Violência é o
carrão parar no pé da gente e fechar a janela de vidro fumê e a gente
nem ter oportunidade de ver a cara do palhaço de gravata para não perder
a hora ele olha o tempo perdido no rolex dourado.
Violência
é a gente naquele sol e o cara dentro do ar-condicionado uma duas três
horas quatro esperando uma melhor oportunidade de a gente enfiar o
revólver na cara do cara plac.
Violência
é ele ficar assustado porque a gente é negro ou porque a gente chega
assim nervoso a ponto de bala bufando cuspindo gritando que ele passe a
carteira e passe o relógio enquanto as buzinas bufam
desesperadas.
Violência são essas buzinadas e essa fumaça e o
trânsito parado e o outro carro que não entende que se dependesse da
gente o roubo não demoraria essa eternidade atrapalhando o movimento da
cidade.
Violência é você pensar que tudo deu certo e nada
deu certo porque quando você vê tem um policial ali perto e outro
policial ali perto querendo salvar o patrimônio do bacana apontando para
a nossa cabeça um 38 e outro 38 à paisana.
Violência é acabarem com a nossa esperança de chegar
lá no barraco e beijar as crianças e ligar a televisão e vê aquela mesma
discussão ladrão que rouba ladrão a aprovação do mínimo ficou para a
próxima semana.
Violência é a gente ficar com a mão levantada cabeça
baixa em frente à multidão e depois entrar no camburão roxo de
humilhação e pancada e chegar na delegacia e o cara puxar a nossa ficha
corrida e dizer que vai acabar outra vez com a nossa
vida.
Violência é a gente receber tapa na cara e na bunda
quando socam a gente naquela cela imunda cheia de gente e mais gente e
mais gente e mais gente pensando como seria bom ter um carrão do ano e
aquele relógio rolex mas isso fica para um outro dia.
Esquece.