Os textos reunidos neste livro, mesmo os mais curtos, são histórias completas. Ou talvez fosse mais exato dizer que são gestos completos de linguagem, dotados da extensão apenas necessária para que se patenteie o seu sentido e se perceba o corpo do qual procedem e que os dinamiza.
Não
obstante, o leitor logo perceberá que não tem
diante de si uma mera coletânea de contos e minicontos,
mas sim um conjunto significativo, dotado de uma secreta arquitetura,
que, sem prejuízo da autonomia de cada um deles, os reorganiza
e ressignifica como momentos autônomos de um desenho amplo,
cujo vetor e sentido só se percebem ao final da leitura.
A
coerência estilística também reforça
a unidade do conjunto: moldados com mão leve, mas de
grande firmeza, os vários textos aqui reunidos exibem
todos uma escrita precisa, que não faz alarde do trabalho
de depuração, nem exibição de pirotecnia
narrativa.
Contida
e elegante, a linguagem de Leila Guenther não é,
entretanto, despida de relevos e surpresas, que se manifestam
a cada passo, sob a superfície polida do fluxo narrativo.
Nesse universo minimalista, um torneio de frase, um advérbio
ou a escolha precisa de um vocábulo bastam para testemunhar
e trazer subitamente para primeiro plano a massa de energia
e os movimentos profundos que se cristalizaram, em seqüência,
nessas narrativas breves.
A sensibilidade ao mesmo tempo delicada e agônica, combinada à linguagem correta e ao tom confessional, faz assim de cada história desse livro um momento tenso, no qual a energia aparece contida, mas prestes a estalar os limites que o narrador aceita ou taticamente se prescreve. Como se cada uma delas fosse uma mola, imóvel porque presa por um fio.
© O Vôo Noturno das Galinhas, de Leila Guenther.
São Paulo: Ateliê Editorial, 2006. Quarta capa.
Avalanche
agosto, 2006
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