11.11.2004 | Breve entrevista
com Flávia Rocha, co-fundadora (com Steven Richter da Academia
Internacional de Cinema de Curitiba)
1) Como estão estruturados os cursos da Academia
Internacional de Cinema de Curitiba
(AICC)? Temos
dois programas centrais dentro da AICC: o programa de
cinema, com duração de dois anos, e o programa de formação de atores, em
parceria com a escola paulistana Câmera, Ação!, em 3 semestres. O
programa de cinema está dividido em dois anos, ou quatro
semestres: Programa
Anual: FilmWorks (em que o aluno passa por todas as áreas, de
roteiro a pós-produção), Craft (em que escolhe uma área de
concentração, entre Roteiro, Direção, Fotografia, Documentário e Edição).
A carga horária desses cursos são de aproximadamente 100 horas por semana,
entre aulas propriamente ditas, laboratórios e exercícios.
Segundo
Ano Avançado (o aluno trabalha na produtora-escola da AICC, a L1
Films, dentro da sua área de concentração). Entre outros trabalhos, o
segundo ano é dedicado à realização de Tese, um filme voltado para
o mercado, seja para festivais, piloto de TV, filme institucional,
documentário, o que o aluno tiver vontade de desenvolver. Como produtora,
trabalharemos com os mecanismos disponíveis de captação de recursos, e
realizando co-produções com produtoras estrangeiras.
Além
do curso principal de cinema, temos diversos cursos modulares durante
todo o ano, com temas específicos, como Roteiro, Vídeo
Instalação, Direção de Arte, Introdução à Câmera,
Edição em Final Cut Pro, entre muitos outros; e cursos teóricos,
como História do Cinema Brasileiro, Cinema Alternativo
Contemporâneo, e até um curso inteiro sobre Fellini (com uma teórica
italiana, de Turim), só para citar um exemplo. Temos
também uma parceria com a Academia Internacional de Música Eletrônica
de Curitiba, a AIMEC, a primeira escola de música eletrônica no
Brasil, para a formação de djs. Fica dentro das nossas instalações, e
também engloba a área de cinema da AICC, incluindo mixagem,
composição de trilhas sonoras, dublagem, etc.
É
uma escola com ênfase na prática, mas também temos uma boa carga
teórica, fundamental na formação de qualquer cineasta. Dentro do curso, o
aluno tem aulas de teoria e linguagem do cinema, análise comparada em
todas as áreas, e um curso entitulado Imagem em Contexto,
voltado a análise e entendimento da imagem, explorando a
criatividade.
Estamos
fundando, juntamente com a escola, uma produtora de cinema, que produzirá
filmes de alunos, professores, e outros projetos de interesse da escola.
Nesse campo, já fizemos uma parceria com a produtora
americana Rattapallax Films, a divisão de cinema da
Rattapallax Press, cuja principal publicação é a revista literária
de que sou uma das editoras. A Rattapallax Films está no segundo
documentário, sempre com temas sociais, políticos e literários. Fizemos um
em Gana, na África, que está em fase de pós-produção, e acabamos de rodar
um no Chile, que tem a ver com o Centenário de Neruda. Também temos alguns
outros projetos de curtas e longas, documentais e ficcionais, já em
fase de fomentação, e que vão envolver os alunos. 4)
Fale um pouco da importância da Academia. Não
existe nada parecido com a AICC no Brasil. Hoje, quem quer estudar
cinema, tem de enfrentar vestibulares concorridíssimos, e, ainda
assim, alguns cursos deixam a desejar, ou carecem de
recursos. No modelo que estamos propondo o aluno aprende na prática,
fazendo. Nesse sentido, é muito parecido com as escolas
americanas e com a famosa escola de Cuba, mas difere de certa forma em
filosofia (assumimos a posição de uma escola no estilo de um conservatório
de artes) e difere de outras escolas em geral principalmente no segundo
ano, quando os alunos passam a participar diretamente dos projetos da
produtora de cinema fundada pela AICC. É um projeto inovador sob
vários pontos de vista, e bastante experimental. Existe uma demanda para
esse tipo de educação no Brasil, que envolve arte e tecnologia, técnica e
talento. Estamos pouco acostumados a investir em talento — é um
investimento de risco, claro, mas o retorno pode vir a ser imenso,
