Rodrigo Leão – Rodrigo Capella, como é publicar um livro com apenas 16 anos?

Rodrigo Capella - Tem um sabor especial por ter sido o meu primeiro livro, sem dúvida, mas não é uma coisa do outro mundo. Eu já tinha lido bastante, escrevia bastante e convivia com outros escritores, que me deram várias dicas. De maneira geral, publicar aos 16 é igual publicar aos 26. A diferença é que quando você tem 26, os críticos literários cobram mais, analisam por um outro ângulo e são mais criteriosos ao dar as famosas "estrelas" de avaliação da obra. No mais, é tudo igual.



RL - O que mudou como escritor desde o primeiro livro?


RC -
Descobri que as minhas obras poderiam interessar às pessoas. Recebo, diariamente, vários e-mails de leitores, que perguntam sobre algum detalhe dos livros ou propõem temas para os próximos lançamentos. É um momento bem prazeroso. Meu último livro, por exemplo, Poesia não vende, surgiu de uma sugestão de um leitor. Tenho um blogue — Poemas e delírios do Rodrigo Capella — no qual publico poemas. Um dia, um leitor me perguntou por que eu ainda não havia publicado um livro de poesia. Respondi que estava nos meus planos e realmente estava, mas não tinha intenção de publicar naquele momento. Por causa da sugestão do leitor, modifiquei os planos, estruturei o Poesia não vende e antecipamos a publicação. O escritor tem de estar a serviço do leitor e publicar coisas que realmente interessam a quem vai ler.



RL - Você é poeta e prosador. Em qual gênero se considera mais a vontade?

RC - No gênero imaginativo, no caso, os dois. A poesia, como diz Moacyr Scliar, é a síntese; a prosa é a análise. O escritor precisa estar apto a desenvolver os dois, seja de forma separada ou conjunta. O escritor que se acomoda, se perde no tempo. Atualmente, não existe apenas escritor de prosa ou de poesia, existe escritor.

 

 

RL - Você tem um livro com depoimentos de artistas sobre poesia. Qual a conclusão que tirou?


RC -
Que a poesia precisa ser valorizada em sua forma bruta, ou seja, sem associação com as outras artes, tais como cinema, teatro, música e pintura. Para tanto, sugiro a utilização do conceito de letramento nas escolas. O que é isso? A partir de um verso, o aluno escreve uma redação, faz uma apresentação teatral ou desempenha alguma atividade. Uma outra proposta que defendo é a visita às editoras, que acontece com pouca freqüência. Ela deve ser ampliada e estendida às editoras que publicam poesia. Os alunos devem conhecer todo processo, pois somente dessa forma é que vão tomar gosto pela poesia.



RL - Quem é o escritor brasileiro? Como vive?


RC -
O escritor atual é um generalista, dominador da poesia e da prosa, em suas várias formas e vertentes. Precisa dominar tanto o conto quanto a biografia, passando pela poesia e pelo romance policial. O escritor vive à procura de diferencias, de momentos, de insights. O livro Como mimar seu cão, que eu publiquei em 2005, é um exemplo disso. Lancei uma obra pra homenagear o Brutus, meu yorkshire.

 

 

RL - Você também é jornalista. O que o jornalismo empresta ao escritor?


RC -
A habilidade da escrita, técnicas de comunicação e um diálogo melhor com o público, condensando as informações de uma maneira precisa e dinâmica. O escritor-jornalista — ou, em alguns casos, jornalista-escritor — tem uma sensibilidade bem apurada para selecionar os assuntos de interesse público.



RL - Como é ter um livro que vai virar filme?


RC -
Sensação única e intensa, ora magnífica, ora esplêndida. Não há como defini-la corretamente com palavras, apenas por gestos e sentimentos. Compararia ao nascimento de um filho, se eu tivesse um.



RL - Qual conselho daria para um jovem escritor de 16 anos?


RC -
Procure um verso novo em um poema antigo e busque fazer algo diferente todos os dias, mas nunca se esqueça de bater a cabeça na parede e retirar por completo as pedras de nossos rins.



RL - Com quantas metáforas se faz um poema?


RC -
Taí uma questão que nem o Freud conseguiria responder. Talvez o Shakespeare pudesse, ou ainda a saudosa Hilda Hilst. Para respondê-la é preciso ter marcado época, ser a própria época em versos e registros. Sou um poeta-aprendiz em fase de consolidação e sem condições de responder a essa questão.



RL - Em qual dos seus livros você está mais pleno?


RC -
O que acha dos que dizem que um escritor só está maduro depois dos 40 anos? Em breve, vamos lançar Rir ou chorar: o cinema de sentimentos, pela Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial. Talvez, eu esteja mais pleno nesse livro, talvez não. A plenitude vem de um contexto técnico-criativo e termina com a aprovação do público. Sem dúvida, escritores com mais de 40 anos têm técnica e escrita bem apuradas, mas os jovens também precisam ser reconhecidos. Há muita gente boa, por exemplo, escondida atrás dos blogues.



RL - Tem algum mote?


RC -
Todo poeta tem uma missão, a minha é popularizar e valorizar a poesia. Faço isso diariamente, nos versos e na fala, nas conversas e nas atitudes. Sou uma amante da poesia e uma apaixonado por seus horizontes, uns perto, outros muito distantes de meu olhar.



RL - Qual o papel do escritor na sociedade?


RC -
Viabilizar programas de incentivo à leitura, protagonizar revoluções literárias e oferecer-se para as transformações no mundo da escrita. O escritor é e precisa ser um instrumento da melhoria da educação e da poetização de nosso país.

 

 

 
 
abril, 2007
 
 
 
 
 
 
Rodrigo Capella. Escritor, poeta e jornalista, tem pós-graduação em comunicação jornalística pela PUC. Publicou Enigmas e passaportes (Forever Editora, 1977); Transroca, o navio proibido (Editora Zouk, 2005), que vai ser adaptado para o cinema pelo diretor Ricardo Zimmer; Como mimar seu cão (Editora Zouk, 2005) e Poesia não vende (Autores Independentes, 2007), com depoimentos de Moacyr Scliar, Bárbara Paz e Ivan Lins, entre outros. Participou de várias antologias. Atualmente, escreve para revistas, jornais e sites. Seu site: www.rodrigocapella.com.br.
 

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> Conto

 
 

Rodrigo de Souza Leão (Rio de Janeiro, 1965), jornalista. É autor do livro de poemas Há Flores na Pele, entre outros. Participou da antologia Na Virada do Século — Poesia de Invenção no Brasil (Landy, 2002). Co-editor da Zunái — Revista de Poesia & Debates. Edita os blogues Lowcura e Pesa-Nervos. Mais na Germina.