King, Britney Spears, Burt Reynolds, as boysbands, etc) e assim por diante. Para isso, o roteiro extremamente malicioso de Milligan e o já famoso desenho retrô de Allred (de Madman), que mistura pop art, Jack Kirby e Love & Rockets.

 

A Panini, que detém os direitos de publicação da Marvel no Brasil vem editando a série com relativo atraso e de um jeito meio irregular em X-Men Extra. De qualquer forma, uma série memorável.

 

 

03.09.04 | Truffaut & Fellini em São Paulo

(e como estamos gratos por isso ter acontecido)

 

Subitamente, algo aconteceu e tivemos uma sorte enorme. Em uma semana, o Cinecesc abriu uma mostra com nada menos que 20 filmes de François Truffaut (juntamente com a reedição do obrigatório livro de entrevistas Hitchcock/Truffaut pela Cia. das Letras, neste 2004 em que lembramos os 20 anos da morte do diretor francês) ao preço extremamente humanista de R$4,00 a sessão, e, na semana seguinte, o Centro Cultural Banco do Brasil passou uma também representativa mostra de Federico Fellini (incluindo Satyricon, Fellini 8½, Amarcord, etc.)

 

Duas filmografias daquela dezena indispensável para qualquer um interessado no assunto cinema. Eu quase diria que isso tem um sentido educacional, paidêutico.

 

 

05.09.04 | Rock, still alive and kickin'

 

Não comemoramos os 50 anos do rock como se fizéssemos uma última reverência a um estilo moribundo: permanece o frescor inicial. É o que se percebe com bandas como  The White Stripes, Radiohead, The Hives,  Interpol, The Strokes; ou a ótima forma em que se encontram o REM, ou Morrissey, etc.