socialmente e mesmo financeiramente falando. O cinema está
rapidamente começando a adquirir as características de uma
indústria. 5)
Quando começam os cursos, quais os preços e qual é o endereço aí em
Curitiba? As
inscrições estão abertas para 2005: Programa
Intensivo, com aulas de 10 de janeiro a 4 de fevereiro, de segunda a
sexta, de 9h às 16h, R$750. Programa
Anual (FilmWorks e Craft), início das aulas dia 14 de
fevereiro, segunda a sexta, das 8 às 12h ou das 19h às 23h. Mensalidade:
R$680. Cursos
Modulares (Lista de Cursos para o ano que vem será lançada no site em
breve. Alguns cursos intensivos de fim-de-semana estão acontecendo ainda
em novembro, como o Workshop de Videoclipe e o Workshop de
Edição em Final Cut Pro 4.5) Endereço: Academia Internacional de Cinema de Curitiba, Av. Engenheiro Rebouças, 1607. Tel.: 41-332-2684. www.aicccinema.com.br / email: info@aicccinema.com.br 09.11.2004 | Verba para cultura
O
programa Vitrine, da TV Cultura, abordou um dia desses a
dotação orçamentária federal para a cultura, que vem crescendo nestes anos
(e começou a finalmente ser assumida como assunto de Estado, não apenas
reservada a leis de incentivo), mas que ainda não chega ao mínimo de 1%
sugerido pela UNESCO. Outro problema sério é que cultura praticamente coincide com teatro, cinema e música, com uma ou outra concessão para artes plásticas e praticamente NADA para literatura. É evidente a necessidade de se modificar esse paradigma para contemplar grandes projetos plásticos e literários, com concessão de bolsas para escritores e artistas plásticos, ampliação e manutenção de bibliotecas públicas, etc. Ou
seja, não só é fundamental ampliar o investimento, como também
diversificar esse investimento para o resultado ser expressivo de um modo
geral sobre a cultura. 03.11.2004 | De como Hitler chegou ao poder e o manteve
Costumam
fazer uma pergunta que se transformou, pela insistência com que é feita,
num clichê (ver o verbete "Clichê" na página do Thesaurus). A pergunta é a
seguinte: "Como é possível Adolph Hitler ter chegado ao poder e, pior,
como pôde mantê-lo, cometendo todos aqueles crimes, num país que havia
assistido à República de Weimar, etc?". Alguns dizem que o desemprego e a
pobreza explicam em parte o fascínio do público diante de um "líder",
digamos, "forte"; alguns acrescentam que havia um apelo anticapitalista;
outros dizem que a culpa teria sido da própria República de Weimar; e
chegam mesmo a investigar a propaganda e a psicologia de
massas. A
resposta não parecia muito simples, é claro, dada a renitência que
costumamos demonstrar frente à aceitação desse lado sinistro dos seres
humanos. Um bom exemplo disso é o filme sobre os últimos dias de Hitler,
que estreou há pouco na Alemanha com o magnífico Bruno Ganz no papel
principal: as pessoas foram assistir e muitas saíam chocadas com o fato de
que o diretor tenha apresentado Hitler como, segundo elas, "um ser
humano". Obviamente, não aceitaríamos que fosse apresentado como nada
menos do que um monstro infernal, não é? Chegamos
ao ponto. Se
muitos de nós, humanos, não conseguimos (ou não admitimos) conceber o que
houve na década de 30 e 40 do século passado, não em termos de História
factual, mas de uma catástrofe mundial capitaneada por decisões humanas e
seres humanos, temos uma oportunidade infeliz para observar de novo, com o
intuito específico de aprendizado: estamos assistindo atualmente a uma
manutenção de poder que assusta o mundo, porque demonstra o quanto somos
capazes de acreditar que o único modo de governo e defesa é a truculência,
o preconceito, o desrespeito às liberdades civis, aos acordos diplomáticos
internacionais e ambientais. Os resultados não devem chegar a ser
numericamente, nos próximos quatro anos, tão alarmantes quanto os de
Hitler, mas a catástrofe política, humana e ambiental já foi posta em
curso acelerado nos quatro últimos anos. Mais uma vez (quantas mais?)
estaremos diante de um espetáculo diário de estupidez
humana. Observem, meus caros: será doloroso, mas pode ser educativo — se ainda não bastou o que já tivemos até agora. |