No final dos anos 1950,
pontificava no jornalismo literário brasileiro uma figura ímpar: o poeta
Mário Faustino, nascido no Piauí, e que antes dos 30 anos, além de uma
invejável cultura (sabia grego, latim e outras línguas), havia escrito
um livro que emocionou minha geração — O homem e sua
hora.
A par de uma poesia de
qualidade incontestável, seus versos, porém, pareciam vaticinar uma
tragédia iminente e aérea. Foi o que aconteceu em 1962, quando o avião
em que viajava caiu cinco minutos antes de chegar ao Aeroporto de Lima,
no Peru, em Cerro de los Cruzes.
Morria então uma das
maiores promessas da crítica e da poesia brasileira. Faustino brilhou
nos tempos do "SDJB - Suplemento Dominical do Jornal do Brasil", ao lado
da geração concretista, com estudos e traduções magistrais de Mallarmé,
Pound, Eliot, Kafka e outros mestres do século XX, na época ainda não
muito conhecidos no Brasil.
Seu argúcia crítica
antenou jovens como eu que procuravam nas páginas do Suplemento uma
palavra de orientação frente as novidades de violentação do verso e as
mudanças que anunciavam uma nova arte. E sua poesia — no início, de
linha melódico-discursiva, porém consciente da matéria a produzir —
aprimorou-se nas conquistas da linguagem poética, apontando sempre para
o futuro.
A professora Maria
Eugênia Boaventura, através da Companhia das Letras, iniciou há algum
tempo a publicação de sua obra com a edição deste magnífico O homem e
sua hora e outros poemas. Ali o leitor poderá conhecer também vários
inéditos de Mário Faustino, e, como eu, maravilhar-se com a diferente,
bela e inovadora música dos seus versos, como neste final premonitório
contido no poema "Romance" (p. 81):
"Não morri de mala
sorte
morri de amor pela
morte".
Ou nos últimos versos do
primeiro poema da coletânea, denominado "Prefácio" (p. 71), em que
Faustino dá o tom do livro e ao mesmo tempo vaticina, sempre perseguindo
o ideal de "poesia e vida minha seguirão
paralelas":
"Quem fez esta manhã
fê-la por ser
um raio a fecundá-la,
não por lívida
ausência sem pecado e
fê-la ter
em si princípio e fim:
ter entre aurora
e
meio-dia um homem e sua hora".
junho,
2005
Joaquim Branco, poeta,
crítico, professor das Faculdades Integradas de Cataguases (MG), doutorando
em Literatura Comparada na UERJ. Autor, entre outros livros, de O
caça-palavras (poemas) e O menino que procurava o
reino da poesia (ficção infanto-juvenil). Mais aqui.