Tendo acompanhado a
revista Sibila desde o seu começo, no já longínquo 2001, em
quase todos os seus números, e em vista do balanço que a própria revista
fez em seu último número (Ano 4, n° 6 – 2004), tenho o prazer de fazer
eu também um pequeno balanço pessoal da revista, quando ela está a
completar seu quinto ano de vida.
Devo dizer que o que me
agradou particularmente, na proposta inicial, foram justamente duas
posições fundamentais expostas no editorial do número zero: o
compromisso com a diferença, o "único modo de fundar uma
identidade" e a proposta da arte e da crítica como "provocação
não agressiva". Terá sabido a revista implementar essas
propostas?
A luta em prol da
diferença (é, como se sabe, a luta por nossa própria sobrevivência):
nesse ponto Sibila tem sido exemplar. (Vide considerações
abaixo.)
Quanto, particularmente, à
crítica como provocação, as posições de Sibila, num país em que
a crítica é logo tida como ofensa, não têm sido apenas
bem-vindas, mas literalmente necessárias, mesmo que, em alguns
casos a provocação não tenha podido se isentar de certa
agressividade.
"Não há novidade sem
História", dizia também o editorial fundador, e Sibila, não
esquecendo a História, tem procurado, entretanto, romper fronteiras
— barreiras, melhor dizendo — e tem
tentado fugir ao lugar comum na crítica e na criação, em busca, por
exemplo, de formas que escapem dos canonizados modernismos, concretismos
e tropicalismos, embora reconhecendo o impulso inovador que cada um
desses movimentos imprimiu à sua época.
Com isso em vista, tem
aceitado propostas inovadoras nos mais diferentes campos: contra a "easy
poetry", contra a falsa facilitação, contra o lugar-comum, contra a nova
ordem mundial de exceção, contra a supressão de direitos civis; a favor
do A.N.T.I. Cinema, da anti-globalização, a favor da poesia como
"uma notícia atual que ainda é notícia". Daí o espaço dado, entre
outros, a poetas de línguas minoritárias (como o próprio português!),
daí a seqüência de vozes femininas, daí a seção dos "Pares
Contemporâneos": vozes vindas dos diferentes países do mundo. Daí o
espaço dado à desbanalização da arte, daí a idéia de inovação
consistente, daí o resgate do passado, (veja-se a seção
Recuperações) enquanto fuga do esteticismo paralisado e
paralisante.
Muito bem,
Sibila! Continue na sua luta, que é a luta de todos os que
procuram pensar com a própria cabeça e de todos os que procuram
contribuir para a edificação de uma melhor identidade nacional,
como uma das poucas revistas brasileiras de poesia e cultura de nível
internacional. Conte com nossa torcida e nosso apoio.
(Carta enviada aos editores de Sibila, no
dia 13 de outubro de 2005,
reproduzida,
integralmente, com autorização da
autora)
dezembro,
2005
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Aurora Fornoni
Bernardini é professora na
USP de pós-graduação em Literatura Russa, Teoria Literária e
Literatura Comparada. Tem-se dedicado à tradução (de já aproximadamente
cinqüenta obras de autores russos e italianos, em sua maioria) à
ensaística e a ministrar cursos. Recentemente, entregou à Martins
Editora o livro Marina Tsvetáieva: indícios
flutuantes, com mais de cinqüenta poemas da poeta, traduzidos
para o português; à EDUEL a tradução do livro de Paolo Rossi sobre
Francis Bacon, Da Magia à Ciência e à
EDUSP, A Escada de Wittgenstein, de Marjorie
Perloff, em co-tradução com Elizabeth Rocha Leite e Os Diários
de Serguéi Eisenstein e outros ensaios de V.V. Ivanov, em
co-tradução com Noé Silva. De importante, ultimamente, publicou
com Homero Freitas de Andrade, Cartas a Suvórin, de A
.P. Tchékhov e O Enxerto e o Homem, a
Besta e a Virtude, de Luigi Pirandello, ambos pela EDUSP e
entre os dez finalistas ao prêmio Jabuti 2003. Em 2004, juntamente com
Haroldo de Campos, ganhou o segundo prêmio Jabuti de tradução, pelo
livro Ungaretti — Daquela Estrela à Outra (org.
Lucia Wataghin) da Ateliê Editorial.
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